2021 e a coroação de The Crown

O ciclo do annus horribilis para a Família Real parece ser de 20 em 20 anos. Em 1992, com as separações, incêndios e escândalos, a Rainha Elizabeth II fez o histórico desabafo que veremos na 5ª temporada de The Crown. E quem presta atenção já identificou que 2021 está ali ó com 1992: falecimentos, pandemia, entrevistas bombásticas, brigas e acusações de racismo. Para piorar, em tempos de liberdade artística e de expressão, telefilmes e séries premiadas. Se você não é príncipe Harry ou Meghan Markle o ano não promete ser fácil.

A melhor e mais discutida temporada da série de Peter Morgan foi justamente a 4ª, com a entrada da princesa Diana na trama. Diana faleceu há 24 anos, mas o tempo não reduziu sua força na cultura pop. Ao contrário. Apenas quando Charles e Camilla, após mais de uma década de trabalho árduo de RP, passaram a serem menos atacados pela imprensa, a série da Netflix chegou para reacender o drama, reapresentando o conflito para toda uma geração que desconhecia o que aconteceu. Em 2022, quando completar 25 anos de sua morte, também teremos o filme Spencer tratando sobre a separação. Em resumo, vamos ainda falar muito de Diana e Charles nos próximos anos.

Para azar da Família Real, a experiência de Diana foi parcialmente revivida por Meghan Markle que, mesmo sendo uma mulher experiente e inteligente, foi massacrada pelo sistema monárquico comandado por Elizabeth II. Meghan virou o jogo, com o apoio de Harry, e estamos testemunhando a lei do retorno diariamente. Não acho que tenha nenhum santo na equação, mas vendo a história se repetir em The Crown certamente influencia a nossa percepção da narrativa.

A série começou com a intenção de resgatar as décadas de reinado de Elizabeth II, mas Peter Morgan jamais quis contar as notícias dos tempos atuais. No entanto, como a Família Real claramente não evoluiu, não é necessariamente culpa do show runner que fatos de 30 ou 40 anos atrás ainda soem dolorosamente atuais. O tempo passou, mas as atitudes e expectativas de dever são as mesmas, não importa o preço.

Diante de tudo isso, o trabalho do elenco e dos escritores de The Crown ganha outro peso. É muito mais delicado estar lidando com pessoas vivas, que sofrem as consequências do que o público interpreta. O fascínio pela Família Real só cresce porque por mais que resistam, são celebridades. The Crown, para nós, é o mais perto de um Big Brother que poderíamos sonhar e por mais que neguem, como nos alimentam o drama!

Praticamente todo o elenco foi indicado ao Emmy desse ano. As chances maiores são de Emma Corrin como Atriz, Gillian Anderson como Atriz Convidada e Melhor Série Drama. E, de quebra, Oprah Winfrey certamente vai levar o prêmio pela sua histórica entrevista com Meghan e Harry. Estou falando, a Rainha vai ter que reinventar a narrativa ou assumir que 2021 foi annus horribilis 2.0. E mal chegou à metade…


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