E Madonna bate seus contemporâneos Michael Jackson, George Michael e Whitney Houston completando 65 anos de vida em meio aos preparos de uma turnê para celebrar de 40 anos de carreira (completados em julho de 2023, quando fez o aniversário de lançamento de seu primeiro álbum). Não gosto de citar a idade dela porque Madonna representa um dos principais alvos do etarismo há pelo menos 25 anos. Mas é impossível. Conseguimos celebrar os 80 anos de Mick Jagger elogiando seu rebolado nos palcos, mas Madonna? É quase um “Como ousa ainda dançar depois dos 60?” Sim, misoginia e etarismo. Ela merece mais.

Se há algo que Madonna ensinou ao seu séquito mundial de adoradores é que força faz parte de seu legado. Baixinha, com voz pequena e um ego que é o triplo de sua estatura, ela nunca encarou negativas como limitadores. Se sua música é exposta à críticas mais duras por ser pop e não necessariamente complexa, sua personalidade sempre esteve pelo menos 20 anos à frente de todos, seja na moda, no discurso ou na Arte. Isso não tem como tirar dela.
Madonna Louise Ciccone teve uma trajetória que hoje pode se considerar ‘rápida’, porque virou estrela aos 23 anos e febre mundial aos 25. Comparada a Michael Jackson, no entanto, que era lenda desde pequeno, ela celebrava ter tido “uma vida” antes de virar ídolo. Tão irônico e jovem! Nos anos 1980s, quando falamos que o mundo era obcecado por ela é porque sua única rival nas capas de revistas ou perseguição de paparazzi era a Princesa Diana. Só para entender “o que era Madonna”. Ela era a mulher mais famosa do planeta, sem exagero. E amava.
O interesse por ela foi reduzido nos últimos 15 anos, com a força das redes sociais e outras estrelas (mais jovens) ocupando seu espaço. Por sempre estar falando de equidade, pan gêneros , entre algumas outras bandeiras, Madonna esbarrou com impopularidade entre conservadores e sua música não teve força suficiente para superar a forte competição. Nem seus filmes. Madonna que também antecipou a onda de documentários-realities que controlam a narrativa com o espetacular Truth or Dare ainda em 1990, é melhor quando é apenas ela mesma.
A grandiosidade e teatrilidade de shows hoje – com elenco de bailarinos e telas como apoio dos cantores – pode não ter sido criado por ela, mas certamente ganhou relevância por causa de Madonna. The Virgin Tour, em 1985, tinha dois bailarinos como backing vocals, mas a partir de True Blue foi aumentando e hoje é um show da Broadway or Cirque du Soleil. Todos copiam, ninguém chega aos seus pés.


Em 2023 o mundo segurou a respiração quando a notícia de que a cantora foi encontrada sem vida por alguns minutos em seu quarto, após os ensaios exaustivos da turnê de 40 anos, nos lembraram assustadoramente do destino de Prince e Michael Jackson. Ela ficou internada, oficialmente por causa de uma infecção bacteriana e apenas agora tem sido vista circulando e bem. Imortalidade é algo que infelizmente nenhuma estrela tem na Terra, mas não estamos prontos para ficarmos sem Madonna.
Seu projeto de uma biopic – Live to Tell – foi engavetado depois de dois anos de trabalhos intensos. Como era de se esperar, ela não quis entregar o projeto para terceiros escreverem ou dirigirem. Mas não foi por isso que não emplacou, claro. O tempo que ela sempre inseriu em suas letras como seu desafio ou antagonista, ela sempre canta que não tem o suficiente para perder, pode ter alcançado a corrida no campo que se revelou a pior: a idade. Aos 65 anos Madonna não fala mais com gerações mais novas. Até os fãs de Britney Spears, hoje todos acima de 30, ela até conseguiu tocar, mas está a anos luz de encantar as Swifties de Taylor Swift ou as fãs de Billie Eilish. Digo como testemunha em casa.


É uma pena para as gerações atuais porque se hoje a diversidade é algo possível, muito se deve ao pioneirismo de Madonna. Sexo, religião ou nudez nunca estiveram fora de seu horizonte. A busca por um mundo melhor, que vem de sua ligação com a Kaballah desde o início dos anos 2000, superaram as canções de amor independente que marcaram os anos 1980s. E aí é que está a graça: Into the Groove era uma menina que desafiava ao parceiro a acompanhá-la no ritmo (e não ela pedindo para que ele a deixasse segui-lo), Unapologetic Bitch já o descarta sem nenhum arrependimento por não merecê-la. Empoderamento – acima do feminino ou de gênros – sempre foi o coração da mensagem de Madonna, por quatro décadas. Há consistência em sua visão.
Dito tudo isso, estava ainda dividida em tentar ir vê-la no palco quando voltar na Celebration 40. Os detalhes de sua coreografia nem sempre são apreciados no palco e estava pensando em aguardar o bluray. Por outro lado, ela merece nosso amor e respeito. Mick Jagger rebola e faz shows aos 80. Quero Madonna até os 100. Temos anda 35 anos da Rainha, se tudo der certo! Não deixe-mos o tempo passar. Parabéns, Madonna!



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