Há um pouco cansativo no trailer final de Stranger Things: a insistência quase obsessiva na ideia de “uma última vez”. Está na voz de Hopper, ecoa na ameaça de Vecna, reaparece como mantra emocional. Entendo o impulso. É o fim de uma série que moldou a cultura pop da última década, criou ícones, ressuscitou músicas, definiu uma geração de fãs. Mas repetir isso à exaustão soa menos como força dramática e mais como sublinhado desnecessário. O hype já existe. Está alimentado há anos. Não precisa ser explicado.
Esse excesso diz muito sobre o que realmente está em jogo. Não é apenas a batalha final contra Vecna, nem o destino de Hawkins. É o medo do depois. Os atores sabem. Os criadores sabem. O trailer carrega uma ansiedade que vai além da narrativa: a de não decepcionar, a de não entrar para a lista de finais que viraram advertência cultural. O fantasma de Game of Thrones paira ali, silencioso, mas presente. Será que Stranger Things consegue escapar dessa armadilha? Será que alguém, afinal, supera esse trauma coletivo?



Narrativamente, o trailer é claro no que sugere, mesmo quando tenta parecer enigmático. Tudo converge para um desfecho sacrificial. Eleven sempre foi apresentada como exceção, arma, experimento, ponte entre mundos. Desde o início, sua existência cobra um preço. Ela não é apenas a garota com poderes; é o elo instável que sustenta o equilíbrio entre real e invertido. E quanto mais a série avança, mais esse fardo se torna inevitável. O trailer reforça essa lógica ao enquadrá-la não como heroína triunfante, mas como alguém que carrega o peso final da escolha.
Para mim, está desenhado: Eleven vai se sacrificar para salvar o mundo. Não necessariamente de forma literal ou definitiva — a série sempre gostou de ambiguidades emocionais —, mas como gesto final de ruptura. O sacrifício aqui não é só morrer. É abrir mão de uma vida possível, de uma normalidade recém-conquistada, de um futuro que ela mal começou a imaginar. É fechar a porta que ela mesma manteve aberta por anos. Dramaticamente, é coerente. Tem eco trágico. Fecha o arco de uma personagem criada para ser usada e que, ao fim, escolhe.

É por isso que o excesso de “última vez” me incomoda menos pelo cansaço e mais pelo ruído. Stranger Things não precisa gritar que está acabando. O trailer já comunica isso no olhar dos personagens, na escala da destruição, na forma como a infância dá lugar, definitivamente, a algo mais duro e adulto. A repetição soa quase como insegurança, e talvez seja mesmo. Porque encerrar bem é mais difícil do que começar com brilho.
Se o final vai agradar a todos, é outra história. Mas o trailer sugere que os criadores entenderam algo essencial: não se trata de vencer Vecna, e sim de aceitar o custo dessa vitória. E, nesse sentido, Stranger Things parece menos interessada em competir com Game of Thrones e mais disposta a assumir seu próprio preço emocional. Se isso será suficiente, só o episódio final dirá.
Descubra mais sobre
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.
