Em Hollywood, a “idéia de você”, se você for uma mulher acima de 40 anos, é que “tudo fica em família,” em especial, a vida amorosa de mãe e filha. Claro, nnão é de hoje que filmes praticamente iguais chegam à diferentes plataformas ao mesmo tempo, e, A Idéia de Você, da Amazon Prime Video, assim como Tudo em Família, da Netflix. são praticamente a MESMA história. E uma com máscara de romântica mas cheia de bandeiras vermelhas.

Primeiro, a trama é sobre uma mulher independente e madura, ainda traumatizada de um relacionamento passado, que tem uma excelente relação com a filha adolescente, navegando com o momentos de solidão de quando a filha deve sair de casa e sim, finalmente se abrir para um novo amor. Casualmente, as duas mulheres inteligentes e cultas, desconhecem os jovens rapazes mais famosos do universo que cruzam seu caminho (um é o cantor mais famoso do momento e no outro, o ator mais famoso do momento) e a química é imediata.
Até aí, ok, mas seguimos: os dois astros mais adulados e demandados, se apaixonam por essas mulheres BEM MAIS VELHAS, porque com elas, conseguem conversar, serem ouvidos e serem “eles mesmos”. Freud está por aí ouvindo?
E tem mais: as duas mulheres caem na história de “serem tão especiais e diferentes das demais”, mas despertam o ciúme das filhas, eventualmente tendo que escolher entre a felicidade delas antes da própria, não antes de serem humilhadas por jovens que revelam para elas que, Deus, elas caíram no papo clichê de seus conquistadores. O amor entre eles é genuíno, porém é mais importante a felicidade das filhas, e o casal se separa. Claro que, com o tempo, se reencontram e “são felizes para sempre”.
A mesma visão de que mulher depois dos 40 é “velha”
O resumo é exatamente o mesmo para os dois filmes, apesar de um trazer Anne Hathaway, de apenas 41 anos, e o outro, Nicole Kidman, com 57. Ou seja, a partir dos 40, como Hollywood ajuda a eternizar: acabou para as mulheres, mesmo que oficialmente estejamos tentando mudar essa narrativa.

E se não bastasse esse clichê negativo e perigoso, em ambos os filmes as mulheres de idades diferentes são colocadas em posições opostas, forçando à mãe a abrir mão de sua vida para que a filha seja feliz. É a mesma mensagem de que mulheres competem, que a “boa” mulher abre mão de sua sexualidade e futuro para que outra, mais jovem, possa ter a dela. Enquanto isso, o homem, jovem, é o idealista romântico com passado pegador e inconsequente mas que se apaixona de verdade pela primeira vez, e que luta por essa figura claramente maternal (de novo, FREUD!), sendo forçado a aceitar que “a sociedade” não os quer juntos. E sim, ele espera pelo seu amor.
Anne Hathaway e Nicole Kidman, duas atrizes vencedoras de Oscar, têm carisma suficiente para dar credibilidade à uma história tão clichê que poderiam fazer dormindo. Seus pares românticos, Nicholas Galitzine e Zac Efron, são astros do momento e há química que segura entre eles, mas ter Anne mãe de uma adolescente, embora biologicamente possível, ficou estranho enquanto ter Nicole como mãe de Joey King, funcionou.

O que é ainda inaceitável não é focar em filmes que discutam as complexas relações entre mães e filhas, há muitas camadas que a Psiquiatria ainda estuda, mas NUNCA há um filme no qual um pai maduro se apaixona por uma jovem e tem problemas com o filho adolescente por isso. Menos ainda é esperado que ele abra mão da vida dele pelo filho. E o fato de que essa história seja implausível diz tudo que precisamos antes de abraçar essas comédias românticas complicadas.
Tudo em Família: tudo distrai, nem sempre positivamente
Se você conseguir superar a estranheza que os rostos alterados de Zac Efron e Nicole Kidman provocam desde a primeira cena, Tudo em Família é aquela velha comédia romântica que sabemos de cor e salteado, mas ainda distrai e nos faz sorrir.
Aqui, temos Zara (Joey King) que é a assistente pessoal do galã de Hollywood Chris Cole (Zac Efron), um homem fútil, narcisista e que coleciona uma lista de ex-namoradas. A relação profissional dos dois é tóxica, mas Zara se mantém na posição oficialmente porque ele a está ajudando a passar a ser produtora, mas é mais aparente que ela, igualmente auto centrada, é viciada na dor.

Sem querer, um mal entendido entre ela e seu chefe provoca um encontro inesperado entre Chris e sua mãe, Brooke (Nicole Kidman), uma escritora famosa que embora viva em Hollywood, mal sabe quem ele é. Em poucas horas, Brooke e Chris percebem que têm uma química inegável entre eles e livres, agem ficando juntos. Quando Zara flagra os dois, começa o drama.
É divertido e impossível de imaginar como foi a vida pessoal de Nicole, que com apenas 22 anos era casada com Tom Cruise, um astro bem aos moldes de Chris Cole, uma informação irrelevante que nos faz querer vê-la mais em cena do que Joey King, ela sim, SEMPRE maravilhosa não importa o papel.
Tudo em Família é uma produção leve e sem pretensões, que só serve se quiser mesmo gastar uma hora do seu dia sem pensar profundamente.

As semelhanças dos filmes
O curioso da similaridade das obras meio que sinaliza uma vertente de rom com de protagonistas maduras, infelizmente, ainda vítimas da fórmula machista. E A Idéia de Você vem do best seller de mesmo nome e que, tecnicamente, é inspirado em uma história real: a de Olivia Wilde e Harry Styles.
A diretora/atriz e o cantor se apaixonaram quando trabalharam juntos em um filme e emendaram em um namoro que não ultrapassou dois anos e a diferença de 10 anos entre eles sempre foi lembrada e realçada. A pressão pública não contribuiu. Oficialmente, eles permanecem amigos, mas estão separados.
Seria incrível se efetivamente a narrativa mudasse e estivéssemos vendo vendo histórias românticas de mulheres maduras sem neuroses a la Sally ou as personagens de Meg Ryan. Nem mesmo a história na qual um casamento seja o símbolo de final feliz. Tanto Brooke como Solène, com mais de uma década de diferença entre elas, são bons exemplos de personagens que podemos investir. Incrível também que reencontrem a paixão e o amor depois de traumas e tempo dedicados à criação de suas filhas, até mais por jovens quase 20 anos mais novos, mas elas ainda merecem mais do que isso.
Os filmes são ruins? Não, eles servem ao seu objetivo. O que proponho é: vamos tentar ir além?
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