Cyndi Lauper: Let the Canary Sing – A Trajetória de Uma Ícone Pop dos Anos 80

Como já expliquei várias vezes, sou fã de Cyndi Lauper desde os 14 anos e acompanhei sua carreira por 40 anos, do momento em que ela mandou uma mensagem para todas mulheres e meninas ao redor do globo que Girls Just Want to Have Fun. A vi ao vivo pelo menos duas vezes, li sua biografia e tenho todos seus álbuns. Adoro mesmo. Mas só consegui ver Let the Canary Sing, o documentário sobre sua trajetória agora que voltei de viagem. Ele está disponível no Paramount Plus desde o final de maio de 2024.

O documentário, rico em imagens de arquivo de Cyndi antes da fama mundial, em 1984, é da diretora Alison Ellwood, a pessoa por trás do excelente filme sobre a Go-Go’s, o que a faz uma das maiores especialistas dos anos 1980s, cobrindo os maiores ícones pops daquela década. Cyndi, como sabemos, foi uma das maiores, sendo premiada e respeitada como compositora e cantora, nem tanto por sua vida pessoal. Agora que anunciou sua aposentadoria, é ainda mais curioso entender a arte dessa cantora “louquinha” que de louca, não tinha nada.

Let the Canary Sing embarca na juventude de Cyndi Lauper com o objetivo de contextualizar as escolhas e percalços da carreira de quarenta anos da cantora, cujo visual originalíssimo, voz de grande alcance e timbre único fizeram dela um dos ícones da já colorida década. Quando o álbum She’s So Unusual explodiu, com clássicos como Girls Just Want to Have Fun eTime After Time, Cyndi já circulava por rádios e casas noturnas como a vocalista da banda Blue Angel.

Aos 32 anos, ela tinha vivência e maturidade portanto nada que fez vinha de inexperiência, era pensado e calculado. Mas se a aparência da artista é de uma mulher pequena e grande pulmão, ainda maior é sua habilidade e prontidão de brigar por sua individualidade. Em seu livro de 2008, ela fala em detalhes sobre tudo e todos, de alguma forma se considerando incompreendida, O documentário da Paramount Plus é menos detalhado, mas mantém a narrativa. Como já tinha feito com as Go-Go’s, os depoimentos são vitais para tornar o filme interessante, mas enaltece tanto Cyndi que fica um tanto fora do tom.

O título é a resposta de tudo: antes mesmo de “ser alguém”, Cyndi já estava brigando contra o sistema. Seu ex-empresário queria impedi-la de assinar o contrato que eventualmente fez dela uma estrela e no longo processo judicial, o Juiz desistiu e desabafou: “deixe o canário cantar”. Sim, foi uma vitória para ela mas também confirma que nada que viria à frente seria mais fácil. E não foi.

Para os fãs, como eu, é uma delícia vê-la mais jovem, ouvir como Time After Time foi escrita e outros detalhes, mas mesmo para nós quando acaba fica uma sensação de que não foi exatamente assim. Cyndi alega que ao deparar com a década de 1990, a fama não a satisfazia e que queria se redescobrir como artista. O que fica mais claro, e no livro dela nem tanto, é que como desconfiávamos que o relacionamento romântico e profissional com David Wolff foi muito mais relevante do que ela ainda gostaria de reconhecer.

O grande problema de Let the Canary Sing é o mesmo das biopics e docs controlados pelo artista: sobra editorialização e falta autenticidade. E vamos combinar que Cyndi Lauper é o sinônimo de autêntico! O que é bacana é rever como ela desenvolveu seu senso estético sem ajuda de ninguém, como abraçou as causas feministas e LBGTQ+ por conta de suas ligações extremamente pessoais e com isso, viajar por sua juventude é sensacional.

A carreira de Cyndi tem sido versátil, assim como seu acervo musical e com esse documentário a mensagem é clara que sua precisão como produtora é o que define seu legado. E vale conferir.

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