Para os fãs de Peaky Blinders, os memes de Cillian Murphy entediado nas entrevistas é coerente com a persona que sempre será associada ao ator: Thomas Shelby. Para o público mais recente, é sua estupenda atuação como J. Robert Oppenheimer no longa de Christopher Nolan que vai definir sua carreira. O fato é: precisa de atores que falam tudo com um simples olhar? Chamem Cillian.

Cillian Murphy é um ator atuante há quase mais de 20 anos, e quase imediatamente uma estrela. Fãs do diretor Danny Boyle lembram que foi Cillian o astro de 28 dias, um filme elogiado que abriu as portas dos Estados Unidos para o jovem ator, na época com apenas 26 anos. Mas a fama – que ele nunca buscou- não veio com facilidade.

Nascido na Irlanda, onde vive hoje novamente, Cillian sempre quis trabalhar como ator (sua banda de rock não o convenceu a seguir como músico) e o teatro foi uma paixão imediata, tão forte que quando teve que escolher, deixou o curso de Direito para trás.

Em apenas três anos de sua estreia no cinema, Cillian trabalhou com alguns dos melhores atores e diretores, aparecendo em Cold Mountain, A Garota do Brinco de Pérola e Batman, mas foi em filmes ‘menores’ que se destacou mais, como Café da Manhã em Plutão, pelo qual foi indicado ao Globo de Ouro de Melhor Ator (interpretando uma mulher trans). Nos palcos britânicos ele estrelou clássicos e peças modernas, ganhando o respeito da crítica e colegas. Somente em 2013 sua vida mudaria, quando passou a estrelar Peaky Blinders e ganhou estrelado mundial. Avesso à adulação e fama, sua atuação foi ignorada nos prêmios americanos, mas pelo menos recebeu indicações ao BAFTA.

A parceria com Christopher Nolan

Quem acompanha a carreira do diretor Christopher Nolan sabe que mais do que Michael Caine, o ‘amuleto’ de sorte dele é Cillian Murphy. Tudo começou em 2005, quando o ator fez um teste para interpretar Bruce Wayne, sendo um dos finalistas, mas perdendo o papel para Christian Bale. Nolan tinha ficado impressionado com ele, e, como opção, ofereceu o pequeno papel de um dos antagonistas, Jonathan Crane (o Espantalho), que Cillian aceitou com gosto. A amizade só foi fortalecendo e ele fez aparições rápidas nos filmes seguintes.

Em Inception, de 2010, ganhou um papel um pouco maior (ainda que fosse um filme para Leonardo DiCaprio) e apareceu também em pontas importantes em Dunkirk, em 2017, também. Assim que começou a trabalhar em Oppenheimer, Nolan tinha Cillian em mente para o papel principal. É o sexto filme dos dois juntos e o reconhecimento mútuo pelo trabalho no filme tem sido um dos destaques dos discursos em todas as premiações, antecipando que se repetirá no Oscar.

Oppenheimer: um papel que sempre seria de Cillian Murphy

Há uma grande ironia no fato de que embora seja adorado há anos, apenas agora Cillian Murphy tenha alcançado o status de estrela. Igualmente pode-se argumentar que sua conexão com a personagem fazia parte de seu destino.

Em 2014 ele quase foi escalado para viver o cientista na série Projeto Manhattan, que só teve duas temporadas embora fosse excelente (vale conferir!). O showrunner, Sam Shaw, comentou que o papel de Oppenheimer (que não é o principal da série) quase foi para Cillian antes de acabar com o ator Daniel London. Mas por sorte Cillian não fez a série porque provavelmente não iria topar se repetir logo depois.

Oppenheimer demandou de Cillian uma árdua preparação e o ator topou o desafio antes de ler qualquer linha do roteiro. Não haveria melhor ator que consiga passar tantas emoções com apenas o olhar como Cillian faz, hoje já é quase sua assinatura. O Oscar é quase garantido como seu.

Tommy Shelby: um papel inesquecível

Mesmo com toda falação em torno de Oppenheimer, para os fãs, é como Thomas Shelby de Peaky Blinders que Cillian Murphy fez história. O anti-herói inspirado em uma pessoa real é tudo que o público poderia odiar, mas graças ao carisma do ator, adorava. Como brinquei na época, faz parte do clube dos homens que odiamos amar.

A série ficou no ar por 10 anos, estreando em 2013 e usando uma estética autoral com grande trilha sonora, super slows e viradas de roteiro que sempre surpreendiam.

É quase inimaginável hoje, mas Cillian quase não foi a primeira opção para liderar o elenco. Peaky Blinders conta a história verdadeira de uma gangue criminosa em Birmingham, durante o período pós-Primeira Guerra Mundial, conhecidos por sua violência e o uso de estiletes escondidos em suas boinas.

Re-imaginada pelo showrunner Steven Knight, Thomas Shelby – para ele – era mais parecido com Jason Statham e a timidez de Cillian quase o atrapalhou, porque Steven não o viu como seu protagonista quando conversaram pela primeira vez. Reza a lenda que o ator escrever uma mensagem para o roteirista – provavelmente desconfiado que o papo não tinha ido bem – dizendo: “Lembre-se, sou um ator”. Assim ganhou o papel. E melhor, e o resto é História.

Como Tommy, Cillian criou algumas sequências clássicas da TV, trouxe uma dimensão dramática que é a alma de Peaky Blinders. A série se despediu em 2022, com uma das atuações mais fortes dele. Lembrando que há o projeto do filme, será que ele ainda terá agenda?

Prêmios e estrelato: um Cillian maduro pronto para lidar com os desafios

Desde sua estreia em 2023 nos cinemas, o nome de Cillian Murphy passou a circular como o de um dos melhores atores de sua geração, algo que sabíamos há décadas, mas que triplicou em alcance com o sucesso do filme.

Cillian deve estar sofrendo porque com o reconhecimento as entrevistas que claramente detesta conceder também multiplicaram. E só deve “piorar”, pois embora tenha uma forte concorrência em Paul Giamatti, seu favoritismo para o Oscar de Melhor Ator tem ganhado novo fôlego. Merecido e ansiado, faltam poucas semanas para termos certeza.

Sabe como poderemos nos tranquilizar? Com o resultado do SAG Awards 2024, no dia 24 de fevereiro, pela Netflix. Se vencer, já teremos a garantia do Oscar no dia 10 de março.
Será incrível!

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