Avatar: Fogo e Cinzas: quando o espetáculo ainda fala mais alto que a inovação

Eu gostei muito de Avatar: Fogo e Cinzas — e isso diz menos sobre uma conversão tardia à franquia Avatar e mais sobre algo que anda cada vez mais raro: a experiência inequívoca de um filme pensado para ser visto no cinema. Em 3D e IMAX, Fogo e Cinzas não apenas funciona — ele se impõe. Há um impacto físico, uma escala, uma sensação de evento que contrasta brutalmente com a pasteurização visual que tomou conta da indústria nos últimos cinco anos. Cameron ainda acredita na sala escura como linguagem, e isso faz diferença.

Não por acaso, o filme estreou no topo da bilheteria nos EUA e no Canadá, com US$ 88 milhões no primeiro fim de semana, e já soma cerca de US$ 345 milhões globalmente. É menos do que O Caminho da Água na estreia, mas Avatar nunca foi sobre explosão inicial. É sobre permanência. Os dois filmes anteriores dominaram o box office por semanas seguidas, e tudo indica que Fogo e Cinzas seguirá a mesma lógica: resistência, não urgência.

Dito isso, nunca fui — e continuo não sendo — fã da franquia Avatar nem do universo de Pandora. A mensagem ambientalista é importante, quase didática, mas não é inovadora nem particularmente criativa. Cameron insiste nos mesmos eixos morais: a ganância humana, a destruição do planeta, as crianças como esperança futura. Tudo válido — e tudo reiterado. Não há surpresa aí.

Há também um problema estrutural que Cameron parece incapaz de resolver: os filmes são longos demais. Com três horas e mais de quinze minutos, Fogo e Cinzas testa a paciência e a concentração, especialmente quando insiste em explicar um mundo que já conhecemos. A crítica mais dura tem razão ao apontar que, à medida que o tempo avança, o filme nunca nos deixa esquecer que estamos olhando para uma tela. A promessa de imersão absoluta começa a se dissolver em cansaço.

Ainda assim, seria injusto ignorar onde o filme acerta. O eixo emocional do luto é mais forte aqui. A história se ancora na perda, no silêncio, na dor que atravessa Neytiri, Jake e seus filhos. Há uma densidade emocional maior, algo mais sombrio e menos aventuresco. O problema é o excesso de tramas coexistindo: conflitos políticos, disputas internas, novos clãs, velhos inimigos, novos vilões. Nem tudo tem espaço para respirar.

Sim, é formulaico. Mas estamos falando de avatares gigantes e azuis. Não é exatamente um universo que se presta à reinvenção radical sem romper sua própria lógica. A previsibilidade faz parte do pacto.

E, ainda assim, discordo de quem afirma que nada de novo acontece. Há uma zona cinzenta mais interessante se formando: alianças instáveis, antagonistas que se alinham circunstancialmente aos heróis, escolhas morais menos binárias. Há também uma mudança importante no tabuleiro — a possibilidade real de humanos ocuparem Pandora sem máscaras de oxigênio, transformando o planeta em território habitável. Isso altera o jogo.

Além disso, Cameron deixa vilões à solta (não, o general não morre — essa é a minha aposta), o que reforça a sensação de que Fogo e Cinzas não é um encerramento, mas um capítulo de transição. O próprio Cameron já deu sinais de ambivalência sobre continuar ou não a saga, ainda que admita: se o público quiser e se o filme render o suficiente, Pandora segue viva.

No fim, Avatar: Fogo e Cinzas talvez confirme o diagnóstico de parte da crítica — o de que a franquia perdeu o frescor revolucionário de 2009. Mas também prova algo igualmente relevante: o cinema ainda pode ser espetáculo, escala, impacto sensorial e experiência coletiva. Mesmo quando a imaginação narrativa se repete, Cameron continua lembrando por que certos filmes simplesmente não pertencem ao sofá.


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