Nothing Is Lost: o documentário em que Ben Stiller reencontra os pais e a si mesmo

Ben Stiller sempre foi um artista movido pelo humor, mas também por um tipo particular de sensibilidade: a de quem cresceu vendo o mundo pelos bastidores, entre sets, palcos e a aura elétrica do showbusiness. Por isso não surpreende que seu documentário Stiller & Meara: Nothing Is Lost, um mergulho na vida de Jerry Stiller e Anne Meara, tenha tocado a crítica de maneira tão íntima. O filme foi recebido majoritariamente com elogios, com muitos críticos apontando justamente o que torna essa homenagem diferente — não é só um filho celebrando dois ícones da comédia americana, é um homem revisitando a própria formação emocional enquanto tenta entender os pais para também entender a si mesmo.

Há um consenso bonito entre os veículos mais importantes: é um filme doce, afetuoso e surpreendentemente comovente. The Guardian chamou o documentário de “um retrato terno e revelador”, destacando que, talvez sem perceber, Stiller criou também um autorretrato — o de um filho que cresceu tentando decifrar a complexidade da vida artística dos pais. Já o Los Angeles Times observa que o filme é “lindo e quase onírico”, cheio de memórias afetivas e pequenos fragmentos de intimidade familiar que se transformam em cena. A Rolling Stone vai na mesma direção, dizendo que Nothing Is Lost se equilibra entre homenagem e sessão de terapia, trazendo à tona as dificuldades de conciliar carreira e família, fama e presença.

A crítica também destaca a importância histórica da dupla. Jerry Stiller e Anne Meara não eram apenas pais famosos de Ben; eram uma instituição da comédia americana, parte de uma era em que casais no palco ainda eram novidade, e humor judeu e católico se misturava com naturalidade no cotidiano e no trabalho. Nesse ponto, o documentário funciona quase como uma cápsula histórica — registrando como eles moldaram não só uma estética de humor, mas também um modo de existir dentro da indústria. É um aceno carinhoso a uma época e, ao mesmo tempo, à fragilidade que existe por trás de toda trajetória artística.

Mas a recepção não é unânime. Algumas críticas menos entusiasmadas apontam que a estrutura do filme pode soar repetitiva, especialmente nas montagens de arquivos, e que o olhar de Stiller, por mais honesto que seja, não deixa de ser o de um filho — o que limita, por vezes, uma abordagem mais distante ou crítica da carreira dos pais. Há quem diga, inclusive, que no fim das contas o documentário fala tanto sobre Ben quanto sobre Jerry e Anne. E é verdade: há algo de inevitavelmente autorreferencial, como se o diretor estivesse tentando costurar um luto que não se cura com ordem cronológica nem com fita de arquivo.

Mesmo com essas ressalvas, a sensação predominante entre os críticos é que Stiller conseguiu algo raro: transformar uma história de família em um ensaio sobre amor, trabalho, ausência e legado. O filme fala sobre a glória e o preço de viver para o palco. E, sobretudo, sobre a impossibilidade de realmente separar quem somos do que fazemos — especialmente quando se cresce no centro de um furacão criativo que é também a própria casa.

É um documentário que abraça o sentimental, mas sem cair no piegas, e que se oferece como um retrato de época ao mesmo tempo em que se mantém como um gesto profundamente pessoal. Para quem cresceu com a sensação de que os pais estavam sempre em movimento, sempre entre uma apresentação e outra, Nothing Is Lost talvez seja a forma mais transparente de dizer: a memória é o que resta, e às vezes é na arte que finalmente encontramos aquilo que nunca foi dito em vida.


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