And Just Like That: É tempo de virar a página e lidar com o presente

A segunda temporada de And Just Like That foi mais equilibrada do que a primeira, que dividiu muito os fãs em relação à detalhes superficiais (acharem que aos 55 as personagens estavam ‘velhas’) e outros mais delicados (a ausência de Samantha Jones, a morte de Mr. Big e o despertar sexual de Miranda), criando uma resposta morna para uma franquia tão querida. Não temos ainda a confirmação de uma terceira, mas no penúltimo episódio deixam ainda mais claro alguns dos desafios caso ainda tenha fôlego para mais uma temporada com Carrie Bradshaw e turma.

Primeiro um resumo do episódio e o que colocaram, depois uma perspectiva do que foi a temporada.

Há uma passagem de tempo incongruente e quando tem problema em And Just Like That parece que Miranda (Cynthia Nixon) lidera. Vimos no episódio passado que o estágio com o Human Rights virou uma posição mais significativa, em especial cobrindo a licença maternidade de sua chefe, mas piscamos ela saiu e voltou. Quantas semanas passaram? 12 semanas? Então em três meses nada realmente mudou. Ou tudo mudou porque o drama com as advogadas millenials parece ter sido resolvido e em apenas uma visita à ONU já colocaram mais um interesse romântico na vida da advogada. Pelo menos dessa vez ela não se tocou, mas sim, ela vai arrumar uma nova namorada e dessa vez uma ‘compatível’ com seus interesses e carreira profissional. Mais sobre o tema à frente.

Charlotte (Kristin Davis) vende um quadro caro para Sam Smith, mas em vez de celebrar está reagindo às expectativas de sua família que cobra dela participar da vida deles e abrir mão da dela sem sentir. Traçar o limite e resgatar a ‘divertida’ Charlotte virou algo importante para ela, meio que do nada porque ela é uma mãe perfeita e tem uma família perfeita.

Outra que tem a vida em equilíbrio e é feliz é Lisa (Nicole Ari Parker), que está em conflito com a gravidez não planejada e como ela se encaixa em sua vida já apertada. No momento em que isso virou um problema eu sabia que teria a virada da perda – tenho amigas que passaram por isso – e como ela está no trailer e no jantar de despedida de Carrie, veremos que haverá algo positivo no seu futuro.

Nya (Karen Pitmann) sobreviveu elegantemente ao choque de ver o ex-marido realizar seu sonho de maternidade com outra mulher, ainda que a dor seja ocultada por chuva de emojis e presentes caros para o casal. A mais apagada das novas amigas é a maior sofredora da temporada, mesmo com toda liberdade sexual que a solteirice providenciou. Ela sugeriu que Miranda ficasse um tempinho com ela até que tudo fosse resolvido com Steve, mas vemos que Miranda ficou bem à vontade por pelo menos uns seis meses no quarto extra. Abuso e absurdo para uma mulher como Miranda, insisto na tecla. A alternativa encontrada para manter Nya no círculo não funciona. Em especial depois que que descobrimos que Steve agora está em Coney Island. O que aconteceu com a townhouse do Brooklyn? Alô?

Então Steve: está se reerguendo, está feliz com seu novo empreendimento (o segundo em sociedade com Aidan (John Corbett) e não o vejo criando problemas para uma Miranda já mais calma. Que ele tenha aprendido a lição dele!

Antes de chegar ao casal principal, passamos por Anthony (Mario Cantone) cujo casamento e separação de Stanford Blatch é o pano de fundo de algo não explorado na série. Anthony sempre foi agressivo, grosso e hilário, mas depois que se apaixonou por Stanford, virou outro. Infelizmente a morte do ator Willie Garson, no meio das gravações e de forma inesperada, forçou mudar o arco do casal. Como já tinham ‘matado’ Mr. Big, os roteiristas evitaram usar até a COVID-19 como alternativa e desenharam um final para personagem um tanto fantasioso: largou tudo para cuidar de um cliente no Japão. Obviamente, mesmo trazendo novo interesse romântico para Anthony, tinham que fechar esse capítulo e – isso faz sentido apenas nos bastidores da série – transformaram Stanford em um monge budista que não retornará mais para Nova York. A cena foi particularmente emotiva para Sarah Jessica Parker e apenas quem sabe o quanto ela era próxima de Willie que entende por que Carrie vira o cosmopolitan em um único gole quando acaba a cena. Ficou sem sentido, mas bonito.

Seema (Sarita Choudhury) sofre a mesma ‘síndrome de Samantha’: quando ganhou destaque, foi encostada. Seu apetite sexual é mais discreto do que sua antecessora, mas tratado de forma distanciada e sem contexto. Diferentemente de Samantha e sua aversão à compromisso, Seema ainda buscava a alma gêmea e parece a ter encontrado no famoso diretor de Hollywood. Parece apressado, sem cuidado ou carinho que ela merecia. Fico feliz por ela, mas foi escanteada.

E Che (Sara Ramirez), assim como Miranda, tem sido ‘punida’ com o fracasso do piloto, de ter que voltar a trabalhar como atendente em uma clínica veterinária e recomeçar do zero no circuito dos stand ups. Ela tem razão que é exaustivo ter que se explicar, se desculpar e tentar se encaixar em um universo que não é feito para ela. E não ressaltam algo importante: ela sabe sim se colocar sem se explicar. O peso da relação que Miranda trazia – com cobranças, dúvidas, drama – eram demais para ela e soube colocar o ponto final sem pestanejar. Já tem outro interesse romântico no horizonte e realmente torço para que sacuda a poeira. A grosseria que fez no uso de Miranda em seu material de piadas (algo que Mrs. Maisel teria feito também) faz realmente parte da vida de um comediante, mais uma prova de como Miranda está longe de ter alguma maturidade emocional ao reagir interrompendo a ex no que seria sua tentativa de se reeguer. Assim como fez com Steve, Miranda se mantém na vida de Che o suficiente para manter sua posição de comando na relação, mas, ao contrário de Steve, Che não topa o jogo. Bom para Che! Os problemas dela não passam por saudade de Miranda ou nenhuma dependência do que viveram. Isso é bom.

E o casal Bradshaw-Shaw? Obviamente os filhos de Aidan seriam problema para Carrie e Wyatt já desponta como um garoto perigosamente problemático. Ela vendeu o apartamento para ter um espaço maior com o namorado e os filhos dele, sem considerar que seria madrasta 24h, contando com um compromisso ocasional com os meninos, mas, o drama parece ser outro. A cena de Aidan chorando seria emocionante se não tivesse sido quase comicamente mal interpretada. Ele e Carrie efetivamente avançaram no tempo e resolveram os problemas. Aidan reconhece que os problemas que os separaram na quarta temporada de Sex and the City também tinham a ver com ele (mais sobre isso em breve), mas que depois de tanto tempo os dois estão prontos para retomarem sem cobrar mudanças, apenas as fazendo porque é algo que é hora de fazer ou fazem sentido. em outras palavras: não querem mais mudar um ao outro, as adaptações surgem e se resolvem porque querem estar juntos. Lindo, não fosse a bagagem que uma família traz. Fica em aberto se os dois vão conseguir superar o drama (mas o trailer do episódio final já responde ao problema).


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