Os 35 anos de um encontro: quando Harry e Sally se conheceram

O mundo era outro há 35 anos e, nas comédias românticas, ainda era comum (senão aceitável) que a mulher independente ainda se sentisse incompleta se não encontrasse o amor verdadeiro. Harry e Sally, um dos maiores sucessos da bilheteria mundial em 1989, representa esse momento na História do cinema.

Sally Albright (Meg Ryan) simboliza como poucas a heroína romântica: esperançosa, bonita, amiga e levemente neurótica, sempre à espera do “felizes para sempre”. Saída da imaginação do diretor Rob Reiner, do produtor Andy Scheinman e a escritora Nora Ephron, tanto ela como Harry Burns (Billy Crystal) representam os opostos idealizados de homens e mulheres, produtos que ganharam forma e história em um longo almoço entre o trio.

Segundo o que hoje já é lenda, a idéia deles era outro projeto, mas as conversa derivou para relacionamentos e logo estavam rindo com as situações vistas sob óticas opostas. Reiner conta que sempre quis fazer um filme sobre duas pessoas que se tornam amigas e não fazem sexo justamente porque sabem que isso vai mudar o relacionamento deles. Só que claro, fazem sexo mesmo assim. Nora Ephron que já tinha assinado dois roteiros elogiados (Silkwood e A Difícil Arte de Amar (Heartburn)) topou o desafio.

A história do filme é simples: Sally e Harry se conhecem em 1977, numa viagem entre Chicago e Nova York, voltando a se esbarrar na vida ao longo de 20 anos, antes de perceberem que podem ter nascido um para o outro. Ou seriam apenas melhores amigos?

Algumas das situações e diálogos de Harry e Sally mantém essa comédia romântica como uma das mais perfeitas já feita, eu mesma sei diálogos completos de cor. As falas são realistas, divertidas e atemporais, até porque refletem muitas das visões pessoais dos três, sendo que Nora entrevistou Rob e Andy para várias das cenas usadas no filme.

Sally, naturalmente, representa muito do que Nora Ephron pensava como mulher (e Meg Ryan viria a ser sua musa para os filmes que dirigiu depois). Rob Reiner tinha o pessimismo de Harry, assim como seu humor. Enquanto trabalhava no roteiro, desde 1984, ele lançou dois filmes extremamente populares, Fique comigo (Stand by Me) e The Princess Bride, só para imaginar o paralelo.

Se hoje é impossível pensar em outro elenco para a dupla, há 35 anos atores como Tom Hanks, Richard Dreyfuss, Michael Keaton e Albert Brooks recusaram fazer Harry Burns, e do lado das mulheres, nem Meg Ryan foi a primeira opção, só conseguindo o Sally Albright depois que Molly Ringwald e Elizabeth Perkins desistiram. 

Todo filmado em Manhattan ressaltando a beleza de Nova York, Harry e Sally está sempre entre os melhores filmes já feitos, não importa a lista. Sua proposta original era manter os dois apenas como amigos, mas depois decidiram ir para um resultado menos realista colocando o “felizes e neuróticos para sempre” como alternativa final de comédias românticas.

Com a indicação ao Oscar de Melhor Roteiro, Harry e Sally abriu o caminho para que Nora Ephron se reinventasse como diretora de cinema, revertendo a fórmula em Sintonia do Amor (Sleepless in Seattle), entre outros.

O impacto cultural do filme é presente em várias produções desde então, incluindo o mega sucesso Ted Lasso, que trolou os fãs com o Tedbecca jamais consumado nas telas, ou seja, Ted Lasso (Jason Sudeikis) e Rebecca Welton (Hannah Waddingham) ‘comprovam’ a proposta que Sally defende e que Harry nega: homens e mulheres PODEM apenas ser amigos. E, no caso, os dois nunca fazem sexo senão estraga tudo… [risos].

Isso mesmo, são 35 anos de uma tese que é atemporal e coloca tanto Harry, como Sally, entre os personagens mais queridos do cinema. Não é um feito qualquer, é a prova do amor incondicional dos fãs.


Descubra mais sobre

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

1 comentário Adicione o seu

Deixe um comentário