Os 30 anos de um crime que chocou o mundo: a tragédia de O.J. Simpson

Certas datas foram marcantes na vida de O.J. Simpson, que, em abril de 2024, faleceu em decorrência de um câncer, aos 76 anos. Ele, que foi uma lenda esportiva nos anos 1970s, um ator de comédias nos anos 1980s, mudou completamente o curso de sua história em 12 de junho de 1994. Isso mesmo, há 30 anos o mundo parou quando após o brutral assassinato de sua ex-mulher, Nicole Brown Simpson, O.J. tenha sido o principal suspeito.

A morte de de Nicole seria um dos crimes mais chocantes da história de Los Angeles por si só, em especial por conta da violência, mas toda a novela que apenas foi revelada para o mundo na noite na qual e;a praticamente foi degolada na porta de sua casa, mas o fato de que uma celebridade estava diretamente envolvida, em tempos pré-reality shows e redes sociais, a perseguição e o julgamento de O.J. viraram um fenômeno de mídia, mas também um triste twist na trajetória de um dos maiores ídolos americanos. Até então.

Quem foi O.J. Simpson

Orenthal James Simpson nasceu em São Franscisco, filho de um cozinhiero e uma administradora de hospital, crescendo em uma comunidade simples e lidando com o divórcio de seus pais. Apesar de ter usado aparelho ortopédico até os cinco anos de idade, foi como esportista que encontrou destaque e uma alternativa para ascender socialmente. Ainda adolescente já era uma estrela do futebol e do atletismo e depois que passou a jogar profissionalmente virou uma lenda quebrando recordes no futebol e no atletismo, com o apelido de “The Juice”.

Quando se aposentou, logo passou a trabalhar como ator e comentarista, aparecendo em algumas comédias de sucesso. Do lado pessoal, seu primeiro casamento acabou quando conheceu Nicole Brown, quando ela ainda tinha 18 anos. O casamento dos dois foi marcado por violência doméstica – há pelo menos oito registros policiais das agressões físicas nela, deixando um histórico oficial dos espancamentos regulares aos quais era submetida – e acabou em divórcio.

O crime brutal

A separação não interrompeu o pesadelo para Nicole. Por dois anos, mesmo tentando seguir com sua vida, lidava com as crises violentas de ciúmes do ex-marido que a perseguia e ameaçava agredir. É apavorante ouvir e e ver o desespero crescente dela, avisando que ele iria matá-la, mas não tendo nenhuma forma de proteção, algo infelizmente ainda tão comum em todo mundo. Nicole viraria um dos piores exemplos de feminicídio que se conhece até hoje.

Os corpos de Nicole, e de seu amigo, Ronald Goldman, foram encontrados por um vizinho no meio de uma poça de sangue em frente a casa dela, em Brentwood. Ambos violentamente esfaqueados, ela praticamente decapitada. Por conta do histórico abusivo do casamento, e as provas encontradas no local, O.J. rapidamente virou o principal suspeito, o que já seria chocante, mas acabou virando parte de algo bem maior.

A polícia encontrou sangue do jogador no local, pegadas de sangue no tamanho do sapato dele saindo do local, vestígios de sangue no carro do jogador e, claro, uma luva que fazia par com a outra encontrada no local das mortes. O ferimento na mão esquerda, que parecia ter sido de faca, era outra evidência.

Segundo se especula, porque ele jamais confessou sua participação oficialmente, depois de assistirem a uma apresnetação de dança de sua filha, Sydney, Nicole e O.J. brigaram. Ela estava nervosa, mas ele ia viajar para São Francisco portanto ninguém imaginou o que iria acontecer horas depois.

O que aparenta ter acontecido é que por volta das dez da noite, ele foi até a casa da ex-mulher, a poucos minutos da sua casa, estacionou seu carro na entrada dos fundos e entrou na casa pela cozinha. A briga dos dois rapidamente escalou – a casa estava toda com luz de velas e muitos suspeitam que ele tenha tido outra crise de ciúmes no caso dela estar esperando alguém – e Nicole tentou fugir pela porta da frente, com O.J. a perseguindo com uma faca. Mal ela chegou ao jardim e foi alcançada por ele e morta com 12 facadas, a maioria delas, na garganta. Foram sete golpes no pescoço e na cabeça, sendo que o corte de quinze centímetros no pescoço, que quase a decapitou, foi feito após ela estar caída. Ela tinha ferimentos defensivos nas mãos.

Aí entra o mais trágico de tudo. A mãe de Nicole tinha esquecido os óculos no restaurante no qual Ronald Goldman trabalhava e concordou em levá-los até a casa de Nicole. Ele chegou para entregá-los justamente quando ela estava sendo atacada. Pelos cortes feitos nele, foram 25, aparentemente Ron foi atacado inicialmente pelas costas, tentou se defender mas foi igualmente esfaqueado até a morte. Tudo aconteceu em meros 15 minutos.

O julgamento do século

A prisão de O.J. já parou o mundo justamente porque ele parecia estar tentando fugir e quando as redes de TV passaram a transmitir ao vivo a perseguição, pela primeira vez, o mundo viu um evento midiático que hoje é comum: uma celebridade, true crime, TV ao vivo sem roteiro e um drama irresistível.

O que veio a seguir foi ainda mais fascinante da pior maneira. O julgamento foi transmitido em rede internacional ao vivo e todos viram como a arrogância e despreparo da Promotoria, incapaz de ler o ambiente ou de reconhecer o péssimo histórico racista e violento da polícia de Los Angeles influenciaram a decisão contra O.J. Simpson.

Não muito tempo antes, a cidade de Los Angeles tinha testemunhado manifestações tempestuosas da comunidade negra contra uma série de crimes virtualmente ignorados pela Justiça. O principal deles foi o de Rodney King, que foi brutalmente espancado e morto por policiais brancos sem poder reagir (as imagens foram gravadas em vídeo e exibidas em todas as TVs). Para choque mundial, os culpados foram inocentados. Portanto, quando o herói negro americano iria ser preso por ter matado duas pessoas brancas, o julgamento virou tudo menos justiça para as vítimas.

Pouco mais de um ano depois, quase 150 milhões de pessoas assistiram estupefadas ao veredicto de inocente para O.J.. Tudo isso que contei está espetacularmente registrado e contextualizado no documentário da ESPN, O.J. Simpson: Made in America e na série que está na Star Plus, The People v. O. J. Simpson: American Crime Story. Valem serem conferidas de novo, ainda mais porque 30 anos depois, temos outra perspectiva de tudo.

O que aconteceu com as pessoas envolvidas?

O.J. Simpson foi defentido pelo que foi chamado de Dream Team da Defesa Criminal, com todos os melhores advogados envolvidos para ajudá-lo. Ele pode ter escapado da Justiça em 1995, mas sua decadência foi inegável, sem trabalho no cinema ou comerciais, e na mesma data de junho, 13 anos depois, foi preso por assalto à mão armada – um episódio complexo e inacreditável – sendo condenado à 33 anos, na mesma data na qual tinha escapado antes.

Embora sua libertação em 1994 tenha sido simbólica para os Direitos Civis, a sensação de derrota em caso de feminicídio não foi esquecida, tanto que muitos reconhecem que sua sentença de 2007 foi “exagerada” para o crime que cometeu, mas adequada para o crime que a opinião pública o condenou. Muitos achavam que sua atitude mostrava desrespeito de deboche com as vítimas, ainda mais quando anunciou um livro no qual dizia que iria discutir hipoteticamente como aconteceram os assassinatos, mas o projeto foi cancelado depois que a família sobrevivente de Ron Goldman entrou com uma ação judicial. Ele tinha anunciado o título como If I Did It.

Aqui o que aconteceu com todos os envolvidos:

Orenthal James Simpson: Diferentemente do júri criminal, um júri do tribunal civil o considerou responsável pelas mortes e o condenou a pagar uma indenização de mais de 33 milhões de dólares às vítimas. Ele nunca pagou integralmente o valor. Em 2007, foi preso em Las Vegas e acusado de assalto à mão armada e sequestro, sendo condenado a 33 anos de prisão. Cumpriu nove anos e ficou em liberdade de 2017 até sua morte, em abril de 2024.

Marcia Clark: a principal promotora do julgamento deixou a advocacia logo depois. Escreveu um livro sobre o caso, Without A Doubt, e hoje é autora de romances policiais.

Johnnie Cochran: o principal advogado de defesa, já era famoso por ter defendido Michael Jackson e se mantece na ativa. Morreu de câncer no cérebro em 2005, aos 68 anos.

Robert Kardashian: o pai de Kim Kardashian era o melhor amigo de O.J. desde a faculdade. Segundo consta, após o julgamento manteve sérias dúvidas sobre a inocência do amigo e se afastou dele. Morreu de câncer de esôfago em 2003, aos 59 anos.


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