Em 1978 a banda Sex Pistols sacudia o Reino Unido e um grupo de fãs fieis os seguiam por todas apresentações, passando a fazer parte indireta do grupo e direta do movimento cultural que começou dentro da loja de Vivienne Westwood e de Malcolm MacLaren. Entre os jovens estava Susan Janet Ballion, mais tarde conhecida como Siouxsie Sioux.
Como muitos de sua geração, Siouxsie vislumbrou no punk rock uma forma de se expressar e à frente da banda Siouxsie and The Banshees fez imediato sucesso com o público e a crítica, virando ícone do rock e da moda. Seu primeiro single de sucesso foi uma estranha melodia oriental, transformada em Hong Kong Garden, hoje um clássico. Porém, mesmo sendo um sucesso precisou o gosto preciso da diretora Sofia Coppola para transformar a canção em clássico literal. Isso mesmo, quando ela escolheu Hong Kong Garden para uma cena importante de seu filme, Marie Antoinette, de 2006, resgatou o sucesso punk e o atualizou. Tanto que, em 2023, entrou no episódio de abertura da segunda temporada de And Just Like That em uma homenagem à Vivienne Westwood e também, à Rainha francesa, pois era uma referência a um baile de máscaras. Mas chegaremos lá.
Hong Kong Garden colocou Siouxsie and the Banshees nas paradas britânicas e depois, mundiais. Hoje apontada como um dos marcos do que viria a ser chamado de movimento ‘new wave’, nasceu casualmente de um ensaio da banda. Foi o guitarrista John McKay que tocou o riff na guitarra, ainda em 1977, batizando a melodia de People Phobia. Foi Siouxsie que alterou o nome ao escrever a letra, fazendo uma referência a um restaurante de comida oriental em Chislehurst High Street, Londres, que era alvo de ataques racistas e xenófobos de skinheads. Aliás, o Hong Kong Garden continua funcionando no mesmo endereço até hoje! De qualquer forma, a vocalista frequentava o local e se irritava quando os funcionários imigrantes eram atacados.
Segundo Siouxsie lembrou anos depois em uma entrevista, ela mesma queria “chutar a cabeça de todos os skinheads” por conta do preconceito e violência. “Isso me fez sentir tão impotente, sem esperança e doente”, disse ela, que expressou toda essa crítica na canção.


A gravação de Hong Kong Garden foi completada em apenas dois dias (depois que trocaram o produtor) e inovou no registro da bateria que passou a influenciar todo som pós-punk depois de lançada, entrando para o primeiro álbum da banda, Voices. Em 2014 ganhou uma versão remasterizada e com a versão orquestrada que entrou no filme de Sofia Coppola, talvez hoje a mais tocada delas.
No filme, Hong Kong Garden é a canção tocada pela orquestra no baile de máscara no Opéra de Paris, que Marie Antoinette e o rei vão escondidos, uma vez que suas identidades não pode ser identificada. É lá que ela conhece o homem que virá a ser o amor de sua vida. Sophia tem como assinatura pessoal o anacronismo, que usa deliberadamente para conduzir o público moderno ao momento histórico que está na tela, algo abertamente copiado em The Great e Bridgerton. Portanto seu filme poderia se passar em uma França pré-revolução, mas a trilha sonora era toda de rock dos anos 1980s e até um All Star aparece entre as coisas da rainha. Mas no caso da canção de Siouxsie and The Banshees havia algo a mais. Por ser austríaca, Marie Antoinette sofria preconceito extra tanto dos súditos como dos nobres e é sobre xenofobia que Hong Kong Garden fala. Além disso, o movimento punk (ou new wave) era sobre transgressão, representada pelas máscaras do baile em um ambiente que ressalta tanto a sensação de isolamento e desconexão de Marie como sua busca por diversão identificadas nas canções modernas.

No caso particular de Hong Kong Garden, segundo consta, a diretora usava o hit como um ‘despertador’ da equipe, por isso havia também um elemento de ‘private joke’ entre eles. E de alguma forma, tem também um toque a mais quando foi escolhida para fechar o primeiro episódio da segunda temporada de And Just Like That. É a versão orquestrada – digna de um baile de máscaras – que entra na série, na referência da festa para qual Carrie está indo no Metropolitan Museum. Mas é também, a ligação entre Marie Antoinette, Sofia Coppola, Vivienne Westwood e Siouxsie Sioux: ícones, pioneiras e conectadas. Just like Carrie.
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