como publicado em 4/12/25
Todo fim de ano eu tenho a mesma sensação: sentar diante da lista de séries é menos sobre ranquear títulos e mais sobre reler o que aquele período disse sobre nós. 2025 foi um ano curioso na televisão. Menos explosões de “fenômenos globais” incontornáveis e mais uma consolidação madura de séries que escolheram profundidade, tempo e densidade dramática. Um ano em que o prestígio venceu o ruído e isso, por si só, já diz muito.
Há algo de revelador no fato de que, entre as melhores do ano, estão produções que falam de política, poder, identidade, classe, luto, ambição, medo e memória. A televisão de 2025 foi adulta. Às vezes dura. Às vezes brilhantemente humana. Raramente escapista.
Aqui o ranking e a lista dos melhores e piores de 2025.


As melhores do ano por Miscelana
1. Andor (Disney+)
No topo absoluto, para mim, está Andor. O que Tony Gilroy construiu aqui já não é mais um “spin-off de Star Wars”, mas uma das narrativas políticas mais sofisticadas da televisão contemporânea. Um estudo sobre fascismo, escolhas morais e resistência que se recusa a anestesiar o espectador. Fria, tensa, profundamente atual. É a série que melhor conversa com o nosso tempo, justamente por se passar em uma galáxia muito, muito distante.



2. Task (HBO Max)
Entre as grandes surpresas do ano, Task se impôs como uma das narrativas mais rigorosas e emocionalmente desconfortáveis da temporada. Daquelas séries que não pedem aplausos fáceis, apenas atenção. É um drama que não teme o silêncio, a ambiguidade e a sensação incômoda de que ninguém ali está totalmente certo, nem totalmente errado. Merecidamente terá uma segunda temporada.


3. Chad Powers (Disney Hulu)
Chad Powers pode te surpreender, mas é o raro caso de comédia que entende perfeitamente o tempo em que está sendo feita. Brinca com masculinidade, esporte, mídia e ego sem cair na paródia óbvia. Por trás das piadas, existe um retrato muito preciso de uma cultura que transforma qualquer coisa – até uma persona falsa – em produto e celebridade. Já está gravando sua segunda temporada.


4. Slow Horses (Apple TV+)
Slow Horses segue sendo talvez a série mais injustamente subestimada do streaming. Inteligente, afiada, com personagens que envelhecem junto com suas falhas, ela transforma espionagem em drama existencial. Gary Oldman continua entregando uma aula silenciosa de interpretação, na pele de um homem brilhante, amargo e cansado de saber demais. Seu monólogo no qual compartilha o maior conflito pessoal de Jackson Lamb nos relembra a razão pela qual Oldman sempre foi refernciado como o “ator dos atores”. Insuperável.


5. Adolescence (Netflix)
Adolescence ganhou praticamente todos os prêmios possíveis de 2025 e, mais importante, provocou uma discussão global sobre saúde mental e violência entre jovens. É uma série que não se esconde atrás de slogans; mergulha em ambientes escolares, familiares e digitais com crueldade e empatia na mesma medida. Não romantiza o colapso, não simplifica o sofrimento, não oferece saídas fáceis. Deixa o público com a pergunta mais incômoda de todas: o que estamos fazendo com nossos adolescentes?


6. The White Lotus (HBO Max)
Na vertente mais pop e ácida, The White Lotus provou que ainda tem fôlego para se reinventar, mantendo a radiografia social afiada que virou sua marca. Cada temporada é uma autópsia de privilégio, culpa e autoengano e 2025 não foi diferente. O resort muda, os ricaços também, mas a sensação permanece: ninguém ali é inocente. Quando está no ar é febre. Falando em monólogos, como esquecer as palavras emocionantes de Carrie Coon e o absurdo que Sam Rockwell compartilhou com Walton Goggins? Mais ainda, a série costurou as temporadas anteriores com perfeição, evitou o final obvio e nos deixa ansiando para a conclusão que virá em 2027. Falta muito!



7. The Gilded Age (HBO Max)
Se tem uma série da aqual sou abertamente apaixonada é The Gilded Age, que continua sendo um prazer estético e narrativo: luxo, hipocrisia, ascensão social e mulheres jogando xadrez num tabuleiro feito para homens. Por baixo dos vestidos impecáveis e dos salões dourados, corre um comentário muito nítido sobre poder, dinheiro e quem fica autorizado a ocupar certos espaços. É confortante de assistir, mas nunca totalmente confortável. Todos estão incríveis e passaria o ano inteiro com eles. Ainda bem que teremos mais em 2027.

8. Down Cemetery Road (Apple TV+)
Baseada na obra de Mick Herron, Down Cemetery Road chegou para ocupar um espaço raro: o do thriller político e de espionagem que sabe ser cínico sem ser vazio. Nada ali é simples, ninguém é inteiramente confiável, e é justamente dessa ambiguidade que vem sua força. Para quem ficou órfão de certas séries britânicas de mistério e intriga, foi um presente, em especial pelo show do elenco liderado por Emma Thompson (sempre especatular) e Ruth Wilson.
É uma série que ainda não foi plenamente descoberta, mas que vale muito estar entre as melhores do ano. A atuação de Fehinti Balogun é a fonte de pânico, tensão e ironia de precisão artística que me faz ansiar e temer por seus momentos na tela. Precisava destacar!


9. Round 6 (Netflix)
O impacto global de Round 6 não se repetiu na mesma escala da primeira onda, mas sua permanência na lista mostra como a série se consolidou como um fenômeno cultural que transcende o choque inicial. Ela continua sendo um espelho cruel de desigualdade, desespero econômico e da forma como transformamos a dor do outro em entretenimento. A trágica tragetória do herói improvável, em um arco inevitável, supera o que muita gente reclamou (a história paralela do policial). Mesmo com falhas de roteiro, a proposta de crítica e construção do protagonista torna inevitável que a série estivesse entre as melhores do ano.


10. Alien: Earth (Disney+)
Fechar o Top 10 foi difícil, poderia ter sido facilmente um top 20, mas incluí Alien: Earth como a aposta mais ousada de 2025. Pela escala de produção, pelo risco criativo e, sobretudo, por devolver à ficção científica televisiva um senso de terror adulto, político e existencial que raramente chega ao mainstream. Não é apenas uma expansão de franquia: é um comentário sobre corpo, tecnologia, exploração e poder, temas que atravessam todo o espírito do seu ranking. Ao escolher Alien: Earth como 10º lugar, o Top 10 se encerra olhando para frente, para a capacidade da televisão de ainda reinventar mundos e provocar desconforto.


Fora do Top 10, mas longe de serem menores
O que talvez melhor traduza a força de 2025 é justamente aquilo que ficou fora do Top 10. O volume de séries boas — muito boas, em alguns casos excelentes — foi tão grande que a ideia de um pódio se tornou, por natureza, injusta. Houve produções premiadas, muito celebradas pela crítica e pelo público, que ficaram de fora por margem mínima. Houve outras que são minhas favoritas pessoais, dessas que acompanhei com prazer e afeto ao longo do ano, como Only Murders in the Building, capazes de equilibrar charme, humor, melancolia e entretenimento como poucas.
Também ficaram nesse “meio nobre” séries que sustentaram debates importantes, outras que mantiveram altíssimo padrão técnico, outras que talvez tenham sido menos barulhentas, mas extremamente consistentes. O fato de não estarem entre as dez melhores não as diminui — ao contrário: só reforça o quanto 2025 foi um ano absurdamente disputado. Um ano em que houve espaço para o político, o íntimo, o épico, o pop, o experimental e o afetivo coexistirem com força. Nem todas podiam subir ao pódio. Mas muitas correram a prova inteira com dignidade. São mais de 35 séries maravilhosas, e tentarei justificar 10 delas.
The Last of Us — HBO Max
Mais do que adaptação bem-sucedida, The Last of Us já se estabeleceu como uma das grandes narrativas emocionais da TV contemporânea. Em 2025, menos interessada em ação do que em vínculos, perda, culpa e cuidado, a série reafirmou que o apocalipse mais complexo é sempre o interno. A despedida de Pedro Pascal, as críticas à Bella Ramsey foram sentidas, mas é uma grande franquia.


O Urso — Disney+
Segue sendo uma das experiências mais fisicamente angustiantes da televisão. Trabalho como identidade, obsessão como motor de sobrevivência, afeto como ruído difícil de organizar. Em 2025, O Urso continuou falando de esgotamento com uma honestidade brutal. Seu drama? Ter sido premiada como comédia quando nunca nos faz rir, só se for de angústia. Ainda assim, um show de atuações do elenco como um todo.
The Studio — Apple TV+
Um dos retratos mais cínicos e autoconscientes de Hollywood já feitos para a TV. The Studio olha para os bastidores da indústria com humor ácido e melancolia discreta. O riso vem, mas ele sempre carrega um gosto amargo de fracasso estrutural. Premiada e favorita dos críticos, merece destaque.


The Pitt — HBO Max
Um drama hospitalar que entende o hospital como microcosmo moral. Não romantiza a medicina, não facilita decisões éticas e não transforma seus personagens em heróis. The Pitt aposta no desgaste contínuo como narrativa.
House of Guinness — Netflix
Um drama histórico que entende que heranças não são apenas financeiras — são morais, afetivas, tóxicas. House of Guinness viaja pela origem de um império para revelar uma família fraturada por ambição, silêncio, poder e ressentimentos que atravessam gerações. Para os órfãos de Succession, foi um tipo muito específico de consolo: menos ironia, mais tragédia, mas o mesmo fascínio por dinastias construídas sobre ruínas emocionais.


The Beast in Me — Netflix
Um thriller psicológico que cresce no detalhe, na sugestão e na instabilidade emocional dos personagens. The Beast in Me não aposta no susto fácil, mas na erosão lenta: identidade, culpa, desejo e violência como forças que disputam o controle por dentro. Em 2025, foi uma dessas séries que talvez não tenham feito barulho massivo, mas permaneceram com quem assistiu — incômoda, elegante e cheia de camadas.
Severance — Apple TV+
A mais angustiante ficção corporativa da década. 2025 reforçou que Severance não fala apenas de trabalho, mas da fragmentação da identidade, da alienação como política e da falsa promessa de equilíbrio entre vida e produção.


Hacks — HBO Max
Uma das mais bonitas narrativas sobre envelhecimento, vaidade e reinvenção na televisão recente. Hacks segue mostrando que a comédia pode ser um território radicalmente político quando fala do tempo que passa.
The Morning Show — Apple TV+
Irregular, mas sempre sintomática. Em 2025, a série manteve seu posto como um espelho distorcido — e às vezes incômodo — de poder, imprensa, reputação e espetáculo emocional.


Billy the Kid — MGM+
A conclusão da série que desconstruiu o mito do fora-da-lei como figura romântica é a pérola escondida de 2025. Aqui, o western virou um estudo sobre juventude, impulsividade, violência estrutural e a fabricação de heróis.
Chief of War — Apple TV+
Um épico que prefere a fratura ao heroísmo. Colonização, território, identidade e guerra vistos sem verniz. Uma das produções mais ambiciosas do ano em escala e tema. Nichado, não nego, mas mega interessante.


Only Murders in the Building — Disney+
Não vou me justificar por simplesmente adorar Only Murders in The Building. Seguiu funcionando como entretenimento elegante, metalinguístico e afetivo. Mistura de crime, solidão urbana e amizade improvável que continua a acertar no tom.
As Esquecíveis: quando a promessa não se cumpre
E há, claro, as séries que passaram e para mim são injustificáveis. Algumas com expectativa demais, outras com pouca alma desde o começo. Entre as chamadas “Esquecíveis”, o critério não foi a falta de talento envolvido — que quase nunca falta —, mas a falta de risco. São obras que obedeceram aos códigos do mercado, acertaram no acabamento, mas não arriscaram linguagem, forma ou discurso. Em um ano marcado por maturidade, densidade e desconforto produtivo, elas acabaram soando pequenas.
The Buccaneers — Apple TV+
Para mim é ofensiva com Edith Wharton. Bonita por fora, frágil por dentro. The Buccaneers investe mais em figurino e superfície do que em densidade emocional. Passou como ruído: fazia barulho na estreia, mas não permaneceu na memória. Mas volta para mais uma rodada de cenas dramaticamente pífias e uma trama sem sentido.
Etoile — Prime Video
Uma ideia que nunca encontrou seu próprio tom. Oscila entre homenagem e caricatura, sem alcançar nem a leveza da fábula nem o peso do drama. Ballet merecia mais.


And Just Like That — HBO Max
Insistiu em existir mais como marca do que como narrativa. Em 2025, ficou ainda mais claro o esgotamento criativo de um universo que já disse o que tinha para dizer. Deu um adeus manchando seu legado, o que fãs de carteirinha não perdoam.
The Old Guard — Netflix
Começou como promessa de franquia forte, mas mostrou dificuldade em sustentar seu próprio mundo. Muito conceito, pouca permanência.


The Twisted Tale of Amanda Knox — Disney+
Mais um true crime que acrescenta pouco a um caso já exaustivamente explorado. Informação há; reflexão mais profunda, nem tanto.
Merteuil – The Seduction — HBO Max
A estética tenta compensar a fragilidade do texto. Seduz no visual, mas não sustenta o jogo psicológico que promete. Está no patamar negativo de The Buccaneers.


O que 2025 nos contou
Se eu tivesse que resumir 2025 em uma palavra, seria: amadurecimento. A televisão se afastou um pouco da lógica do “viral” e voltou a investir em densidade, construção de personagens e comentário social. As melhores séries do ano falam de poder, trabalho, política, classe, identidade, trauma, sobrevivência. Não por acaso, são também as que mais demoramos para esquecer.
Não foi um ano de unanimidades absolutas, mas foi um ano de consistência. Um ano em que a TV nos pediu paciência, escuta e, muitas vezes, desconforto. E talvez seja exatamente isso que a boa televisão deva fazer.
Ela não existe para nos poupar do mundo. Existe para nos obrigar a olhá-lo de frente. Qual o seu ranking?
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