Bob Marley: One Love – Retrato Superficial de um Ícone da Música

Quando anunciaram que (finalmente) fariam um filme sobre os Bob Marley, focando nos últimos anos de sua vida e os bastidores do clássico álbum Exodus, celebrei. Afinal, Marley foi o mais conhecido músico e reggae de todos os tempos, vendendo mais de 75 milhões de discos, mas morreu de câncer, aos 42 anos, em 1981. Sofreu atentados, racismo e ainda se opôs à violência. No entanto, o filme Bob Marley: One Love perdeu a oportunidade de trazer dimensão ou sequer conexão com a trajetória do músico. Quase uma aula de como NÃO fazer um filme.

Há um risco enorme quando o diretor e roteirista é fã da música e usa apenas a trilha sonora como guia. Várias biografias de cantores passam por isso: é como se faixa a faixa fossem o fio condutor, tentando incluir todos os sucessos para dar alguma perspectiva sobre a canção mais do que o autor. Junte-se a isso a tendência forte de chapa branca, com a família assinando a produção e defeitos são omitidos ou apressados, tentando deixar o público envolvido com a música e ignorando a pessoa.

Como muitos gênios, Bob Marley era apenas um homem, cheio de traumas, frustrações e sim, falhas. O diretor Reinaldo Marcus Green, que já tinha feito King Richard (que rendeu o Oscar à Will Smith), pelo menos acertou na escolha do elenco, paradoxalmente, em meio a um filme que só pode ser chamado de “ruim”, Kingsley Ben-Adir é sensível e perfeito como Marley, e Lashana Lynch também está ótima como Rita Marley. Mas não é o suficiente.

Bob Marley: One Love foca nos dois anos no qual Marley viveu um exílio voluntário no Reino Unido, entre 1976 e 1978, uma vez que já era uma voz política na Jamaica e foi frustrado em tentar fazer um concerto de unidade para pôr fim à violência infligida por dois líderes políticos em conflito. Ele sofre um atentado, descobre que tem câncer e volta ao seu país para finalmente uma apresentação lendária. Assim mesmo, superficial e rápido como descrevi.

No meio tempo, ele lida com o impacto de nunca ter conhecido seu pai, mantido um relacionamento abusivo e dependente com Rita, a traindo com inúmeras mulheres mas esperando fidelidade e perdão incondicional da esposa. Por exemplo, todo romance com a Miss Mundo de 1976, a modelo jaimaicana Cindy Breakspeare, para quem escreveu Waiting in Vain e que está em Exodus não passa de um frame no filme (literalmente) sem qualquer impacto como o que realmente aconteceu no casamento com Rita.

Numa initerruta sequência de uma hora e meia onde a música de Marley nos interrompe mais do que nos envolve, não temos noção da real perspectiva de seu talento artístico, nem mesmo dos conflitos políticos que o levaram ao exílio após sofrer um atentado.

Os flashbacks são usados de forma ainda mais confusa, onde entendemos que ele sempre sofreu pelo abandono do pai branco, foi influenciado por Rita em sua escolha espiritual e que era muito ligado à sua banda, mas mesmo com Kingsley se esforçando para dar alguma dimensão a Bob Marley, é uma luta inglória para o ator. Minha sugestão? OUÇA, Bob Marley e passe pelo filme. Não há conjunção da força que ele foi como artista na tela. Uma lástima.

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