O episódio “Treat or Trick” (Truque ou Doce, a senha de Halloween clássica) de And Just Like That foi ambos com os fãs de Sex and The City. Do início ao fim, mesmo sem a narração de Carrie, seguiu a fórmula ‘clássica’ da série original, portanto o mais nostálgico que poderíamos esperar.

Como cantei durante as gravações, um ‘acidente’ coloca um novo homem na vida de Carrie (Sarah Jessica Parker), que a convence de que não esqueceu como é andar de bicicleta, numa alusão de que sim, terá uma vida afetiva pós-Big. Já sabemos que não necessariamente com alguém ‘novo’, porque a cada episódio temos um teaser da volta de Aidan (John Corbett).
Ainda vejo em cada episódio uma tentativa dos showrunners de endereçarem as críticas passadas, mas já falaremos disso. A grande e boa diferença de And Just Like That é que vemos algo mais de ‘ensemble cast’, mesclando personagens socialmente sem que dependam de Carrie como ligação. O entrosamento está mais visível e é positivo, mesmo que ainda ‘falte algo’. Nya (Karen Pittman) tem o apoio de Carrie e Seema (Sarita Choudhury) e Lisa (Nicole Ari Parker) segue como bestie de Charlotte (Kristin Davis). Falando em Charlotte, sua relação saudável com Harry (Evan Handler) é umd os melhores segredos da série, que não precisa trazer dramalhões ou crises para duas pessoas que genuinamente se amam e se entendem.
O que infelizmente And Just Like That fez, tortuosamente, foi revelar o quanto Carrie e Miranda são problemáticas. Carrie, repito sempre, sem problemas materiais nem mesmo emocionais, está em piloto automático. Superar a viuvez certamente é um desafio, mas como esbarra no drama, tem sido evitado. É como a personagem e sexo: ela ouve, ela não julga mas jamais compartilha. Sabemos que a química com Mr. Big (Chris Noth) era insuperável (afinal ela era obcecada por ele e ficou feliz depois que se casaram), mas jamais descobrimos como ela é entre quatro paredes, ao passo que vimos Charlotte, Samantha e Miranda à exaustão. Carrie é a mulher ideal para todas e mantém seu mistério, bravo. Porém em tempos digitais narcisistas, esse mistério é também seu problema…


Miranda (Cynthia Nixon) e sua racionalidade sempre a colocaram na cadeira da chata do grupo, sempre opinando e julgando os outros e na hipocrisia natural da vida, sempre fazendo o contrário do que pregava para os outros. Sua paixão por Che (Sara Ramirez) foi cruel com Steve (David Eigenberg) e agora And Just Like That está ressaltando o quanto Steve era a pessoa errada e passivo agressiva que ela deveria ter deixado pra trás. E, como’punição’ pelo que fez, Miranda está se submentendo a uma rotina insana de acordar à 5h da manhã, sair de Hudson Yards (na 30 st) ir à até Morningside Heights (na 116 st, onde a Universidade de Columbia fica) e atravessar Manhattan para estar no Brooklyn a tempo de fazer o café da manhã para o filho e o ex. Mesmo que o trajeto seja sair de Hudson Yards para o Brooklyn e depois Morningside Heights? Impossível. Para quem morou em NY e estudou em Columbia já aviso: ficção pura. Mas sim, se isso fosse remotamente impossível, seria um pesadelo. Che também ganhou sua sentença ao se submeter a ouvir o que as pessoas achavam dela na pesquisa de qualidade de sua série. Sim, já estive em um Focus Group e é exatamente como mostraram. É a receita para destruição de qualquer ego. Pobre Che.
E é isso que leva ao erro manipulador que geração pré-milleniall não entende. Se não se viu fazendo nada de errado ou que entenda que precise ‘pedir desculpas’, não o faça. O que estamos vendo com as duas personagens efetivamente contextualiza um pouco mais, mas não elimina os erros da primeira temporada. Sigam em frente e sejam felizes, parem de torturar Che ou de tentar humanizar Miranda. Ela não consegue mudar. Sua ‘surpresa’ de ver Carrie saindo e paquerando ficou coerente com a Miranda que conhecemos, mas só ficou incerto se ela estava com inveja de Carrie estar vivendo uma vida saudável ou se estava irritada porque Carrie está procurando homens.

Com a missão de ser a ‘nova’ Samantha Jones (Kim Catrall), Seema é a personagem mais interessante de toda série, embora mais classuda que sua antecessora. Taí, a série que queria mesmo ver era Samantha Jones e Seema Patel em Nova York. Seria um spin-off incrível! Sem essa semente, reescreveram um episódio de Sex and The City para Seema. Antes de Smith Jerrod (Jason Lewis), Maria (Sonia Braga) ou Richard Wright (James Remar), Samantha foi apaixonada por James (James Goodwin). A prova de que poderia ter sido ‘amor’, foi quando ela descobriu que ele não era ‘bem equipado’, mas ainda assim insistiu em ficar com ele. Para ‘compensar’, ela usava o vibrador até que ele, ofendido, terminou com ela por causa disso. Pois é gente, isso foi em 1999. Em 2023, vemos Seema conhecer um homem que adora, mesmo sabendo que ele sofre de disfunção erétil e precisa de uma bomba peniana. Ele também se ofende quando ela apela para o vibrador e o relacionamento termina. Sério mesmo? Uma metáfora nada sutil para o que estamos encarando e vivendo. É o tal do sexo B+ que Seema tolera. Nós também…
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