Há 40 anos Carlos Saura revisitou o drama de Carmen

Curiosamente foi a novela do francês Prosper Merimée que fez da cigana espanhola Carmen uma referência mundial. Na verdade, alinhada à música de outro francês, George Bizet, a história solidificou a fama da personagem uma mulher fatal que leva a vida de um homem “bom” para o mal caminho, gerando teses, peças, balés e, claro, filmes. Em 1983, o prestigiado diretor espanhol Carlos Saura – que faleceu no início de 2023- fez uma das versões que considero definitivas, colocando uma Carmen (Laura del Sol) no mundo atual e atormentando de um obcecado coreógrafo de dança flamenca, Paco (Antonio Gades). O filme foi um mega sucesso e chegou a ser indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional, perdendo para Fanny & Alexander, de Ingmar Bergman.

Carmen faz parte da trilogia musical sobre o flamenco que Carlos Saura produziu, começando no ano anterior com Bodas de Sangue e terminando depois com El Amor Brujo, todas com António Gades, o super estrela da dança flamenca. Saura, que antes desses filmes sempre foi politizado em suas obras, é creditado por ter criado uma nova linguagem para musicais ou filmes de dança, com três obras-primas. Robert Wise, o inovador diretor de Amor, Sublime Amor (West Side Story) e A Noviça Rebelde (The Sound of Music), dizia que o espanhol “inventou outra maneira de abordar a dança através da câmera”. E é verdade.

Em Carmen, Saura usou a fórmula tradicional os bastidores imitando a Arte, com Paco se apaixonando pela volúvel bailarina, aproveitando os números de dança em cenas inesquecíveis. Como as mulheres na fábrica de cigarro ou a sedução em Habanera. Críticos que estudaram sua trilogia em detalhes destacam que sua nova linguagem cinematográfica era contrária à escola americana, apostando em planos fechados e detalhados em vez de planos abertos. Era, como dizem, um fã de dança antes de mais nada, com a lenda de que mentia que ainda não tinha a tomada certa só para ver os bailarinos em ação mais uma vez.

No filme há ainda a participação do lendário violonista Paco de Lucía, aumentando ainda mais para uma obra raiz da cultura verdadeiramente espanhola. O filme foi tanto bem sucedido que a companhia de dança de António Gades transportou a dança para os palcos (se apresentando inclusive aqui no Brasil), em um espetáculo eletrizante.

A nova versão da história de Carmen pelas mãos de Benjamin Millepied me fez lembrar o clássico de Saura, 40 anos depois de seu lançamento, mantendo o impacto e frescor de uma visão ímpar da tragédia imortalizada por Merimée e Bizet. Vale rever se puder!

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