A Guerra dos Tronos espanhola

George R.R. Martin se espelhou abertamente nos conflitos históricos britânicos para imaginar seu universo de Game of Thrones e House of the Dragon, espelhando seus protagonistas em figuras reais. Como ele, sou fã de História e em viagem pela Espanha esbarrei com a trama da série Isabel, Rainha de Castela, que está no acervo da Globoplay, e foi uma produção espanhola de 2020 que aborda a Guerra da Sucessão Castelhana. É fascinante e um período pouco explorado no exterior, mas que renderia mais séries e filmes. Afinal, traz duas mulheres em lados opostos na luta pelo Poder, sendo que uma delas é a controversa Isabel de Castela, uma das monarcas mais poderosas de todos os tempos.

O que foi o conflito?

A Guerra da Sucessão Castelhana durou quatro anos, entre 1475 e 1479 e como o nome sugere, foi um conflito que surgiu pelo trono de Castela após a morte do rei Henrique IV, em 1474. Na época, os principais candidatos ao trono eram a meia-irmã dele, Isabel I, e sua filha, Juana la Beltraneja. Tia e sobrinha protagonizaram não apenas uma luta dinástica, mas uma disputa com dimensões políticas e internacionais significativas.

Henrique IV era o meio-irmão mais velho de Isabel, e por ser primogênito homem, foi rei de Castela antes dela. O relacionamento deles era complexo e muitas vezes tenso. O reinado de Henrique foi marcado por instabilidade política, o que naturalmente também gerou conflitos quanto à sucessão.

Conhecido como Henrique, o Impotente (em espanhol, Enrique el Impotente), ele foi o rei de Castela e Leão por 20 anos, de 1454 até sua morte em 1474. Era filho de João II de Castela e de sua primeira esposa, Maria de Aragão, e entrou para a História como um líder fraco, frequentemente com autoridade questionada. Um dos aspectos mais controversos de seu reinado foi o questionamento sobre a legitimidade de sua filha, Joana de Trastâmara, conhecida como Joana la Beltraneja. Muitos acreditavam que ela era filha de Beltrán de la Cueva, um nobre da corte, e não de Henrique IV, o que levou a disputas sucessórias após a morte de Henrique. Um rumor plantado por ninguém menos do que a própria Isabel.

A Guerra Civil

Após a morte de Henrique, a sucessão ao trono levou à Guerra de Sucessão de Castela, dividindo os partidários de sua filha Joana e os de sua meia-irmã Isabel. A reivindicação de Isabel ao trono foi contestada por partidários de Juana, mas ela era apoiada por seu marido (e primo). Fernando II de Aragão. Isabel considerava que o fato de ser a meia-irmã legítima do falecido rei, assim como seu casamento com Fernando – unindo as coroas de Castela e Aragão, que mais tarde formariam a base para a unificação da Espanha – a faria a sucessora nata. Já Juana era apoiada pelo seu tio, o rei Afonso V de Portugal, alegando que ela era a filha legítima de Henrique IV. No entanto, surgiram rumores e dúvidas generalizadas sobre a sua paternidade, com muitos acreditando que ela era filha de Beltrán de la Cueva, um nobre, o que lhe deu o apelido de “la Beltraneja”.

Com argumentos fortes de ambos os lados, a solução foi partir para violência. A guerra viu várias batalhas significativas, incluindo a Batalha de Toro em 1476, que foi inconclusiva, mas favoreceu estrategicamente Isabel e Fernando. O conflito também envolveu alianças complexas. Isabel e Fernando receberam apoio de vários nobres castelhanos e do Reino de Aragão, enquanto Juana e Afonso V foram apoiados por Portugal e tiveram algum apoio da França.

A guerra terminou com o Tratado de Alcáçovas em 1479. Nos termos do tratado, Isabel foi reconhecida como Rainha de Castela, enquanto Juana renunciou à sua reivindicação ao trono e retirou-se para um convento. O tratado também teve implicações coloniais significativas, pois delineou esferas de influência entre Portugal e Castela no Atlântico, abrindo caminho para futuras explorações e conflitos sobre territórios ultramarinos. A Guerra da Sucessão Castelhana foi um acontecimento crucial na história da Espanha poque não só determinou o governante de Castela, mas também preparou o terreno para a eventual unificação da Espanha sob Isabel e Fernando, que são frequentemente referidos como os Reis Católicos. O seu reinado marcou o início da ascensão da Espanha como uma grande potência europeia e o início do seu império ultramarino.

E Joana?

Bem, Joana la Beltraneja foi uma figura histórica controversa na Espanha do século XV. Nasceu em 1462, filha do rei Henrique IV de Castela e de sua segunda esposa, Joana de Portugal, mas muitos desconfiavam que o verdadeiro pai dela era um nobre da corte de seu pai oficial. Não há conclusão sobre a verdade desse rumor, hoje alegado como plantado pela inimiga dela, sua tia Isabel.

Com a morte de Henrique IV em 1474, Joana foi proclamada rainha por uma facção que a apoiava, mas eventualmente Isabel venceu a guerra. A derrota forçou à Joana a retirar da vida pública e passou seus últimos anos em um convento em Portugal, onde morreu em 1530. Sua história é um exemplo de como questões de legitimidade e sucessão podiam levar a conflitos significativos na Europa medieval.

Uma história fascinante, concordam?

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