Há exatamente um ano, a essa altura da temporada, os nomes que dominavam a conversa eram outros. Falava-se de Demi Moore, falava-se de Fernanda Torres, falava-se de trajetórias, retornos, justiça histórica. Mas quem atravessou a linha de chegada e levou o Oscar de Melhor Atriz foi Mikey Madison, a mais improvável, a menos óbvia, a que parecia deslocada até do próprio sistema que a premiava.
E então, depois da noite mais importante de sua carreira, Mikey Madison “sumiu”.

O verbo, claro, diz mais sobre a nossa expectativa do que sobre ela. Porque Madison não desapareceu: ela apenas recusou o script que costuma vir depois de uma vitória no Oscar. Não virou presença constante em capas, não entrou numa franquia por inércia, não se lançou numa maratona de autopromoção. Fez o contrário do esperado e isso confundiu.
O que sabemos hoje é que 2025 foi tudo, menos um ano vazio. Madison esteve ocupada, filmando, escolhendo com cuidado, trabalhando longe do barulho. Em março, apareceu de forma pontual e calculada ao apresentar o Saturday Night Live, lembrando que carisma e humor sempre estiveram ali, apenas não são explorados como estratégia permanente. No cinema, passou boa parte do ano em sets, envolvida em projetos que exigem tempo e silêncio, não hype.


Ela chegou a negociar um papel em Star Wars: Starfighter, mas recuou diante de uma disputa salarial. Um gesto pequeno, mas simbólico: depois do Oscar, Madison não aceitou simplesmente “estar”, queria estar nos seus termos. Preferiu dizer não a um universo bilionário a entrar em condições que não refletiam seu novo lugar.
Ainda em 2025, confirmou presença em Reptilia, filme dirigido por Alejandro Landes, um projeto de perfil autoral e inquieto, que dialoga muito mais com a atriz que Sean Baker revelou em Anora do que com qualquer modelo de blockbuster. Também entrou em conversas com a A24 para protagonizar The Masque of the Red Death, uma releitura sombria de Edgar Allan Poe que, se concretizada, reforça sua inclinação por personagens densas, desconfortáveis e pouco domesticáveis.

Mas é olhando para 2026 que o desenho fica mais claro. Madison foi escalada para viver Frances Haugen em The Social Reckoning, continuação de The Social Network, com estreia prevista para outubro de 2026. Não é apenas um papel de peso: é um reposicionamento. Uma atriz jovem, recém-premiada, assumindo uma figura real, controversa, central no debate sobre poder, tecnologia e ética. Um filme de estúdio, sim, mas com discurso, ambição e risco.
Talvez o que tenha parecido um sumiço seja, na verdade, uma escolha rara: a de não confundir reconhecimento com aceleração. Mikey Madison venceu o Oscar e, em vez de correr, parou para escolher. Em um sistema que premia visibilidade constante, isso soa quase como desaparecimento. Mas pode ser apenas outra forma — mais silenciosa, mais estratégica — de permanecer.
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