I Love LA – Temporada 1, Episódio 6 (Recap): Jogos e um funeral

Para quem vem acompanhando a trajetória de Maia desde o início de I Love LA, “Game Night” deixa algo muito claro: ela quer ganhar o jogo. Sempre quis. Mas esta rodada específica coloca, talvez pela primeira vez, um risco real e definitivo sobre seu relacionamento com Dylan. Ainda assim, ou justamente por isso, jogar os dados se torna irresistível.

O episódio começa em um território aparentemente seguro: um set publicitário da Ritz Crackers. Maia fecha para Tallulah um trabalho bem pago, desses que não garantem prestígio, mas consolidam posição. É dinheiro, visibilidade e prova de eficiência, exatamente o tipo de vitória intermediária que sustenta carreiras em ascensão. No meio da conversa, Maia comenta casualmente que Tallulah está se relacionando com uma mulher. A resposta vem automática, ensaiada, corporativa até o osso: “Não se preocupe, nós amamos que ela seja lésbica.” É o progressismo de marketing em sua forma mais caricata e, como sempre, vazio o suficiente para se tornar arma.

Na sequência, Maia acompanha Alyssa em um ensaio da Forbes e mostra por que é tão valiosa dentro da Alyssa 180. Quando a entrevista ameaça resvalar para o passado problemático da chefe, aquele terreno escorregadio onde surgem declarações de impacto ocas, recheadas de palavras-chave como “comunidade” e “empoderamento”, é Maia quem entrega a frase perfeita, o enquadramento exato, a narrativa aceitável. Tudo parece sob controle até a chegada de um bilhete com flores. É um convite para almoço de alguém do passado, assinado de forma nada inocente como “Lewinsky”. Já sabemos o que isso quer dizer, embora seja politicamente incorreto.

Enquanto isso, Charlie, Tallulah e Alani seguem para o funeral de Landry. Mais do que uma despedida, o evento vira um retrato fiel de Los Angeles: concorrido, performático, com área VIP e overflow. Charlie acaba relegado à segunda zona e ali recebe um golpe maior do que qualquer exclusão social. Andrew, o ex que ele manteve à distância emocional, aparece com um novo namorado e anuncia, com uma gentileza quase cruel, que está se mudando para Nova York. Charlie tenta bancar o cínico, mas a ferida é visível.

O almoço de Maia com seu antigo chefe, Ben, é o eixo moral do episódio. A relação de poder se impõe em cada gesto. Maia encolhe, ri demais, bebe demais. Ele flerta, provoca, testa limites e sugere que empatia é um luxo para quem perde. Fala sobre Alyssa, sobre o ambiente hostil que ela enfrentou no passado, e conduz Maia até uma ideia perigosa: machucar pessoas faz parte de jogar na liga principal. Existe ali não só um erotismo mal resolvido, mas algo ainda mais intoxicante, a validação da ambição dela sem freios morais. E, ao chamá-la de Lewinsky, em referência direta a Monica, fica claro que Maia sempre circulou nesse terreno de moral dúbia. Segundo Bill Clinton, sexo oral não é sexo. Segundo o mundo real, claro que é. E para Maia, isso só piora as coisas.

A frase que define a personagem surge ali. Maia diz que correria em direção ao furacão, desde que não precisasse se molhar. É o resumo perfeito de sua geração e da cultura contemporânea: desejo total, consequência zero. A pergunta que fica é inevitável: por quanto tempo isso se sustenta?

O choque entre fantasia e realidade acontece rápido. Ao sair do funeral, Tallulah e os amigos se deparam com um mural gigantesco da Ritz. Tallulah agora é símbolo do orgulho LGBTQ+. A frase vazia ganha escala literal. Não apenas seu corpo vira campanha, mas sua identidade se transforma em ativo de marca. A vergonha se torna pública, inescapável. Ela quer matar Maia e desaparecer do mundo.

Em outro ponto da cidade, tomada pela culpa de uma traição que ainda é mental, mas já muito real, Maia chega bêbada para a noite de jogos organizada por Dylan com colegas da escola. É o ambiente menos compatível possível com seu estado emocional e isso só intensifica o desastre. O encontro com Claire, uma colega jovem e atraente de Dylan, aciona paranoia, ciúme, desejo e provocação. Maia projeta nos dois a própria culpa e passa a se comportar de forma inconveniente. Sexualiza o ambiente, constrange os convidados, tensiona cada conversa. Rachel Sennott domina essa comédia do desconforto como poucas atrizes conseguem. Tudo é exagerado, mas profundamente reconhecível.

Enquanto isso, Tallulah está à beira de um colapso e encontra em Tessa o discurso mais honesto do episódio. Tessa mostra um vídeo antigo e constrangedor dela mesma rimando receitas inspiradas em Hamilton num programa matinal. A lição é simples e brutal: todo mundo já fez algo profundamente cringe por dinheiro. O segredo é pagar o aluguel e seguir em frente. Munidas dessa cumplicidade torta, as duas resolvem agir, atacando o mural da Ritz com tinta branca. Protesto, catarse, contradição. Tudo ao mesmo tempo.

Charlie, incentivado por Alani, decide finalmente se livrar da sex tape com Andrew. Mas, ao conferir se é mesmo a fita certa, assiste tudo e chora. Não por desejo, mas por luto. Landry foi uma das poucas presenças verdadeiramente livres de julgamento em sua vida, e essa ausência pesa.

De volta ao apartamento, Maia retorna à sala com um figurino calculadamente provocador. O clima já está insustentável. Os convidados saem às pressas, comentando sobre um suposto crime de ódio ocorrido nas redondezas, uma ironia amarga diante do vandalismo de Tallulah, ainda fora de cena para eles.

Sozinhos, Maia empurra Dylan até onde quer. Sexo movido por raiva, tensão, projeção e fantasia. Ela consegue. Mas, assim que termina, se afasta. Dylan permanece imóvel, nu, com o rosto de quem acaba de compreender algo que preferia não enxergar.

Essa imagem diz tudo, inclusive porque Josh Hutcherson é excelente. Pela primeira vez, Dylan parece perceber que Maia não está apenas em outro ritmo. Ela está jogando outro jogo. Maia, por sua vez, já havia ido embora mentalmente, projetando no corpo do namorado um desejo que vem de outro lugar, de outro tempo, de outra lógica. E, pior ainda, de Ben.

Charlie revela uma vulnerabilidade rara. Tallulah paga o preço de virar símbolo involuntário. E Maia cruza uma fronteira que a série vinha apenas insinuando.

“Game Night” é o episódio em que I Love LA amadurece de vez. A comédia continua afiada, mas agora sustentada por desconforto real. Porque, nesse universo, vencer não é apenas subir de nível. É decidir o que se está disposto a perder para continuar jogando.


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