Os pilotos de Game of Thrones e Bloodmoon

Há alguns dias, imagens do piloto da série que a HBO Max encostou antes de seguir com House of the Dragon vazaram na Internet, despertando uma nova onda de curiosidade sobre o que poderia ter sido.

Tudo que vimos de Bloodmoon são imagens da atriz Naomi Watts, que lideraria o elenco, no papel que era o de “uma socialite carismática escondendo um segredo obscuro.” Não sei vocês, mas essa descrição me deu frio na espinha desde o início e não fiquei surpresa quando o projeto foi descartado. Ainda assim, vê-la como uma ancestral Lannister despertou outras hipóteses.

8 linhas de texto

Bloodmoon estava com muitos problemas desde o início. Foi encomendada no auge da febre de Game of Thrones, igualmente próxima demais à ardorosa reação negativa da conclusão da série, ainda em 2018. Fez parte de um pacote quando a HBO Max concluiu que valia investir no conteúdo de Martin como uma franquia. 

Embora a showrunner fosse a respeitada Jane Goldman, a decisão de levar a trama para “milhares de anos antes dos acontecimentos de Game of Thrones“, significava que em vez de estar com os Starks, os Targaryens, e os Lannisters, que queríamos saber mais, íamos para um período desconhecido da história. Tão desconhecido que como mesmo o chefe da plataforma, Casey Blois, reconheceu a complexidade de levar a trama um momento da história no qual o próprio criador “tinha escrito apenas cerca de oito linhas de texto”. 

Bem, oito linhas era bem mais do que David Benioff e Dan Weiss tiveram para seguir com Game of Thrones por nada menos que três temporadas (a última que continha material dos livros foi a temporada 5), o que muitos argumentam ter sido o problema da polêmica conclusão. Certamente esse raciocínio contribuiu para o cancelamento de Bloodmoon antes de chegar ao ar, mas não impediu a aprovação do investimento de 35 milhões de dólares para o piloto.

A origem dos White Walkers?

Segundo foi divulgado, Bloodmoon ia contar “a história da descida da Idade de Ouro dos Heróis até a hora mais sombria de Westeros, contando também a verdadeira origem dos White Walkers, os mistérios do Oriente e as lendas dos Stark”. Me dá outro frio na espinha ainda hoje.

Um dos principais problemas de Game of Thrones foi o fato de ficarmos insatisfeitos com todo plot do Night King e a guerra entre vivos e mortos. A ameaça dos White Walkers abriu a série de forma espetacular, mas ficou à espreita, cercando mais a história de Jon Snow (Kit Harington) enquanto todo o resto se massacrava por Poder e o Iron Throne. Aos poucos foi ganhando força, envolvendo Bran (Isaac Hempstead-Wright) e outros personagens.

Em tese, o confronto entre o Night King e Jon Snow, ajudado por Bran, seria um dos momentos mais definitivos da série (e da TV). A expectativa chegou a histeria, portanto quando o episódio ficou escuro demais e acabou que nem Bran ou Jon estiveram envolvidos, mas foi Arya Stark (Maisie Williams) que do nada (literalmente), matou o antagonista. Isso tudo no terceiro episódio da temporada final, voltando então toda o drama sobre quem ficaria com o trono.

Pior ainda, o Night King nunca foi devidamente contextualizado: não sabemos quem é, a razão de sua obsessão com o Three Eyed-Raven, como e para que roubava os filhos homens de Craster e menos ainda o que queria. A resposta? Ele queria matar todos. Ponto. Daí, anunciar que Bloodmoon iria explicar a ‘verdadeira história dos White Walkers’ bateu no questionamento geral de ‘e ainda vale a pena’? Afinal, sabemos como ele foi destruído e foi relativamente fácil para Arya, o que não nos incentiva a ter maiores curiosidades.

O envolvimento de Martin

Para os fãs raiz, ter o autor George R. R. Martin envolvido no processo criativo é essencial, mas podemos questionar se a presença dele é mais interferência do que colaboração. Martin começou a carreira como roteirista, mas não foi extremamente bem sucedido, passando para os livros e virando um fenômeno. Desde o início sabia do potencial cinematográfico de Game of Thrones, mas recusou as propostas iniciais porque não poderia ‘resumir’ a intricada trama que criou em poucas horas, o que ajudou a dar o sinal verde para D&D adaptarem os livros como série.

Martin esteve diretamente envolvido em GOT até a temporada 4, saindo supostamente para terminar os livros, que até hoje estão parados. A partir de seu afastamento, os mais apaixonados opinam que a qualidade da série caiu, mas efetivamente todos só passaram a concordar com isso quando os showrunners ficaram sem nenhum material para usar como base, a partir da temporada 6.

Dito isso, vale lembrar que Bloodmoon também entrou nesse campo minado. Por estar com o livro, Martin não ia assumir as rédeas da série, mas desde o início bateu de frente com a HBO divergindo ao se referir ao spin off como The Long Night em vez Bloodmoon.

Oficialmente ele sempre foi em cima do muro sobre o processo. Elogiou Jane Goldman e o que ela estava propondo, mas aos poucos foi ficando evasivo. Nos bastidores, ele apoiava a prioridade para duas outras séries, sendo a principal delas o que hoje é House of the Dragon, especificamente o período da Dança dos Dragões, a guerra civil dos Targaryens. Quem lidera esse projeto é Ryan Condal que trabalha muito próximo do autor e é seu herdeiro extra oficial. O outro projeto que Martin preferia começa a gravar em 2024, O Cavaleiro dos Sete Reinos, os contos de Egg e Duncan, que os fãs adoram. Percebem o que estou sugerindo?

Sim, Martin está bem mais envolvido com sua franquia e o fato de não estar empolgado com Bloodmoon, preferindo o que ele mesmo escreveu, certamente enfraqueceu as chances da série efertivamente chegar ao ar, mesmo que ele não tenha a palavra final na estratégia da HBO.

O que deu “errado”?

Imagens de Naomi Watts vestida como uma Lannister foram feitas por paparazzi, mas fora ela, não vimos nada mais. O piloto foi gravado e em tese ia ao ar antes de House of the Dragon, porém em 2019 veio o banho de água fria: Bloodmoon foi cancelada. O que houve?

Nada, os executivos querem que a gente acredite. “Não havia nada de errado. O desenvolvimento e os pilotos são difíceis.”, disse Casey Blois ao The Hollywood Reporter em entrar em detalhes. O Presidente da plataforma na época, Robert Greenblatt manteve o discurso alegando que “foi muito bem produzido e parecia extraordinário, mas não me levou ao mesmo lugar da série original. Não tinha aquela profundidade e riqueza que o piloto da série original tinha,” disse.

Mas… qual dos pilotos ele se refere?

Piloto “desastroso” que desperta teorias e lendas

Pelo visto, “pilotos” são outro universo em Game of Thrones. O primeiro piloto da série, de 2009, é lendário na imaginação dos fãs. David Benioff e Dan Weiss, inexperientes e estreando com um projeto complexo como o universo de Martin, passaram por reuniões, reescritas, negociações e reprovações até “acertarem” com o que vimos no ar, em 2012. Isso mesmo, o piloto de Game of Thrones não é o primeiro, mas a versão revisada do que originalmente foi gravado.

A experiência marcou a trajetória de D&D. Em geral, o piloto é lembrado como ‘desastroso’, e a série correu sério risco de jamais ser exibida. Nem amigos e parentes da dupla gostaram do que viram. Ah, sim, mas Martin era exceção.

“Eu gostei do piloto. “Percebi mais tarde que era uma pessoa pobre para julgar porque estava muito perto disso”, ele admitiu. “Minha grande familiaridade com o material tornou difícil para mim julgar objetivamente. Gostei que eles mantivessem um nível considerável de complexidade. Disseram-me que estou sob pena de morte se algum dia mostrar isso a alguém”, completou rindo. Isso mesmo, o maior sonho da Internet é um dia ter acesso a esse piloto mítico que é guardado à sete chaves pelos poucos que o viram”.

Desse piloto houve várias mudanças de texto e de elenco. A atriz Tamzin Merchant foi substituída pela iniciante Emilia Clarke e Jenniffer Ehle, a primeira Lady Catelyn Stark, desistiu do projeto e com isso Michelle Farley entrou para o elenco. Ambas deixaram atuações memoráveis.

As imagens de Naomi Watts como uma Lannister

O destino do piloto de Bloodmoon era para ser semelhante ao de Game of Thrones, porém a cabeleireira e maquiadora Flora Moody compartilhou um vídeo no Instagram (hoje retirado) onde todos puderam ver alguns frames de Naomi Watts em cena. E mesmo os céticos ficaram curiosos. Sim, estou admitindo que dei uma pausa.

Ainda não sabemos o nome da personagem de Naomi, mas ela está majestosa, misteriosa, com ropuas em tons de ouro e envolta em joias. Não fica claro onde ela está e o mistério do que foi a história pensada por Jane Goldman colabora para o mistério.

O que sabemos? A trama estava no que Martin chama de “Era dos Heróis de Westeros”, quando as grandes Casas ainda estavam sendo formadas, havia uma grande invasão vinda do exterior (Os Targaryens) e sim, o tempo onde se registrou a primeira aparição dos White Walkers. (eles de novo!)

Pelo que parece, o piloto centrou-se “no casamento entre uma princesa Stark e um Casterly: durante a cerimônia, um cometa cairia do céu, mostrando uma “lua de sangue” e desencadeando os acontecimentos que viriam”. Naomi Watts não é uma Stark, obviamente, mas uma Casterly, a Casa que foi extinta nesse período, dando origem aos Lannisters.

Quem são os Casterlys?

Se você não tem toda genealogia de Westeros na cabeça, não se preocupe. Não há ‘muita’ informação sobre a Casa Casterly, que sim, dá nome ao Castelo dos Lannisters em Game of Thrones. O que potencialmente faria de Bloodmoon mais interessante justamente para preencher essa lacuna.

Isso porque a Casa Casterly foi justamene extinta no período da série, a Era dos Heróis. Os Casterlys foram fundados pelo caçador chamado Corlos, que, ao encontrar uma alcatéia de leões, matou os adultos e manteve vivos os filhotes. Quando voltava para casa com eles, achou uma fenda num rochedo e nela, que sorte, descobriu uma mina de ouro que era praticamente quase todo o rochedo. Encarando a oportunidade como um gesto dos deuses por salvado os filhotes, adotou o Leão como Símbolo. Agora riquíssimo, fez do local a base da fortaleza batizada como Rochedo de Casterly, em homenagem a seu pai, Caster. 

A felicidade dos Casterlys não durou muito pois foram enganados por Lann, o esperto, levando a Casa Casterly à extinção e substituição pelos Lannisters. Como pouco se sabe de Lann, chegou-se a cogitar que ele seria ela, ou melhor, a personagem de Naomi Watts. Afinal, só se sabe de Lann em cima do que é disto nas canções dos Sete Reinos, nenhuma igual à outra. Muitos até duvidam que ele existiu. Um mistério que permanece e que é arquivado com Bloodmoon, aparentemente.

E as outras séries?

Sem Bloodmoon, nós fãs estamos contando os dias e semanas até o próximo teaser de House of the Dragon, que ainda está sem data de lançamento confirmada. E O Cavaleiro dos Sete Reinos: Cavaleiro Andante foi atrasado por causa das greves mas deve estar começando a produção de seu piloto em breve. Ainda não há elenco anunciado.


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