A memória de um peixinho dourado de Ted Lasso

No segundo episódio da primeira temporada, ao ver Jaime maltratando Sam, Ted Lasso chama o jogador cabisbaixo para uma rápida conversa.

TED: “Sam, você sabe qual é o animal mais feliz da Terra? É um peixinho dourado. Você sabe porque?

Sam Obisanya: “Não.”

Ted Lasso: “Tem memória de dez segundos. Seja um peixinho dourado, Sam

Desde então, o código “peixinho dourado” é tudo que Ted tem a dizer quando a situação demanda maturidade, superioridade e empatia. A vida é curta e não merece ser vivida com rancor. A dois episódios da suposta conclusão da série, é o que ele nos recomenda. Esqueçamos a traição de Nate, a natureza maligna de Rupert e sigamos em frente. Em um episódio com toques de pieguice que sempre estiveram presentes, Ted Lasso foi todo perdão, sem esbarrar nas cenas de discurso que interromperam nossa conexão em pelo menos dois episódios da temporada. O recado aqui foi curto e direto, o que sempre funciona melhor. Vamos relembrar.

Semana de amistosos, o Richmond AFC está bem no campeonato e tem vários de seus jogadores convocados para as seleções de seus países, um sinal de grande prestígio pessoal e de equipe. De todos, embora esteja sendo apontado como artilheiro, apenas Sam é ignorado e excluído, ele sabe a razão e mantém o sorriso no rosto, mas está devastado por dentro. Já voltaremos a ele porque a maior notícia da semana é a demissão de Nate do West Ham United. Pois, é! O que houve?

Obviamente quase todos, assim como eu, celebraram o que parece ser a ‘derrota’ de Nate. Menos Ted, claro, que se preocupa com o ex-amigo. Ele questiona a alegria de Beard: “é mau carma rir de mau carma”, ou seja, melhor ser “peixinho dourado” e manter o coração limpo. É uma recomendação cabalista, aliás. Desejar ou rir da infelicidade alheia é plantar no seu caminho as sementes de julgamento, em outras palavras, a gente atrai o que deseja. Para os outros também. O recado de Ted confere com a realidade, porque vemos um Nate desolado em casa, tão deprimido que literalmente se arrasta para casa dos pais, onde volta a agir como um menino. Ele não diz o que houve, mas, considerando como é Rupert e que Nate se recusou a obedecê-lo, imaginamos imediatamente que ele humilhou o ‘wanderkid’ depois da rejeição, mas foi ao contrário. Nate – em um aparente rompante do antigo Nate – pediu demissão. Estar apaixonado por Jade tirou dele aquele monstro invejoso e rancoroso. Porém mudar de atitude não apaga o passado e ele está sem saber o que fazer, mais por se sentir mal do que fez do que pensar o que agora?

Consequências. A pegada da estratégia do peixinho dourado é que é muito mais difícil do que aparenta. Esquecer só ajuda à frente, não altera o caminho anterior. Nate está amargurado com o monstro que foi maltratando pessoas no caminho, mas ainda tem pavor de seu pai. Em Ted Lasso os temas podem ser profundos, mas são rápidos. Aquela figura paternal opressora que destruía a alma de Nate é outra agora, ele sente a tristeza do filho. Se achando sozinho, ouvimos Nate tocar violino, um talento escondido e jamais desenvolvido porque as críticas paternas o convenceram de que nunca seria bom o suficiente. É quando finalmente pai e filho têm uma conversa honesta, onde se desculpam e Nate finalmente ouve que o Sr. Shelley lamentar ter sido tão duro com Nate, finalmente dizendo que o admira e o ama. Pronto, Nate fez a transformação completa. Escondido vai até os vestiários do antigo time e deixa tudo impecável para um surpreso Will, com um pedido de desculpas por escrito. Will é puro peixinho dourado. Nenhuma palavra para Ted, no entanto. A série está guardando esse papo para breve.

Nesse tema, temos momentos divertidos entre Danny e Van Dam. Suas seleções vão jogar um amistoso e para o astro mexicano, a amizade dos dois fica nos bastidores. No campo são inimigos. Um irreconhecível e agressivo Danny literalmente quebra o nariz do goleiro no jogo, mas no reencontro após a partida é o mesmo de sempre, pra cima e bacana. O goleiro fica confuso, mas peixinho dourado, peixinho dourado!

Já falo de Keeley, Roy, Ted e Rebecca, antes vamos à Sam.

Quando Sam se recusou a deixar o AFC Richmond para voltar para Nigéria, comprou um inimigo implacável em Edwin Akufo, um sempre hilário e preciso Sam Richardson. Akufo está por trás da exclusão de Sam da seleção africano, ameaça destruir o restaurante com uma competição injusta e sendo o desagradável de sempre.

Mas não é apenas Sam que Akufo alucina. Ele quer criar uma competição elitizada dos melhores times e conta com o apoio de Rupert, que convence Rebecca a participar da discussão. Como única mulher na roda, ela está insegura, mas se veste da persona de mulher forte e encara as grosserias, as piadas sem graça e a presença incômoda do ex. Mas há algo no projeto que a incomoda, o afastamento do público, a exclusão dos mais pobres e ela ganha voz colocando todos aqueles marmanjos – crianções, como ela confronta – no lugar. Claro que a reação de Akufo não é nada tranquila, mas a situação ajuda a Rebecca a finalmente superar sua mágoa com Ruppert. Aliás, falávamos de um vilão sem dimensões, né? Esqueçamos isso. No ótimo monólogo de Rebecca descobrimos a vulnerabilidade de Ruppert, que não desfaz a impressão que ele ainda é o fodão que demitiu Nate, mas que percebemos que efetivamente sentiu quando o técnico deu um basta na relação abusiva dos dois. Mais ainda, com uma nova assistente, Rebecca vê que o ex-marido a ouviu quando ela o aconselhou evitar seus erros anteriores com a nova esposa. Rupert sendo Rupert entende o clima como uma oportunidade e tenta beijá-la, mas Rebecca já o superou. Não aceita e procura por Ted… CALMA, ainda não é #tedbecca (mesmo com o soldadinho de plástico verde estar preso à caixa de fósforos que Tish a alertou), é que no início da temporada Rebecca estava consumida pela vingança como motivador para vencer, agora ela pede à Ted a vitória, mas porque quer ganhar apenas. Não precisa provar nada para ninguém.

Deixei Keeley e Roy para o final. Como super anunciado, Jack deixa a ex-namorada numa enrascada. Tira o investimento da firma, o que leva a nossa RP querida a ficar sem trabalho, sem namorada e sem saber o que fazer. Keeley passa dias sofrendo sozinha, não quer falar com ninguém, nem Rebecca ou Roy. Falando nele, mais uma vez Phoebe é a catalizadora de mudanças. Ela força o tio a usar roupas coloridas (ele não nega nada à ela) e traz Jamie para família. Ficou bem obvio que em breve o jogador vai virar padrasto da menina porque o clima entre ele e a irmã de Roy foi gritante. Mas é quando vai deixar a sobrinha na escola e reencontra a professora dela que Roy percebe que não pode mais passar um dia sem se desculpar com Keeley. Ele escreve uma carta (um bilhete) e é forçado a ler em voz alta para ela. Pede desculpas, reconhece que ele errou com ela e finalmente diz que a ama. Quando pensamos que Keeley vai finalmente se erguer sozinha, não, ela e Roy estão juntos novamente. Mas sabe o que mais? Isso é maravilhoso. Keeley merece um companheiro que não a julgue pelo passado e que a apóie no futuro e sempre foi Roy. Para melhorar, Rebecca é sua nova investidora e Barbara, aquela chata? Dá um fora em Jack e fica trabalhando com Keeley. Um final feliz que não é nada ruim no meu livro! Gostei!

A questão agora é ser peixinho dourado…

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