I Love LA — Episódio 4 Recap: quando a série tropeça na própria ambição (e mesmo assim já foi renovada)

Existe algo de quase perverso — e muito sintomático da nossa era — em ver uma série que ainda nem descobriu a própria personalidade garantir sem esforço uma segunda temporada. I Love L.A. mal engatinhou na sua primeira leva de episódios, especialmente agora, no quarto capítulo, que patina mais do que evolui, mas HBO já carimbou: continua. Talvez porque, mais do que originalidade, o que move esse tipo de projeto é a capacidade de capturar o zeitgeist de zillenials, influencers e gente que vive de performar a própria existência. Nesse ponto, pelo menos, Rachel Sennott já entendeu o jogo melhor que suas próprias personagens.

O episódio “Upstairses” se passa naquele microcosmo onde o sonho californiano vai para morrer: festas diurnas nas colinas de Hollywood, esse grande teatro de vaidade onde networking e desespero trocam olhares cúmplices sob luz solar cruel. Se I Love L.A. já vinha apostando que a vida online é uma performance interminável, aqui o subtexto vira texto: nada é espontâneo, nada é casual. Tudo é conteúdo. Tudo é transação.

Tallulah, Maia, Charlie e Alani chegam à festa organizada por Quen Blackwell — interpretando uma versão supersaturada de si mesma — e imediatamente entendem que não estão ali para se divertir, mas para sobreviver. Ou ascender. Ou, pelo menos, não afundar. Cada um quer alguma coisa, mas ninguém sabe ao certo o quê, e esse é justamente o problema fundamental da série: seus personagens existem num vazio tão recognizável que, por vezes, falta tensão dramática para que eles avancem de fato.

E, no entanto, é justamente Tallulah, sempre flutuando entre o charme natural e a preguiça profissional, quem finalmente encosta em algo parecido com profundidade. Quando Quen a separa do grupo e começa a perfurar seu verniz de “it girl em ascensão” com perguntas que soam mais como advertências — “O que você quer ser? Quem conseguiu essa bolsa, você ou o algoritmo?” — a menina desmorona silenciosamente. Não é apenas insegurança, é quase luto por uma versão idealizada de si mesma que ela nunca teve certeza de ser.

Quando Tallulah é engolida pelo estúdio de criação de Quen — um templo de ring lights, takes infinitos e uma “fazenda de cliques” digna de Hackers — a série finalmente mostra as entranhas do que tanto tenta satirizar. A promessa de glamour cede lugar a uma engrenagem exaustiva, artificial, desumana. O pânico dela é real; a sátira, certeira.

Enquanto isso, Maia e Alani se metem na ala proibida da casa — uma piada recorrente sobre “celebridades e seus upstairses”, sempre mais interessantes que o andar de baixo — e encontram Elijah Wood em uma versão deliciosamente absurda: hipocondríaco, meio infantil, completamente deslocado e genuinamente feliz apenas vendo vídeos do The Simpsons. É uma participação divertida, mas o texto exagera no número de “jogos” cômicos, diluindo o impacto da sátira.

No fim, quando as três garotas se reencontram, algo genuíno emerge no meio do caos: o alívio de que, apesar das ilusões, das promessas vazias e da competição constante, elas ainda se escolhem. Por enquanto.

Mas já fica claro que I Love L.A. precisa começar a responder às próprias perguntas. A série acerta na estética, no ritmo caótico, na antropologia do absurdo — mas falta alma. Falta direção. Falta algo que justifique a existência dessa turma para além do retrato fiel (e cruel) de um ecossistema onde todo mundo quer ser visto, mesmo sem saber por quê.

E talvez seja por isso que a renovação tão precoce seja, sim, um choque: porque a série ainda está em processo de descobrir se tem algo a dizer além do óbvio.

O quarto episódio não anda. Não se transforma. Não entrega nada que já não estivesse ali — mas deixa claro que existe potencial para crescer. Para aprofundar. Para entender que, em Los Angeles, nem toda luz é iluminação.

Às vezes, é só reflexo.


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