Como publicado na edição digital da Revista Bravo!
O universo de Avatar sempre foi mais do que um espetáculo visual — é uma meditação sobre pertencimento, dor e sobrevivência. Desde 2009, quando James Cameron nos levou pela primeira vez a Pandora, acompanhamos a jornada de Jake Sully (Sam Worthington) e Neytiri (Zoe Saldaña) entre mundos, corpos e crenças. O segundo capítulo, The Way of Water (2022), expandiu essa mitologia para os oceanos, aprofundando as dinâmicas familiares dos Sully e consolidando a franquia como a mais ambiciosa saga cinematográfica do século.

Agora, com estreia marcada para 19 de dezembro de 2025, Avatar: Fire and Ash promete uma nova virada — tanto narrativa quanto emocional. O terceiro filme introduz um território inexplorado de Pandora: as regiões vulcânicas habitadas pelos Mangkwan, ou Ash People, um clã que vive em harmonia com o fogo e carrega as cicatrizes de um trauma ancestral. No centro desse povo está Varang, interpretada por Oona Chaplin, uma líder intensa e versátil cuja história traz uma complexidade moral inédita ao universo dos Na’vi.
Varang não é uma vilã tradicional. Ela nasceu da dor, da perda e da sensação de ter sido abandonada por Eywa — a divindade que guia todos os Na’vi. Após uma catástrofe natural que devastou seu território, os Ash People romperam sua conexão espiritual e aprenderam a sobreviver pelo instinto, não mais pela fé. “Ela é uma sobrevivente que transformou o luto em combustível”, explica Oona. “Usou a dor e o desespero como força motriz — quase uma história de vingança.”
É nessa fronteira emocional que James Cameron encontra o coração de Fire and Ash. O filme mergulha nas zonas cinzentas da empatia e da fúria, explorando o que acontece quando o amor à própria gente se mistura ao desejo de poder e revanche. “Pessoas machucadas machucam pessoas”, resume Oona, refletindo sobre como a dor mal resolvida se transforma em violência — dentro e fora de Pandora.
Durante nossa conversa exclusiva com a Revista Bravo!, Oona Chaplin falou sobre o processo de dar vida a Varang, sobre a experiência libertadora da performance capture (“É como voltar ao recreio da escola, onde só a imaginação importa”) e sobre trabalhar com um diretor que ela descreve como “um gênio generoso, curioso e apaixonado”. James Cameron, segundo ela, continua expandindo o planeta e suas histórias “com um olhar amoroso pela humanidade e pelas contradições dos Na’vi”.

Entre lembranças divertidas do set — como os rituais de canto e dança que ela improvisava para conectar o elenco do clã — e reflexões profundas sobre luto e resiliência, Oona Chaplin se revela uma artista que carrega o legado de uma linhagem lendária: neta de Charlie Chaplin, bisneta de Eugene O’Neill e filha de Geraldine Chaplin. Ela construiu uma carreira marcada por intensidade e autenticidade. De Game of Thrones — onde se tornou parte da história da televisão com o chocante “Casamento Vermelho” — a Taboo e agora Avatar, Oona transforma cada papel em uma reinvenção.
A seguir, o papo exclusivo, onde ela fala sobre fogo, fé, feridas e a força de Varang — a nova alma indomável de Pandora.
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O que você pode nos contar — sem muitos spoilers (embora eu não me importe com spoilers) — sobre sua personagem e o que podemos esperar dela no filme?
Oona Sim, então, Varang. Varang é o nome da minha personagem. Ela é a líder do povo das Cinzas, os Mangkhuan. E ela é uma mulher bem intensa. Uma guerreira feroz e muito diferente. O povo das Cinzas também é bem diferente dos outros Na’vi que conhecemos em Pandora. Ela tem uma relação de confronto com Eywa. Eles cortaram a conexão com Eywa porque houve um desastre natural em sua terra natal. Sentiram-se abandonados. Sofreram um grande trauma. E desse trauma, Varang surgiu das cinzas e decidiu reorientar sua vida, transformar essa dor e esse luto — que ela e seu povo sentiam — em combustível para o fogo. Então ela está em algo quase como uma história de vingança. Eles são sobreviventes. Ela fez o que precisava ser feito. Eywa a abandonou, e ela pensou: “bem, é isso então.” Encontraram um poder diferente, mais forte. E ela vem realmente para adicionar complexidade e tons de cinza ao nosso amado mundo azul.
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A chamada “antagonista”, mas com empatia.
Oona Sim, sabe, eu a entendo. Eu sinto o coração dela.
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Porque em um mundo tão binário, com pessoas que vêm de feridas e traumas, decidindo o que é certo e errado, como ela navega isso? Como você vê esse desafio na construção da personagem?
Oona
Bem, sabe, é lindo porque o luto é uma energia muito poderosa. Luto, desespero e abandono — são energias fortíssimas. Elas movem as pessoas com muita força. E quando isso é o seu combustível, quando o luto é o seu combustível, você ganha muito poder. Dá pra ver isso no mundo de hoje. Grande parte dos conflitos que vemos ao nosso redor vêm de um lugar de dor. É o clássico caso de “pessoas machucadas machucam pessoas”. Foi fácil me conectar com isso. Eu ajo diferente — gosto de curar o que me fere. Acho que o perdão é a forma mais elevada de proteção. Mas, ao mesmo tempo, entendo como o luto pode se transformar em ódio. Então foi uma jornada muito bonita e empoderadora me conectar com essa personagem. Tenho muita compaixão por ela, mesmo não concordando com suas escolhas.

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Mas não teríamos uma história para contar se não houvesse pessoas com quem não concordamos, certo?Oona Pois é, né? Tente construir uma história sem drama. [risos] Não sei. Ainda precisamos ver se isso é possível.
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James Cameron vem construindo o mundo de Pandora camada por camada. Como o povo das Cinzas se encaixa nisso e Varang também? Sem spoilers, se possível.
Oona Bem, eles entram porque já vimos o primeiro filme, conhecemos o clã dos Omaticaya, depois fomos ao recife e conhecemos o clã que vive lá. E seguimos expandindo o mundo de Pandora, porque essa lua é riquíssima em cultura, diversidade e biodiversidade. O que Jim está fazendo é expandir, mergulhar mais fundo nesse planeta e também contar uma história que será mais relacionável para nós. Acho que o terceiro filme tem como tema principal o luto — o luto e o desespero — e todos podemos nos conectar a isso. Ele está ampliando nossa lente para que possamos compreender melhor o que significa estar em nossos próprios corações.
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E como foi trabalhar com ele, claro, e com todas as estrelas também?
Oona Ele é incrível. É um gênio, antes de tudo. Tem um entendimento profundo sobre tantas coisas. É muito curioso, atencioso, apaixonado e extremamente generoso. Foi uma experiência arrebatadora. Tenho um carinho enorme por ele. O admiro muito, tudo o que ele quer fazer neste mundo, todos os bons pensamentos que tem — para si, para sua família, para a humanidade — e também para os Na’vi.
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E como foi? Eu sei que você já deve ter respondido isso mil vezes, mas sempre é curioso saber: como é trabalhar com o live action, toda essa tecnologia, e ainda manter tudo fisicamente e emocionalmente real? Quais foram os maiores desafios para você?
Oona Na verdade, todos os desafios das filmagens desapareceram para mim, porque foi a forma mais libertadora de atuar que já experimentei. Tudo — figurino, cabelo, maquiagem, iluminação, figurantes, os snacks — todas as coisas que normalmente limitam ou colocam fronteiras (mesmo que saudáveis) na sua performance… tudo isso desaparece. Você tem o equipamento, as câmeras, mas tudo serve apenas para alimentar sua imaginação. É como voltar ao recreio na escola — você imagina tudo. O que existe é sua convicção e sua imaginação para criar o momento, e todo o resto está ali apenas para sustentar e amplificar isso. É incrível, inspirador. Um verdadeiro luxo para atores. Eu adoraria que todos pudessem experimentar, porque as pessoas têm ideias erradas sobre o performance capture. Eu mesma tinha. Mas é uma experiência incrivelmente libertadora como artista — poder se comprometer com o momento nessa forma pura de imaginação. É magnífico.

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Mal posso esperar. Há algum momento favorito dos bastidores que você possa compartilhar?
Oona Dos bastidores? Nossa, muitos! Estivemos lá por um ano e meio, então tenho muitas boas histórias e lembranças. A sensação de família, de apoio, de aprendizado, de adquirir tantas novas habilidades… Acho que tem um momento engraçado que vale contar: a personagem é muito diferente de mim, então todos os dias eu precisava “chegar” até ela, entrar na energia dela. Eu precisava me empolgar, começar a gritar e bater os pés. E eu obrigava todos os atores do povo das Cinzas a fazer isso comigo — a cantar, gritar e bater os pés antes das cenas. Era muito divertido e eles eram super participativos. Hoje, quando penso nisso, morro de rir, porque devia parecer muito estranho.
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Mas são essas as boas lembranças.
Oona Exatamente.
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Não posso ir embora sem perguntar — uma curiosidade pessoal: décadas depois, com que frequência ainda te perguntam sobre o Casamento Vermelho?
Oona [rindo] Ah, é um momento marcante na história da TV, então me perguntam, sim. Mas tudo bem. Quero dizer… sou grata por aquele momento horrendo. [rindo]
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