I Love LA – T.1, Episódio 5 (Recap): Nem todos são Jeremys

Olha, gosto de lembrar que não sou público alvo de I Love LA, portanto quando “desgosto” de algo, vejo como um sinal de distância de gerações. Afinal, há que adore a série. Dito isso, me dá preguiça a formula perpetuada da heroína neurótica autocentrada que dá cabeçadas desnecessárias na vida. Já vi isso muitas vezes antes, faz parte de uma narrativa que adoraria ser quebrada na dramaturgia. Não falo nem de Carrie Bradshaw em Sex and The City, lembro muito da série que também se passava em Los Angeles e que foi uma das minhas favoritas enquanto esteve no ar: Insecure.

Na série de Issa Rae, Issa está em um relacionamento estável com Lawrence, mas frustrada com sua própria carreira e vida, colocando a “culpa” nos ombros do companheiro que estava mesmo paralisado, quase encostado nela. Só que ela deu muitas voltas justamente para ver que, sem ela, Lawrence finalmente se encontra, dá certo e ela passa a sentir falta dele. O final feliz do casal foi bem construído, mas é 1000% clichê. Em I Love LA a paciência de Dylan com Maia tem as mesmas vibrações: ele é um cara centrado, mas modesto. Ela é uma jovem com ambições até o momento não baseadas em talento, mas enfim… com as ressalvas feitas, vamos ao recap da semana.

I Love LA navega por excesso fútil, vaidade e vazio mas agora que tem uma segunda temporada e caminha para o fim da 1ª questiona o que seus personagens realmente querem da vida. “They Can’t All Be Jeremys” mostra uma sucessão de crises existenciais simultâneas onde ninguém parece realmente capaz de conquistar — ou sustentar — aquilo que deseja.

O que fica claro é que I Love LA caminha para um lugar de fratura. Quanto mais perto esses personagens acreditam estar do sucesso, mais se dão conta da distância real que os separa dele. E essa distância já não é apenas profissional. É emocional, ética, afetiva.

Maia acelera sua própria carreira — e a de Tallulah — enquanto todo o resto do elenco tenta, de modo torto, apenas sobreviver ao próprio caos interno.

Tallulah, Alani e a hierarquia invisível do sucesso

Tallulah aparece pouco. Ela segue o romance com Tessa, a chef, só volta a aparecer numa tentativa de aula de direção com Alani depois que Maia conseguiu para ela um acordo de US$ 30 mil com a Kia. Mas seu coração não está ali. Nem no volante. Nem na própria carreira.

O detalhe cruel é que Tallulah ainda não percebe que não está no mesmo ponto de partida que Alani. Alani já nasceu dentro do jogo. É uma nepo baby cercada por privilégios tão antigos quanto estranhos e cada nova revelação sobre sua vida pessoal soa mais perturbadora do que a anterior, incluindo o fato de sua coleção de nudes “perfeitamente iluminadas” ter sido feita pelo ex-diretor de fotografia de seu pai.

Enquanto Maia empurra contratos e futuro, Tallulah ainda está presa numa lógica de desejos imediatos. O desequilíbrio entre elas já não é sutil. Apenas ninguém quer nomeá-lo em voz alta.

Charlie: quando o afeto não vem em forma de deboche

Charlie, curiosamente, é quem vive o arco mais transformador do episódio. Preso ainda à órbita de Lukas, o músico católico que surgiu no episódio anterior, ele consegue não só um trabalho como stylist, mas algo completamente inesperado: uma rede de apoio real.

Ele entra num universo que lhe é quase alienígena — o dos “bros da responsabilidade”, homens que se policiam moralmente, protegem uns aos outros e se apoiam emocionalmente sem recorrer ao sarcasmo como escudo. No início, Charlie reage como sempre: ironia, ataque, deboche. Ele espera ser ridicularizado. Ele provoca para ser rejeitado. Mas nada disso vem. O que vem é acolhimento.

E esse acolhimento começa, aos poucos, a reconfigurar sua maneira de existir no mundo. Ele se torna mais maduro, mais aberto, menos defensivo. O grupo o apoia. O grupo o escuta. Pela primeira vez, Charlie não é apenas uma persona performada — é alguém visto de verdade. E então o golpe final: Lukas morre num acidente de quadriciclo.

A mesma narrativa de autocontrole, disciplina e cuidado se choca violentamente com a aleatoriedade da vida. A transformação de Charlie acontece, mas o preço emocional vem na forma de luto. O aprendizado chega junto com a perda.

Maia, Alyssa, Jeremy — o horror por trás da vida “perfeita”

Mas como já alertei, é a irritante Maia que planta a semente da fratura. Ambiciosa, estratégica, faminta por ascensão, ela decide que precisa extrapolar os limites do trabalho e invadir o território íntimo da chefe, Alyssa. Para isso, recruta Dylan para um jantar com o casal “perfeito”: Alyssa e Jeremy.

O vazio das redes sociais se torna real: nada é perfeito fora das selfies e postagens do casal. Jeremy é insuportável e grosseiro. Culpa o perfume e a voz de Maia por suas crises de enxaqueca e foge da própria casa sob o pretexto de dor física. Estava com ele até a cena mais à frente (eu também fugiria da chatíssima Maia). Então vemos Alyssa preenchendo o vazio com litros de vinho, sempre buscando validação.

O grande erro vem de Dylan, que como sempre, tenta salvar a noite com gestos simples, afetivos, sólidos. Isso planta sua ruína.

Quando vai ao banheiro, Maia flagra Jeremy se masturbando sozinho. Se ela ainda precisava entender que tem mais hoje do que a chefe que idolatra, o efeito é oposto. Ela ainda quer o que vê como real, perfeito, se recusando a entender o colapso da vida perfeita que é pura falsidade. Ela quer tudo o que eles têm: status, casa, pertencimento.

Está tão cega e surda que não percebe a inveja de Alyssa, que planta a dúvida mais venenosa: Dylan não é grande o suficiente para Maia. Piranha! Leighton Meester que já vem do doutorado de personagens quebradas e maldosas (como esquecer Gossip Girl?) está perfeita nesse papel.

Maia e Dylan: duas formas irreconciliáveis de existir

Quando voltam pra casa, a DR de Dylan e Maia é inevitável e o confronto de visões de mundo é mais do que clara. Dylan acredita em “trabalhar para viver”. Maia vive “para trabalhar”. Ele fala em propósito, limite, cotidiano. Ela fala em projeção, crescimento, imagem. É tão díspare que sequer brigam ou se exaltam. Eles simplesmente se revelam incompatíveis.

Para piorar, como Issa em Insecure, Maia começa a enxergar justamente aquilo que sempre foi força em Dylan — sua estabilidade, sua simplicidade, seu cuidado — como um possível entrave ao futuro que ela idealiza para si.

O rompimento só não acontece ainda porque vem a notícia surpreendente da morte de Lukas, deixando a separação para o fim da temporada.

O subtexto que grita

“They Can’t All Be Jeremys” é o episódio em que I Love LA deixa de flertar com a superfície e mergulha de vez na sua própria tragédia disfarçada de comédia. A série passa a dizer, sem subterfúgios, que esse universo de jovens hiperconectados, cínicos e ambiciosos construiu sua identidade sobre trocas, imagens e performances, mas não sobre vínculos reais.

Fica claro que nem todos podem ser Jeremys. Mas o verdadeiro perigo é quando alguém passa a querer ser justamente aquilo que já viu ruir por dentro.


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