Problemas de Champagne: o romance natalino que realmente funciona

Quero ter “problemas de champagne”, ou, como traduz a Netflix, “borbulhas de amor”. Infelizmente, essa versão brasileira não é exata — e até limita um filme que, embora feito de fórmulas, é propositalmente açucarado, consciente do que entrega e do que o público procura em pleno final de ano. Ter um marido bonito, rico, intelectual e disponível? Sonho de Natal de muitas de nós. E numa fórmula de festas cada vez mais assumida pelas plataformas, os romances temáticos se multiplicam. São todos iguais? Claro que não — e é justamente aí que Champagne Problems encontra seu charme.

A produção estrelada por Minka Kelly não só se destaca como, sem surpresa, lidera o Top 10 mundial da Netflix, enquanto outros títulos sazonais tropeçam (Um Natal Ex-Pecial, por exemplo). “Tropeçar”, aqui, é quase figurativo: ninguém assiste a uma rom-com natalina esperando transformar o mundo. Mas o sorriso precisa vir de dentro, precisa ser aspiracional. E veja que, com toda a simplicidade e obviedade do mundo, Champagne Problems alcança esse objetivo sem recorrer a números musicais tradicionais, colagens clipadas, dramas gigantescos ou uma heroína excessivamente neurótica. Que delícia!

A trama, também, abraça esse espírito. Sydney Price (Minka Kelly) é uma executiva ambiciosa enviada à França para negociar a compra de uma casa de champagne clássica e familiar, a Chateau Cassell. Determinada a provar seu valor, ela chega à Cidade Luz às vésperas do Natal — e decide tirar uma única noite para respirar, passear, se deixar afetar pela atmosfera de dezembro. É aí que surge Henri (Tom Wozniczka), o parisiense encantador que parece saído diretamente da imaginação coletiva sobre romances natalinos. Eles têm uma noite perfeita, luminosa, quase cinematográfica… até ela descobrir, no dia seguinte, que Henri é justamente o filho do fundador da empresa que ela pretende adquirir.

O filme então equilibra encantamento e conflito, mas um conflito leve, quase espumante. A disputa entre compradores orquestrada por Hugo Cassell (Thibault de Montalembert) serve mais como cenário para a aproximação dos protagonistas do que como tensão real. A cada cena, fica claro que o filme não busca reviravoltas: ele quer construir uma fantasia afetiva, onde o amor é tão essencial quanto uma boa safra.

A crítica, curiosamente, reconhece isso. Muitos apontam que o filme abraça os clichês do gênero — e tudo bem. Não promete reinvenção e não pretende ser nada além de uma rom-com de Natal aérea, charmosa e bonita de assistir. The Guardian, Independent e Decider concordam: é previsível, doce, confortável, exatamente o que quem dá play está esperando. Os elogios recaem principalmente sobre os ambientes lindos, o clima francês irresistível, a direção que não tenta “enfeitar demais” e o elenco secundário eficiente. Sean Amsing, aliás, foi unanimidade entre críticos: rouba todas as cenas em que aparece. Já a química entre Kelly e Wozniczka é descrita como “agradável”, “aconchegante”, “sem fogos, mas com calor” — o que, honestamente, combina com o espírito do filme.

Os destaques ficam na combinação de visual francês deslumbrante, trilha sonora discreta, Minka Kelly totalmente entregue ao tipo de heroine that’s easy to root for, e, claro, o charme inevitável da premissa: quem nunca fantasiou viver um romance improvável enquanto tenta fazer o trabalho da vida? Além disso, o filme evita os extremos do gênero: nem drama demais, nem fofura exagerada. Tudo flui com leveza.

Concluindo: Champagne Problems não quer mudar sua vida — quer adoçar seu dia. Quer te dar Paris iluminada, vinhedos reluzentes, um amor improvável e uma protagonista que finalmente encontra espaço para respirar. É escapismo puro, elegante, sem culpa. E no meio de tantos títulos natalinos que parecem feitos em linha de produção, este aqui, ironicamente, brilha justamente por assumir sua fórmula… e fazê-la com capricho.

Se isso é ter “problemas de champagne”, eu aceito uma taça. Ou duas.


Descubra mais sobre

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Deixe um comentário