Que bom que a família Bridgerton é grande porque cada filho rende uma temporada ainda melhor que a do outro. O fato de o trailer da 4ª temporada de Bridgerton ter sido lançado no Natal é igualmente revelador. Não como mero presente aos fãs, mas como afirmação simbólica. Depois de três temporadas testando registros distintos do romance — o desejo contido, o embate entre dever e paixão, o amor que amadurece na espera — a série retorna ao arquétipo mais puro do gênero: o encontro mágico, o baile de máscaras, a mulher que desaparece antes que o sonho possa se consolidar. Mas o faz com plena consciência de que o encantamento, sozinho, não sustenta uma história.
A nova temporada, dividida em duas partes (29 de janeiro e 26 de fevereiro de 2026, porque a Netflix se recusa a admitir que errou ao apostar em binge watching), coloca Benedict Bridgerton finalmente no centro da narrativa. O irmão boêmio, artista, sempre à margem das convenções familiares, deixa de ser observador para se tornar sujeito do drama. E não por acaso: esta é, talvez, a história que mais frontalmente confronta a fantasia romântica com a estrutura social que a viabiliza e a limita.

Onde paramos
Ao fim da terceira temporada, o universo de Bridgerton parecia momentaneamente estabilizado. Daphne encontrou seu lugar, Anthony e Kate transformaram o conflito em parceria, Penelope e Colin finalmente atravessaram a linha que separava amizade e amor. O tom era de resolução. Benedict, porém, permanecia em suspensão. Enquanto os irmãos avançavam para casamentos e responsabilidades, ele continuava orbitando ateliês, romances ocasionais e uma boemia cuidadosamente protegida da ideia de permanência. Não era imaturidade; era recusa. Uma escolha deliberada por não escolher.
É justamente desse ponto que a quarta temporada parte.


A trama (plot)
Inspirada em An Offer From a Gentleman, de Julia Quinn, a temporada assume sem disfarces sua matriz de Cinderela. No primeiro episódio, Benedict conhece a Lady in Silver no baile de máscaras organizado por Violet Bridgerton. Ela surge sob um lustre monumental, envolta em uma aura que é tanto visual quanto narrativa. O instante é deliberadamente onírico: um espaço fora do tempo, onde a realidade ainda não impôs suas condições.
Mas Bridgerton não se interessa pelo momento encantado em si e sim pelo que acontece quando ele acaba.
A mulher por trás da máscara é Sophie Baek, uma criada engenhosa, ilegítima, socialmente invisível. Quando o destino os faz se reencontrar, Benedict se vê dividido entre duas imagens que ele insiste em tratar como opostas: a fantasia da Lady in Silver e a realidade concreta de Sophie. O conflito central da temporada nasce dessa incapacidade de enxergá-las como uma só pessoa. Não é um erro inocente; é um reflexo direto de classe, privilégio e percepção.
Sophie, como Yerin Ha sublinha, não enfrenta apenas dilemas sentimentais. Ela enfrenta sistemas. Casas que funcionam graças a pessoas como ela, mas que jamais as reconhecem como iguais. Amar, para Sophie, é sempre um risco estrutural.

Fantasia versus realidade
A própria equipe criativa insiste nessa tensão como o coração da temporada. O baile de máscaras é apresentado como um “dream space”, um território onde tudo parece possível. Mas a narrativa rapidamente desloca o olhar para os bastidores do luxo: os criados, as hierarquias domésticas, os silêncios que sustentam o brilho da aristocracia. Pela primeira vez, Bridgerton puxa a cortina de forma mais explícita e nos convida a observar quem mantém aquele mundo em funcionamento.
Luke Thompson descreve a temporada como um embate entre o conto de fadas clássico e a realidade concreta. E é justamente aí que o romance encontra densidade. O amor, aqui, não nasce da fantasia, ele precisa sobreviver a ela.
Os novos personagens e o jogo social
A chegada de Lady Araminta Gun e de suas filhas, Rosamund e Posy, amplia esse comentário social. Araminta é uma estrategista implacável do mercado matrimonial. Rosamund, sua extensão calculista, entende perfeitamente o valor simbólico de conquistar Benedict. Posy, sonhadora e deslocada, funciona quase como um espelho alternativo de Sophie, outra mulher que não se encaixa no papel que lhe foi atribuído. Nada disso é acidental. O entorno da história principal ecoa, em múltiplas variações, o mesmo tema: quem é visto, quem é escolhido, quem permanece invisível.

Um Bridgerton mais maduro
Visualmente, a temporada promete ser a mais sensual até agora. Narrativamente, talvez seja a mais reflexiva. O deslocamento dos salões para espaços como My Cottage, o refúgio campestre de Benedict, sugere uma transição do excesso para a intimidade. Do espetáculo para a escolha.
A pergunta central não é se Benedict encontrará Sophie. É se ele será capaz de amá-la sem que ela precise ser outra coisa. Sem máscara. Sem lustre. Sem artifício.
Depois de histórias sobre desejo, dever e espera, Bridgerton parece finalmente pronta para contar uma sobre percepção e sobre o custo de confundir amor com fantasia. Pena que temos que esperar até o final de janeiro para saber mais!
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