2023 é o ano do centenário do nascimento de Maria Callas, um dos maiores fenômenos da ópera e da cultura pop do século 20. E também completa os 70 anos do que é considerado a gravação definitiva de Tosca, um dos papéis mais famosos do soprano.

Nascida em Nova York, filha de emigrantes gregos, María Kekilía Sofía Kalogerópulu, Maria (que simplificou o sobrenome para Callas quando subiu aos palcos), cresceu em Atenas, depois que seus pais se separaram e onde começou seu estudo de canto clássico. Sobreviveu à guerra, lutou contra o peso e os padrões estéticos e seu comprometimento religioso com sua Arte fizeram dela uma artista complexa, amada e criticada em iguais medidas. Ela apreciava papéis femininos fortes e densos, trazendo óperas bel canto de Donizetti, Bellini, Rossini, Verdi e Puccini para o repertório obrigatório de todos que a seguira, sempre com interpretações realistas e profundas de cada papel.
Com temperamento irascível, conflitante e instável, Callas ficou conhecida como La Divina, frequentemente separando suas personas. Havia a Maria, insegura, problemática e a arrogante Callas, perfeccionista e intocável. Seu auge foi justamente nos anos 1950s, o período no qual se reinventou (perdendo 28 quilos) e se tornando ícone fashion e também para nossa sorte, o período onde fez várias gravações completas de seu trabalho, preservando a voz inigualável.

Callas começou a despontar no cenário lírico no final dos anos 1940s, se apresentando nos maiores teatros voltados para ópera, como La Scala, Covent Garden e Metropolitan. Suas interpretações nos palcos e nos discos de Lucia de Lammenor, La Traviatta e Norma são obrigatórias para amantes da música clássica. E, em especial, Tosca.
Gravada em agosto de 1953 – há 70 anos – é considerada um marco na história e uma das gravações de ópera mais vendidas até hoje. Conduzida Victor de Sabata e reunindo Maria Callas com dois de seus colegas mais próximos, o tenor Giuseppe di Stefano e o barítono Tito Gobbi. Das lendas dos bastidores há versões de que de Sabata não ficou satisfeito com a leitura de Maria do verso “E avanti a lui tremava tutta Roma“, a frase dita por Tosca depois de matar Scarpia e a obrigou a repetir a leitura por meia hora até acertar o tom considerado até hoje, inigualável. É tão definitiva que quando Herbert von Karajan fez sua versão, nove anos depois, costumava ouvir a gravação de 1953 para ter como base. Segundo o produtor do maestro alemão, ele sofria com entrada de Tosca no terceiro ato e disse sobre o arranjo de De Sabata: ‘Ele é certo, mas não posso fazer isso. Esse é o segredo dele.'”

Desde 2020 que essa gravação em particular foi listada pela Biblioteca do Congresso americano como peça a ser mantida para preservação no Registro Nacional de Gravações por ser “cultural, histórica ou esteticamente significativa”. Sem surpresa, Tosca tem a ária que é sem dúvida o manifesto pessoal de La Callas: Vissi D’Arte, que diz tudo que ela representa.
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