Como publicado na Revista Bravo!
É uma tradição alimentada por filmes, revistas e, mais recentemente, pelas redes sociais: aproveitar a pausa de fim de ano para maratonar filmes natalinos. Mas, antes da lista, vale a pergunta essencial — e menos óbvia do que parece: afinal, o que é um filme natalino?
Um filme natalino é aquele em que o Natal não funciona apenas como cenário, mas como estrutura narrativa e simbólica da história. A trama existe porque é Natal: a data organiza o tempo do filme, determina os conflitos, impõe um prazo emocional e orienta o desfecho. Sem o Natal, a lógica do enredo — e, muitas vezes, o próprio sentido da história — se desfaz.
Além disso, o Natal atua como catalisador temático. É ele que concentra questões como reconciliação, perdão, solidão, pertencimento e retorno, seja para celebrá-las, tensioná-las ou até ironizá-las. Por isso, um filme pode ser natalino mesmo quando crítico ou cínico: o critério decisivo é que o Natal seja indispensável à experiência emocional e narrativa, e não apenas um detalhe decorativo.

Diante disso, criar listas deixa de ser apenas clichê e passa a funcionar como ritual. A minha não muda tanto de um ano para o outro — porque alguns filmes simplesmente não mudam —, mas sempre há espaço para títulos novos que ajudam a completar o clima e atualizar o olhar.
Clássicos obrigatórios
(os 10 filmes que sustentam o Natal ano após ano)
Felicidade Não Se Compra (It’s a Wonderful Life) — Amazon Prime Video
O clássico absoluto sobre pertencimento, impacto e escolhas invisíveis. Um filme que entende o Natal como balanço moral da vida: o que somos para os outros, mesmo quando achamos que falhamos. Rever é sempre um exercício de humildade e esperança. Em 2026, completa 80 anos e segue voltando às telas todos os fins de ano — em Nova York, inclusive, como parte oficial da tradição natalina. Perfeito e atemporal.
Milagre da Rua 34 (1984) — Netflix
Uma defesa delicada — e surpreendentemente moderna — da imaginação em um mundo cínico. O Natal aqui é fé, mas também confiança coletiva: em Papai Noel e, sobretudo, na gentileza alheia. A refilmagem, que já passou dos 40 anos, é tão doce quanto a original com Natalie Wood ainda criança — e mais fácil de encontrar. Prender o Papai Noel por identidade falsa segue sendo uma das metáforas mais divertidas e duráveis do gênero.


Um Conto de Natal (A Christmas Carol) — Looke
A matriz de quase tudo que entendemos como narrativa natalina. Dickens transforma o Natal em oportunidade de redenção moral, usando fantasmas não como terror, mas como consciência. É o título que estabeleceu a tradição e segue sendo essencial para entender o gênero.
Scrooge: Um Conto de Natal (Scrooge: A Christmas Carol) — Netflix
Uma releitura animada e musical que atualiza Dickens sem diluir sua dureza. O filme preserva o peso emocional da culpa e da reparação, mas o traduz para uma linguagem contemporânea, acessível e visualmente inventiva.
Simplesmente Amor (Love Actually) — Amazon Prime Video
Richard Curtis foi considerado um tanto “louco” ao reunir um elenco de estrelas para criar um mosaico imperfeito, mas irresistível, sobre diferentes formas de amar — algumas generosas, outras profundamente equivocadas. O Natal funciona como pano de fundo emocional que amplifica encontros, desencontros e silêncios. Um clássico moderno do afeto coletivo, em pé de igualdade com os grandes títulos do passado. E, sim: Christmas Is All Around segue obrigatória.

O Amor Não Tira Férias (The Holiday) — Netflix
Um filme sobre pausa, troca e recomeço. O Natal aparece menos como celebração e mais como intervalo necessário para reorganizar a vida emocional. Confortável, ensolarado e honesto sobre a necessidade de sair do próprio roteiro. Meu filme-conforto em qualquer época do ano — mas, claro, combina ainda mais com dezembro.
Esqueceram de Mim (Home Alone) — Disney+
Comédia física, quase cartunesca, que esconde um tema central: a ansiedade de pertencimento infantil. O Natal é o catalisador do abandono e do retorno, transformando travessura em rito de amadurecimento. Imortal por um motivo — são 35 anos imbatíveis em qualquer lista.


Um Duende em Nova York (Elf) — Amazon Prime Video
A ingenuidade como força subversiva. O filme contrapõe o cinismo adulto à crença absoluta na bondade e na magia do Natal. Funciona como comédia, mas também como lembrete de que entusiasmo ainda é um valor.
Duro de Matar (Die Hard) — Disney+
Um filme de ação que só existe porque é Natal: reunião corporativa, família distante, cidade vazia. O contraste entre violência e espírito natalino cria uma ironia perfeita. Natalino não pelo tom, mas pela estrutura. Uma discussão eterna entre cinéfilos — e que os die hard fans jamais aceitariam excluir da lista.
Uma Segunda Chance para Amar (Last Christmas) — Netflix
Uma comédia romântica que começa leve e termina emocionalmente mais ambiciosa do que aparenta. O Natal é o espaço da cura, da empatia e da segunda chance — para amar, mas sobretudo para viver com mais atenção ao outro. Assim como Simplesmente Amor, nasceu propositalmente para nos emocionar no Natal: a história veio da canção de George Michael e de uma ideia de Emma Thompson com Greg Wise. Simples, honesta e eficaz em aquecer o coração — literalmente. Adoro.

No fim, essa lista não é sobre novidade. É sobre permanência. Esses dez filmes atravessaram décadas porque entendem o Natal como algo maior do que decoração ou data no calendário: eles tratam o fim do ano como momento de balanço, reconciliação, retorno e, às vezes, ironia — mas sempre com a consciência de que dezembro muda a temperatura emocional de tudo.
Talvez seja por isso que a gente volte a eles com tanta fidelidade. Não para ser surpreendido, mas para ser acolhido. Clássicos obrigatórios não são apenas os mais famosos; são aqueles que, quando começam, fazem o corpo reconhecer que o Natal chegou.
(Na próxima parte, entro nos 15 títulos mais recentes — filmes que não substituem esses pilares, mas ajudam a completar o ritual e atualizar o olhar.)
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