Meu Pai é um filme sensível e muito duro. Adaptado da peça de mesmo nome, do diretor Florian Zeller, traz uma atuação precisa e sem adjetivos suficientes de Anthony Hopkins. Em um ano diferente, o Oscar seria seu.

A trama é a única coisa simples de um filme repleto de detalhes. Uma filha (Olivia Colman, outra que se destaca) lida com o pai (Hopkins) em avançado estágio de Alzheimer ou demência, não sabemos ao certo. Nós acompanhamos a história da perspectiva de Anthony, um homem que em (aparentes) quatro dias vê o mundo ao seu redor mudar de forma assustadora e claustrofóbica. Seus raros momentos de paz são ouvindo suas árias favoritas (cujas escolhas dão dicas do que está realmente acontecendo). Quando tudo “se encaixa” para ele, assim como nós, não deixa de ser surpreendente. É de uma genialidade ímpar.

O roteiro teve a importante contribuição de Christopher Hampton (Ligações Perigosas e Desejo e Reparação), que traduziu o texto para o inglês e nos conduz nos desafinos que confundem, mas nunca perdem sua lógica, mesmo que essa lógica seja o desmantelamento da mente humana. É IMPOSSÍVEL não se emocionar.

Há muitos anos Anthony Hopkins não tinha tantos veículos onde pudesse compartilhar seu talento, como Dois Papas e agora, Meu Pai. Não foi à toa que Laurence Olivier, o “melhor de todos”, tenha citado Hopkins em sua biografia, como o melhor ator de sua geração. Quando ele entrega, não tem para ninguém.

Meu Pai, a peça chegou a ser montada no Brasil, com Fulvio Stefaninni no papel principal. Na Broadway, o desafio coube à Frank Langella, que venceu o Tony como Melhor Ator, em 2016. Zeller ganhou 3 prêmios Molière por ela.

A trilha sonora, de Ludovico Einaudi merece um post à parte. São poucas faixas, no estilo minimalista de Philip Glass, como As Horas, em um circular que dá o ritmo e a pungência da mente humana se desfazendo.

Que filme.

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