A curva do terror e o que a água traz em True Detective?

A lentidão do roteiro de True Detective Night Country tem pegadinhas: os últimos minutos de cada episódio parece um pé no acelerador até que a gente acaba sem entender exatamente a pista revelada. E a fonte de filmes de terror, sugeridas com as sombras que aparecem em frações de segundo, etc agora foi direto na fonte de O Exorcista, citando quase palavra por palavra o assustador aviso dado pelo demônio ao Padre Damien Karras em uma cena igual do cientista falando com Evangeline Navarro (Kali Reis). Mas calma, vamos chegar lá.

O terceiro episódio mantém o que já percebemos: há algo de podre na água de Ennis e é causado pela Mineração na cidade. O problema é que a mina é a fonte de trabalho de mais da metade da cidade, portanto quem ousa falar mal do local, corre risco sério de retaliação. O que exatamente essa água contaminada desperta é que vai demandar superar o ceticismo pois a implicação é que ela ‘acordou’ alguma entidade muito má, que perseguiu os cientistas até o lago congelado, matando cada um deles e incorporando brevemente no que ainda resistiu um pouco mais.

Infelizmente, por um lado, Navarro está certa e o crime atual é conectado com o de seis anos antes, o do brutal assassinato da parteira e ativista indígena Annie Kowtok. O caso foi divisivo entre ela e Liz Danvers (Jodie Foster), chefe de polícia de Ennis, e agora uma depende da outra para fechar a investigação. Nada de novo para nós sobre o assunto e o ‘mistério’ do que houve entre as duas, com ambas meio que rebolando para justificar, já parece um tanto mais pessoal depois que ficaram mais julgando uma à outra pelos casos ocasionais com homens do que o que quer que tenha surgido na investigação. Sabemos disso porque Annie tinha um caso com um cientista ainda desaparecido – Raymond Clark (Owen McDonnell), o único homem que não foi encontrado entre a pilha de seus colegas congelados. – e tanto Navarro como Danvers brigam sobre como as pessoas acham que têm caso em segredo e todo mundo está ligado.

Outro detalhe pessoal revelado, ou melhor, repetido no episódio é a Depressão que atormenta Navarro e sua família, que é usado contra ela pela entidade que incorporou no cientista hospitalizado. Navarro está vendo coisas, está preocupada com a irmã, mas não sabemos a extensão do receio. Como descobrimos que a mãe delas foi assassinada, fica no ar o que pode ser que a detetive tanto tema.

Dos vilões de plantão, o capitão Hank Prior (John Hawkes) não engana ninguém. No comando da força-tarefa policial em busca de Clark, ele age como quer e não segue as exatas ordens de Danvers. Toxicidade é o nome do jogo em Ennis. Ele sugere que há algo mais entre a chefe e seu filho, o policial Peter Prior (Finn Bennett), que realmente é obcecado por Danvers a ponto de criar problemas no casamento e cair em todas as óbvias mentiras contadas pela detetive, incluindo o caso que teria causado a briga entre ela e Navarro.

Juntas porém, Navarro e Danvers descobrem um pouco mais sobre Annie e Clark, como a obsessão da jovem pelo espiral que tatuou nas costas (e encontrado nas testas dos cientistas), mas nada da razão pela qual o casal quis manter o segredo do relacionamento entre eles. Das poucas pessoas que tinham conhecimento era justamente Hank, e o engenheiro de equipamentos Oliver Tagaq, que desapareceu pouco antes da morte de Annie, também. Agora as detetives estão atrás de dois homens que podem elucidar os casos.

Pelo menos dessa vez é menos complicado, as duas localizam Tagaq, que agora vive em um acampamento nômade e reage perturbado com a notícia de Tsalal. Normal, não é? Estranho é que le pergunta especificamente apenas por Anders Lund (Þorsteinn Bachmann). Antes que elas entendam a escolha, são expulsas do local. Como Lund está no hospital elas voam para o local atrás de respostas. Ele está com múltiplas amputações, gangrena, perda de visão e ainda precisando de estar em coma induzido, mas a sorte está do lado das detetives, nos poucos minutos lúcido elas estão ao seu lado e ele é enigmático: “Nós a acordamos e agora ela está no gelo. Ela veio nos buscar no escuro”. E pronto, volta ao coma. Enquanto Danvers está discutindo com as enfermeiras, Navarro fica para trás e aí Lund vira Regan de O Exorcista, avisando que a mãe dela está à sua espera: “Olá, Evangeline, sua mãe está esperando por você”. Nem dá tempo de reagir, Lund entra em parada cardíaca e acaba seu prolongado sofrimento.

Jodie Foster já deu o teaser em suas entrevistas que a temporada é sobre Navarro e a jornada dela. E de fato tudo parece girar em torno dela, inclusive não ter elucidado o assassinato de sua mãe nem saber qual seria seu próprio nome indígena. Danvers tem o fantasma da morte do filho a atormentando, nós sabemos, mas é Navarro que está tendo visões de pessoas correndo na neve, tem laranjas jogadas de volta para ela da escuridão (a diretora Issa López disse que podemos esperar mais das laranjas) e depois de um escorregão no gelo e bater com a cabeça, a detetive tem uma visão de uma criança vestida de pijama e segurando um urso polar de pelúcia, igual ao do filho de Danvers.

De alguma forma, a única que está sacando qual é o perigo dessa entidade acordada é mesmo Navarro, mas em vez de reagir a cada pista ela fica mais chocada e paralisada. Sem mencionar o que houve, ela acompanha Danvers de volta à polícia onde Peter conseguiu hackear o celular de Annie, que elas encontraram no trailer de Clark. Nele há um vídeo da ativista apavorada no que parece ser uma caverna de gelo e ela tenta avisar: “Encontrei. Se alguma coisa acontecer comigo…” antes de ser interrompida e gritar apavorada fora de cena. Obvio que é assim que acaba o episódio.

Eu diria que estaria indo bem, mas tendo Der Pass na mesma plataforma, agora vemos que True Detective Night Country patina no clichê. Engaja, é divertido, mas é aparentemente uma versão de Exorcista Ambientalista: as minhas destruíram a água local, que despertou uma entidade milenar assassina e vingativa. Infelizmente parece que ela conhece bem Navarro e ela pode ser a chave de tudo. Temos mais três episódios, não vamos descobrir semana que vem, mas estamos chegando mais perto.


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