Se você perguntar a qualquer um que viveu nos anos 1980s, ou desde então, o nome da atriz Bette Davis fará imediatamente cantar “os olhos de Bette Davis”, o refrão da canção Bette Davis Eyes, o maior sucesso da cantora Kim Carnes. Já em 1981, quando Bette tinha 73 anos, foi preciso apresentá-la para novas gerações. Mais de quarenta anos depois, isso se torna ainda mais relevante!

A lenda: a melhor, a mais tempestuosa e dedicada à arte

Bette Davis sempre foi a referência de perfeição, a Meryl Streep de seu tempo. Enquanto as atrizes eram pela Fama primeiro, Arte depois, Bette era Arte, Arte e Arte sempre, jamais se preocupando em estar bonita (frequentemente indo para o caminho contrário) e se colocando como a Melhor Atriz, não estrela. Com isso, reinou como exatamente como uma das maiores de Hollywood no sentido mais grandioso do termo.

Com 10 indicações ao Oscar, ganhando dois e dando o nome do prêmio da Academia como homenagem ao ex-marido (Oscar), Bette Davis era o sinônimo de perfeccionismo. Seus grande solhos azuis eram explorados por ela e diretores justamente por serem extremamente expressivos. E as personagens? Fortes, misteriosas, ousadas. Assassinas, rebeldes e seguras, Bette Davis nunca seria uma mulher pega de surpresa. Intransigente e desbocada, as pessoas tinham adoração e medo dela com igual medida.

Sem a beleza óbvia esperada por Hollywood, Bette chegou e cresceu rapidamente justamente por ser determinada e destemida. Quando envelheceu, passou a trabalhar em televisão, mais afastada e quase esquecida nos últimos anos. Quando Kim Karnes explodiu nas paradas de sucesso despertou uma nova onda de curiosidade sobre Bette, que iconicamente respondeu que adorou o sucesso porque ficou mais popular com seus netos.

A canção dos anos 1970s, inspirada em um de seus melhores filmes

Eu sei, eu sei… TODOS pensam que Bette Davis Eyes é a “canção de Kim Carnes dos anos 1980s”, mas não é. Na verdade, foi outra mulher, fã da atriz, que escreveu o que viria ser a trilha sonora para tornar Bettte definitivamente “imortal”.

Bette Davis Eyes foi escrita em 1974 por Donna Weiss e Jackie DeShannon, duas mulheres que se inspiravam na força que Bette Davis representava para muitas mulheres na época. Jackie foi um grande sucesso nos anos 1960s, tendo viajado e tocado com os Beatles quando eles explodiram nos Estados Unidos, em 1964.

Jackie, que está no Hall da Fama dos Compositores desde 2010, compôs Bette Davis Eyes no estilo jazz dos anos 1920s, bem diferente do que viria a ser eternizada anos depois. Ela gravou a canção em seu álbum, New Arrangement, de 1975. Segundo conta, impactada com o filme de 1942, A Estranha Passageira (Now Voyager), ela escreveu a canção que na verdade não é exatamente “elogiosa”, uma vez que a mulher misteriosa com olhos expressivos como os de Bette, é um tanto duvidosa.

“Donna Weiss e eu estávamos escrevendo bastante na época, e nós dois gostávamos de filmes em preto e branco. Donna havia escrito muitas páginas, e eu estava brincando com a melodia, e reunimos ‘Bette Davis Eyes‘”, ela contou anos depois.

O filme de 1942 é um dos melhores de Bette, que conta a transformação da solteirona e acabada Charlotte Vale em uma mulher glamurosa e independente, com passagem pelo Rio de Janeiro (risos, mas é sério!), frases lendárias e figurinos icônicos.

Embora seja imediatamente deliciosa, a canção não causou repercussão alguma em 1975. Seis anos depois, quando Kim Carnes se preparava para gravar seu primeiro álbum solo, Donna Weiss enviou a demo para a cantora que ficou imediatamente obcecada por ela.

Segundo consta, a demo soava como “uma faixa de Leon Russell” e não exatamente a cara do som que buscava, por isso tentaram os hoje famosos teclados para modernizá-la. Em apenas três takes nascia um clássico.

Quando chegou aos rádios, e à MTV, Bette Davis Eyes virou sucesso imediato liderando a Billboard Hot 100 por nove semanas seguidas e ganhou o Grammy Awards de 1981 de Canção do Ano. E o melhor foi a reação da própria Bette Davis sobre o sucesso.

Alheia às rádios e à MTV, a atriz foi surpreendida pelo orgulho de seus netos, que contaram para ela que era cantada no maior sucesso do ano. Imediatamente escreveu cartas para Carnes, Weiss e DeShannon agradecendo por torná-la “parte dos tempos modernos”. Mais ainda, a fazendo parecer interessante para os netos. Na verdade, o que a canção fez foi reforçar sua imortalidade.

Bette Davis morreu em 1989, quando estava para ser homenageada no Festival de San Sebastian. Ela tinha 81 anos.

O curioso é que Bette Davis Eyes também faz referência à outras lendas, como Jean Harlow e Greta Garbo, mas ninguém esquece dos olhos da grande atriz. Um hino que une pop, música e cinema. Fórmula de perfeição. Ouça aqui:

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