Nunca foi sobre Ted Lasso

Ted Lasso entrou nas nossas vidas em um período sombrio de pandemia, com leveza (aparente), humor e uma proposta: nos pediu para “acreditar”. Virou febre.

Ted (Jason Sudeikis), um técnico por fora do futebol, chega em Londres com a missão de assumir o comando do AFC Richmond, mesmo sem ter noção do esporte. Na verdade, Rebecca Welton (Hannah Waddingham), recém divorciada e dona do time, queria o fracasso da equipe, como forma de humilhar seu ex-marido Rupert (Anthony Head) que apreciava mais o futebol do que seus vários casamentos. Ted esbarrou com pessoas em crise, com ceticismo, com diferenças culturais, com a pressão da expectativa e foi transformando a vida de cada um, tudo enquanto escondia de todos seus próprios dramas de uma morte traumática de seu pai, seu divórcio e suas crises de pânico. Embalado em mensagens abertamente doces, sem perder a profundidade dos temas abordados, Ted Lasso nos fez acreditar em um mundo possivelmente melhor.

A série sempre foi escrita para durar três temporadas e foi o tempo perfeito. Deixou no ar um possível spin-off, mas torço para que esperem a poeira baixar antes de sairem na cauda do sucesso. Será difícil superar o que trouxeram e portanto injusto com qualquer coisa similar.

Vamos aos spoilers e arrasar as esperanças antes de ressaltar os positivos.

Para não fugirem da trolagem com os #TedBeccas, abriram o episódio esfregando sal na ferida aberta, sugerindo que algo finalmente teria rolado entre Ted e Rebecca, mas claro que era apenas provocação. Foi uma escolha consciente dos roteiristas de usar vários clichês, menos esse. Ted e Rebecca podem ser almas gêmeas, mas também representam a esperança de um relacionamento equilibrado entre homens e mulheres, infelizmente para quer torcia, sem sexo. Amigos, parceiros e confidentes, mas igualmente responsáveis. Ted sabe que tem que estar perto do filho Henry (Gus Turner) e coloca sua família biológica antes de tudo, como é certo. Rebecca ficou com a família adotada e cuidando de sua liberdade emocional de finalmente superar seu divórcio, encontrando amor e família como Tish previu. E ambos foram finais felizes e merecidos. Sem esquecer que está no ar uma reconciliação entre Michelle (Andrea Anders) e Ted.

E está aí, mais uma vez, a inteligência e respeito de Ted Lasso com seus fãs: nunca força a mão, mas faz carinho na gente. Keeley (Juno Temple) não emendou um novo relacionamento, também deixando no ar a reconciliação com Roy (Brett Goldstein). Em termos de ‘amor’, o mais arrebatador foi mesmo do de Beard (Brendan Hunt), que o separa de Ted quando decide ficar em Londres para se casar com Jane (Phoebe Walsh).

Sem surpresa, todos mesmo Rupert, ficam bem no final da série. Interessante que assim como Barry e Succession, Ted Lasso questiona se nós podemos mudar de verdade e diferentemente das duas, nos dá uma esperança. Se não é possível mudar quem somos, podemos aceitar, como diz Trent Crimm (James Lance) ou, como melhor coloca Higgins (Jeremy Swift): “Se continuarmos pedindo ajuda e aceitando quando precisamos, então podemos estar no caminho para melhorar”, ele sugere. O que é reforçado no discurso de Ted aos jogadores abalados com a despedida, no qual ressalta que aprendeu sobre eles eram e acompanhou quem eles estão se tornando. É o Ted Lasso Way!

Outra mensagem que reforça o estilo de Ted é que não é apenas a vitória em campo, mas a evolução pessoal. O AFC Richmond ganha o jogo com o West Ham, mas perde o título porque o Manchester City vence, ainda assim ganha um lugar na Champion’s League. Quem não curte futebol não entende a emoção (e estão perdendo).

Quase todas as tramas foram amarradas: Rebecca estabelece sua nova família com o holandês misterioso (Matteo van der Grijn) – um piloto que reencontra no aeroporto- e sua filha. O livro de Trent é um bestseller. Roy subsitui Ted, com Beard e Nate como seus assistentes. Keeley e Barbara (Katy Wix) se estabelecem firmes como executivas. Sam (Toheeb Jimoh) é escalado para seleção nigeriana. Jamie se reconcilia com seu pai. Nate e Jade (Edyta Budnik) engatam um relacionamneto sério. Beard e Jane se casam. Dra. Sharon Fieldstone (Sarah Niles) passa a fazer parte da equipe fixa do AFC Richmond. Em vez de vender o time e ficar bilionária, Rebecca vende as ações para os torcedores e fica com 51%. Ela e Keeley vão investir em uma equipe feminina de futebol no Richmond. E Ted está feliz em Kansas City, colmo técnico do time de futebol de Henry na escola.

Eu senti falta de um uso mais envolvente da trilha sonora nessa temporada, houve alguns momentos muito professorais no discurso, mas sigo apaixonada e grata por Ted Lasso. As pessoas apostam na dica do título do livro de Trent para o spin-off, ou a continuaÇão: The Richmond Way. Porque Ted nos explica mais uma vez: “Não é sobre mim. Nunca foi.” E mais ainda, suas últimas palavras são as que devemos levar conosco: ressentimentos não nos fazem crescer. “Seja um peixinho dourado”, ele ensina à Henry como já tinha feito à Sam no primeiro episódio da série. E com uma memória mais curta e perdão no coração, sempre seremos vitoriosos. Acreditem em Ted Lasso!


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