Há 65 anos, na noite de 4 de abril de 1958, um crime chocou a polícia de Beverly Hills e logo ganhou as páginas de todos os jornais do mundo porque envolvia uma das maiores estrelas da história de Hollywood: Lana Tuner. A atriz tinha mudado para a casa em North Bedford Drive há poucas semanas. No segundo andar da casa, estava o corpo de seu namorado, Johnny Stompanato. Ele foi esfaqueado e morreu quase instantaneamente. O assassinato já geraria fofocas imediatas, mas a questão foi “quem” o matou: ninguém menos do que a filha de Lana, Cheryl Crane, uma menina com apenas 14 anos.

Lana era conhecida como ‘sex symbol’ desde sua adolescência, quando estreou no cinema. Entre seus sucessos mais recentes no final dos anos 1950s, estrelou filmes onde interpretou a esposa assassina insatisfeita em O Destino Bate À Sua Porta e foi indicada ao Oscar de melhor atriz por seu papel como a reprimida dona de uma loja em Peyton Place. Mas, para muitos, o maior papel de sua vida foi marcado por aquela trágica noite de abril.
A relação de Lana com Johnny Stompanato foi marcada por mentiras, chantagem e violência. O namorado era associado ao mafioso Mickey Cohen, de quem era ‘segurança’. Ele entrou na vida da atriz posando como um fã e empresário e, segundo ela, a verdade só veio à tona “tarde demais”, quando ela já estava apaixonada. A partir daí, tentava se afastar, mas sempre o aceitava de volta. Em algum momento ele passou a abusar dela fisicamente, algumas vezes na frente da filha dela, Cheryl. Porém algo foi definitivo naquela Páscoa de 1958.
Havia apenas três pessoas na casa e o público não acreditava que uma adolescente pudesse ter força para esfaquear um homem que era o dobro do seu tamanho. Portanto imediatamente começou a circular a teoria de que Lana estava usando a filha menor de idade para escapar da Justiça, uma versão que só não irrita mais a Cheryl do que a que a motivação teria sido ciúmes da menina com o namorado. Nas versões de Lana e Cheryl foi tudo mais simples, por isso tão trágico.
De alguma forma, a atriz se viu mais encorajada a enfrentar Stompanato, que era hiperpossessivo com crises de raiva violenta frequentes, tendo ameaçado divulgar fotos íntimas dos dois (que Lana alega terem sido feitos com ela inconsciente) e até cortar o rosto dela com uma navalha. Essa ameaça, segundo sua biografia, foi a gota d’água para romper com ele. Naquela noite, Lana esperava o pior e avisou a filha: “Vou terminar com ele esta noite, querida. Vai ser uma noite difícil. Você está preparada para isso?”. E foi mesmo violenta, com ele a xingando, sacudindo e a ameaçando novamente com cortes e surras. Mais ainda, disse que a mataria, assim como Cheryl e avó dela, Mildred. A discussão estava acontecendo no quarto, mas a menina ouvia tudo mesmo do primeiro andar, apreensiva com como seria a conclusão do confronto. Em algum momento, ela pegou uma faca na cozinha e subiu para a porta do quarto da mãe.

Segundo o relato de Lana, aos poucos Stompanato se conformou que o caso estava acabado e estava juntando suas coisas para sair. Ela teria escutado a filha do lado de fora e pedido para ela ir para o seu quarto. E aí tudo foi rápido. A atriz foi até a porta, com o namorado atrás ela. Cheryl entrou. “Eu realmente pensei que ela tivesse batido nele no estômago. Eles se juntaram e se separaram. Eu nunca vi uma lâmina,” ela testemunhou. Chocado, ele teria perguntado apenas “o que você fez”? antes de cair morto no chão.
Os fãs de conspiração usam os passos seguintes como prova de culpa de Lana: Cheryl ligou para o pai, Stephen Crane, e a atriz para um super advogado criminalista. Quando a polícia chegou, as duas já estavam ‘protegidas’. O julgamento parou a capital do cinema e teve até o depoimento do mafioso Mickey Cohen, que plantou a fofoca de que Cheryl o matou por outra razão: “A garota estava apaixonada por ele. Havia ciúme entre ela e a mãe. Ele era um cavalheiro. Isso é mais do que o resto de vocês, Hollywood, são,” declarou.
O júri de 12 membros chegou rapidamente a um veredicto unânime de homicídio justificável, mas a partir daí, as vidas de Lana e Cheryl jamais superaram o crime. Livros como Um Estranho no Espelho, de Sidney Sheldon, aludindo ao incidente, insinuava o que muitos ainda acreditam ser verdade: Foi Lana quem esfaqueou Stompanato e Cheryl assumiu a culpa. Não adiantou o processo judicial nem as biografias da própria Lana ou Cheryl para encerrar a teoria. O que não ajudou também foi o fato de que Cheryl revelou que passou por abusos sexuais tanto pelo ex-marido da mãe, o ator Lex Baxter, mais conhecido como Tarzan na TV como por Stompanato.

A imagem de Lana, após o crime, nunca mais recuperou a anterior, pois ao lado de Joan Crawford e Bette Davis, ficou marcada pela versão da diva irascível, hedonista se sem “sensibilidade moral”, expondo a filha à situações de abuso e se omitindo quanto à ajuda. Sem surpresa, Cheryl Crane fez duas tentativas de suicídio, se rebelou e teve problemas com drogas e bebidas. Homossexual, algo que sua mãe custou a aceitar, Cheryl encontrou a paz com sua parceira até hoje, a ex modelo Joyce LeRoy, hoje, Josh LeRoy.
Lana Turner faleceu em 1995, em decorrência de um câncer na garganta. De todos os filmes que participou, foi justamente o drama pessoal que ficou o fato mais marcante de sua trajetória em Hollywood. O livro de Cheryl, Detour, chegou a ser discutido como base um filme com atrizes como Madonna, Melissa Gilbert e Justine Bateman consideradas para interpretá-la com Kathleen Turner, Glenn Close, Dyan Cannon e Candice Bergen consideradas para fazer Lana. Nunca saiu do papel. Mas em breve isso vai mudar.
Em outubro de 2023, o roteista Terence Winter, considerado mestre do gênero gangster e autor de Boardwalk Empire se uniu à produtora Rachel Winter (Dallas Buyers Club) para adaptar A Murder in Hollywood: A história não contada do crime mais chocante de Tinseltown para o cinema. O livro que será lançado em fevereiro de 2024 é assinado por Casey Sherman, retrata “o caso de amor mortal entre a lenda do cinema Lana Turner e seu namorado gangster, Johnny Stompanato”. Ou seja, voltaremos a falar muito mais sobre o “parágrafo” que Cheryl se queixa há 65 anos. Sim, ela sabe que sempre que falam dela ou de sua mãe, há a menção do crime. Como evitar?

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