Quem a viu dançar em filmes que eternizaram a arte de Alla Sizova, certamente ficou de boca aberta. “Sizova voadora” era seu apelido e justificado. Linda, musical e extremamente talentosa, Alla foi uma das maiores bailarinas do século 20. Infelizmente – e visitaremos a razão – com menos passagens pelo ocidente, portanto o seu auge só pode ser conferido em filmes.Um deles é o balé A Bela Adormecida, de 1964. Na montagem que traz Yuri Soloviev como Príncipe Desirée, é o um sonho. Nascida em setembro de 1939, ela teria completado 85 anos em 2024, mas faleceu há 10, em 2014, por consequência de um câncer. Vale revisitá-la.

Em um país que reúne algumas das maiores lendas da dança, diz muito quando um artista se destaca. Contemporânea de alguns dos maiores nomes, incluindo Natalia Makarova, Mikhail Baryshnikov, Irina Kopalkova e Rudolf Nureyev, para citar apenas algumas lendas, Alla era admirada por todos eles.
Alla Ivanova Sizova nasceu em Moscou, poucas semanas depois que a Alemanha invadiu a Polônia e iniciou a Segunda Guerra Mundial. Portanto seus primeiros anos foram marcados por dureza e mudanças, com a família eventualmente evacuada para a região dos Urais até o fim do conflito.
Com a Paz, a família se estabeleceu em Leningrado (hoje São Petersburgo), onde a pequena Alla começou a estudar balé. Seu talento foi notado imediatamente e por isso foi aceita na prestigiada Escola Coreográfica de Leningrado (que mais tarde recebeu o nome de Agrippina Vaganova) onde fez história ao ser escalada para o papel da Rainha das Dríades em Dom Quixote antes de se formar. A graduação, aliás, ficou registrada em filmes e fotos. Ao lado de um jovem colega, Rudolf Nureyev, ela dançou o pas de deux de Le Corsaire e a performance dos dois foi tão acima do esperado que ambos foram direto para Kirov como solistas.

Os saltos impressionantes de Sizova viraram sua assinatura e em pouco tempo estava entre os principais da companhia, dançando nos primeiros anos papéis como Masha em O Quebra-Nozes, Princesa Florine e Aurora em A Bela Adormecida, Myrtha em Giselle e Katerina em A Flor de Pedra. Sua mentora era a também lendária Alla Shelest. Nos papéis onde a fluidez da técnica clássica era importante, ela se destacava, mas seu talento dramático fizeram de papéis como Julieta e Giselle igualmente icônicos, algo que sua impressionante elevação fez dela uma lenda.

Como é comum no balé russo, as parcerias são mantidas ao longo dos anos, o que significou que Nureyev era esperado estar ‘sempre’ com Sizova, dentro e fora do palco. Os dois dividiram um apartamento, mas reza a lenda que não se gostavam e como era de dois quartos, mesmo que fosse uma clara sugestão de que pudessem se casar, eles moravam separados na propriedade, cada um com um parente, ele com sua irmã, Rosa, e ela com sua mãe. Porém, como sempre dançavam juntos, Alla – assim como Yuri Soloviev – sofreu diretamente as consequências da deserção de Nureyev, em 1961. Ele, como parceiro de quarto na turnê e ela como sua partner, logo foram listados como suspeitos de terem conhecimento dos planos do bailarino, algo que eles obviamente não tinham. O processo de questionamento e a retaliação de não deixá-los viajar por muitos anos impactou a saúde mental dele e da mãe de Alla Sizova, que teve uma crise nervosa. Soloviev, anos depois, viria tirar a própria vida.
Após a saída de Nureyev, seu parceiro mais frequente passou a ser justamente Soloviev, algo que ficou lendário por ambos eram virtuosos. Em 1965, a bailarina se casou com um produtor e diretor de televisão, com teve seu único filho. Sofrendo com uma grave lesão nas costas, alguns alegam por causas de seus saltos, tiraram Sizova dos palcos por dois anos, mas retornou triunfante, sem perda de técnica e com ainda maior profundidade emocional. Nessa etapa, seu parceiro mais frequente era o jovem Mikhail Baryshnikov, com quem dançou até ele fugir para o Oeste, em 1974.

Viúva desde 1980, quando seu marido morreu de um aneurisma, ela dançou até 1988, quando se aposentou e passou a dar aulas na Academia Vaganova. Na década de 1990s mudou para os Estados Unidos, onde deu aulas na afiliada do Kirov em Washington DC, a Universal Ballet Academy. Em suas aulas, Alla Sizova ficou conhecida por dar ênfase à musicalidade acima da proficiência técnica, assim como ter muito carinho com os alunos.
Outra grande tristeza na vida pessoal da bailarina foi em 2004, quando seu morreu em um acidente de afogamento, na Rússia. Em seguida, ela voltou para seu país onde parou de dar aulas e passou a viver praticamente reclusa. No final dos anos 2000s, ela desenvolveu a doença de Alzheimer e recebeu o diagnóstico de câncer quatro meses antes de sua morte. Ela tinha 75 anos.
Se puder, recomendo buscar os filmes de Alla Sizova em seu auge. Uma inspiração atemporal para todos que amam a dança.
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