Ghislaine Maxwell, principal cúmplice de Jeffrey Epstein, voltou a desafiar a Justiça americana ao pedir que um tribunal federal anule ou revise sua sentença de 20 anos de prisão por tráfico sexual de menores. Condenada em 2021, depois de um julgamento considerado emblemático, Maxwell agora afirma que “novas evidências substanciais” demonstrariam que ela não teve um julgamento justo, argumento que surge após uma série de recursos já rejeitados, incluindo pela Suprema Corte dos EUA.
O movimento chama atenção não apenas pelo conteúdo, mas pelo timing. O pedido foi protocolado sem advogado, num momento em que o Departamento de Justiça enfrenta o prazo final, em 19 de dezembro, para começar a liberar milhares de documentos relacionados às investigações federais sobre Epstein, em cumprimento à nova legislação de transparência aprovada pelo Congresso.

Entre as alegações de Maxwell está a de que um jurado teria ocultado histórico pessoal de abuso sexual durante a seleção do júri, o que poderia comprometer sua imparcialidade. Ela sustenta que, à luz de informações que vieram à tona apenas depois do julgamento — em ações civis, relatórios investigativos e arquivos agora deslacrados —, “nenhum júri razoável a teria condenado”.
A ofensiva jurídica ocorre justamente quando os chamados “arquivos de Epstein” começam a emergir do sigilo. Juízes federais em Nova York e na Flórida autorizaram a liberação de materiais de grandes júris, abrindo caminho para a divulgação de transcrições, registros financeiros, listas de voos, fotografias, depoimentos e documentos internos que, por anos, permaneceram inacessíveis ao público. Parte desse material já começou a circular, incluindo milhares de imagens do acervo pessoal de Epstein, algumas com figuras públicas em contextos sociais, ainda que, até agora, sem provas diretas de envolvimento criminal dessas pessoas.
O ponto central é menos o sensacionalismo e mais o alcance estrutural do que está sendo revelado. Os documentos reforçam algo que sempre esteve implícito no caso: Epstein não operava sozinho, e sua rede se sustentava por conexões sociais, financeiras e institucionais complexas. É nesse contexto que o pedido de Maxwell ganha contornos estratégicos. À medida que o arquivo se abre e o foco público se amplia, ela tenta reposicionar sua própria narrativa dentro de um caso que já não pertence apenas aos tribunais, mas à história recente.

Há também tensão entre sobreviventes e autoridades. Grupos de vítimas cobram garantias de que os arquivos divulgados não foram editados ou filtrados, exigindo transparência total sobre a cadeia de custódia desses documentos. Para elas, a abertura dos arquivos não é apenas um gesto simbólico, mas um passo necessário para compreender por que Epstein operou por tanto tempo com tamanha impunidade.
Se o pedido de Maxwell terá algum efeito prático ainda é incerto — juridicamente, suas chances seguem remotas. Mas o gesto é revelador. Às vésperas da maior exposição documental do caso Epstein, Maxwell tenta reescrever seu papel numa história que está, finalmente, deixando de ser contada apenas em fragmentos.
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