Problemas com Rhaenys em House of the Dragon: Uma Análise Confrontadora

Ai gente, eu sei. Não é a primeira vez que venho “meu problema com” e, em geral, com mulheres fortes que são paradoxais. Queria não ser rabugenta, mas às vezes é difícil.

Sim, eu tenho problemas com Rhaenys (Eve Best), e, em especial, como vem sido retratada em House of the Dragon. Na véspera da nossa despedida dela, faço a pausa para dissertar o que acho que é estranho, incongruente ou diretamente errado com ela na série. Vamos lá!

Nos livros, uma heroína que apoiou incondicionalmente Rhaenyra, na TV? Com ressalvas

Fui influenciada pela minha imaginação, inspirada pela descrição ultra badass de Fogo e Sangue, de uma mulher forte, leal e íntegra. Adorei quando anunciaram a atriz Eve Best para o papel, ela é perfeita, mas, o que vi em House of the Dragon foi meio que uma constante corrente de banho frio.

Rhaenys II Targaryen, também conhecida como “Rhaenys Velaryon” é lendária entre os Targaryens por várias razões. Filha única de Aemon Targaryen, foi descrita como uma jovem ágil, inteligente e com liderança, tanto que encantava sua avó, a Rainha Alysanne (outra lenda por si só).

Como uma mulher de opinião, ela escolhe se casar com Ser Corlys Velaryon (Steve Toussaint), um dos homens mais ricos e poderosos de Westeros e o Senhor das Marés. Juntos, eles formam uma aliança poderosa entre duas das casas mais influentes de Westeros. Ele não teria sido a escolha de seu pai ou avós, mas Rhaenys sabia o que queria.

A maior decepção de Rhaenys veio logo: embora casada e adulta, embora fosse a neta mais velha de Jaehaerys I, quando seu pai faleceu foi preterida na ordem da sucessão por seu avô, que definiu seu tio como o próximo Rei. Quando esse tio faleceu, Rhaenys e Corlys argumentaram que seu filho, Laenor, mesmo que ainda bebê, agora cumpriria o critério esperado por ser homem, portanto através dele ela seria a Rainha mãe e regente. Porém Jaehaerys, mais uma vez vacilou.

Para não ser o único a decepcioná-la, convocou um conselho e fez a votação: ou Rhaenys ou Viserys (Paddy Considine), primo dela, deveria ser escolhido. Quando o patriarcado foi pelo homem, ele “aceitou”, mas na verdade só validou o que iria decidir o tempo todo. Nas páginas do livro Rhaenys e Corlys ficam decepcionados, o que é bem retratado em House of the Dragon, até porque ela virou a piada de ser “A Rainha que Nunca Foi”, mas Rhaenys manteve a pose e a calma. Ninguém duvidada que ela seria mais qualificada em tudo, mas era mulher e ninguém queria Corlys governando em seu lugar.

Aqui a história muda 100% entre TV e Livro. Quando as maquinações de Otto Hightower (Rhys Iphans) colocam Rhaenyra (Milly Alcock/Emma D’Arcy) na posição que foi negada à Rhaenys, a que nunca foi reagiu estranhamente ressentida. Aparentemente Rhaenys não ia com a cara de Rhaenyra e em vez de orientá-la como uma mãe que a menina não tinha, dizia a verdade, mas aparentemente de um lugar de rancor.

A arrogância da Rhaenys da TV precisa ser discutida. Em mais de uma oportunidade, como observadora e conhecedora da política em Westeros, viu o que Otto estava fazendo (bem, não sacou o golpe via Alicent (Emily Carey/Olivia Cooke), mas já falamos sobre isso), ela poderia ter mudado o curso da história mas se absteve quase como um dar de ombros de “não me elegeram Rainha? Não vou resolver os problemas para vocês”. Mesquinho, não? Eu acho!

Quando Rhaenyra agia convencida de seu papel como sucessora, Rhaenys a alertou da instabilidade do plano: mesmo tendo feito juramentos, os homens destruiriam o trono antes de ver uma mulher nele, avisou (estou parafraseando). Embora fosse um alerta válido para a princesa de que haveria conflitos, não foi passado de forma positiva.

E se achamos que Otto estava sozinho na corrida pela posição aberta de Rainha consorte não podemos esquecer que tanto Corlys como Rhaenys ofereceram e insistiram que Viserys se casasse com Laena, na época com meros 12 anos. Sim, não há dignidade ou limite para as ambições de poder e a própria Rhaenys, do alto de sua superioridade quis vender sua filha para um homem de 35 anos mais velho, com o único carinho sendo “tranquilizá-la” de que não precisaria fazer sexo antes de menstruar. Nojo, Rhaenys! Nojo!

E o que Corlys e Rhaenys queriam ao casar Laena com Viserys? Tirar de Rhaenyra a posição de herdeira. Isso mesmo, obviamente Laena daria ao rei o esperado filho homem, assim “a ordem das coisas” voltaria ao seu “normal” e Rhaenys teria sua trajetória tortuamente “resolvida”.

Portanto, queridos, na primeira oportunidade que teve de ter sororidade e evitar que outra passasse pelo que passou, nossa “sábia” Rhaenys quis dar o troco e tirar de Rhaenyra a coroa que estava prometida à ela.

Claro que ela deve ter ficado aliviada de que a “derrota” política desse à Laena pelo menos a chance de encontrar um marido mais adequado pelo menos em idade, embora isso tenha levado a menina diretamente à Daemon Targaryen (Matt Smith), o assassino de esposas, mas Corlys ficou abertamente ofendido.

A sorte os ajudou de alguma forma: mesmo com Laenor (John McMillan) sendo abertamente gay, quando deu a confusão sobre a virgindade de Rhaenyra, o acordo de casar os primos foi abraçado com orgulho e felicidade pelos Velaryons. Mas, não vimos Rhaenys particularmente feliz. Ela realmente parecia não gostar de Rhaenyra e a tragédia que foi a cerimônia de casamento foi um dos piores sinais para aquela união forçada.

A segunda parte da história não ajuda na TV. No livro, os Velaryons têm cabelos pretos, mas são brancos e na série foram colocados loiros mas de pele preta. Inclusão bem vinda, mas tornou problemática o que era para ser uma dúvida como nas páginas: a paternidade dos filhos de Rhaenyra.

O amante da princesa na série, Ser Harwin Strong (Ryan Corr) era branco portanto a indignação de Alicent quanto a cara de pau de Laenor e Rhaenyra apresentarem os filhos branquelos como Velaryon perdeu muito do clima e passou a ser simplesmente uma piada. Corretamente agora, vimos uma Rhaenys distante e julgadora de Rhaenyra, mesmo que ciente de que o problema de gerar um filho estava em Laenor não se deitar com a esposa, não o contrário, julgava mais uma vez de forma machista a mulher, não o homem.

Claro que ver o filho publicamente corneado não agrada ninguém, mas não era como se houvesse alternativa ali. Ser Corlys, por outro lado, adotou a atitude correta, sendo carinhoso com as crianças e os tratando como netos sem preconceitos. Rhaenys era fria e distante com os meninos.

Rhaenyra tentou de tudo para ter o apoio das mulheres, fosse Alicent ou Rhaenys, mas sempre ficou isolada porque nenhuma dessas mulheres conseguiu superar a inveja. Alicent da liberdade e carinho que a enteada e ex-melhor amiga recebia de Viserys e Rhaenys porque Rhaenyra tinha o apoio do Rei como ela nunca teve do avô. Nós criticamos Alicent, mas Rhaenys não ficou atrás!

Um exemplo de mais uma vez ter usado a chance para cutucar Rhaenyra, quando a princesa sugeriu casar os filhos dela com os filhos de Laena e Daemon, como vantagem mútua, assim como Alicent fez ao recusar casar Helaena com Jacaerys, Rhaenys “agradeceu” à iniciativa de Rhaenyra, comentando que era “generosa ou desesperada”, claramente implicando que era a segunda opção.

Com toda sua influência e liberdade de conversa com o marido, Rhaenys deixava Corlys mandar na casa e na família, deixando ele levar a fama de ambicioso quando ela mesma se isentava de interferir no curso da história. Mais uma vez dando de ombros.

Na virada principal, a escolha de não interferir selando seu próprio destino

A série mostrou melhor do que no livro que Ser Corlys ficava até anos ausente de casa, dando a abertura para o que sabemos ser ter filhos homens fora do casamento com Rhaenys, mas ela jamais saberá da verdade. Morrerá antes.

Nesses períodos de longa ausência, a maior oportunidade de ajudar Rhaenyra e definir a História passou exclusivamente pelas mãos de Rhaenys, diferentemente do livro. Em Fogo e Sangue, Rhaenys estava em Driftmark quando os Verdes deram o golpe de Estado e imediatamente anunciou seu apoio à Rhaenyra. Na série? Protelou. O suficiente para que Alicent estivesse convencida que a teria do lado dos Verdes!

O problema dessa vez nem foi apenas a inveja. A série fez outra mudança radical que complica o cenário. No livro, Laenor é assassinado pelo amante depois de uma briga no bar. Mesmo que fosse uma briga conveniente para deixar Rhaenyra livre para casar com o recém-viúvo Daemon, o crime teve testemunhas e causou a morte dos dois. Assim os Velaryons, mesmo incomodados com o casamento da tia e sobrinho, aceitaram até porque tinham se passado alguns meses desde a morte de Laena.

Na série, Rhaenyra faz um grande gesto de amor por Laenor, combinando com Daemon para ajudá-lo a ser dado como morto, mas fugir com o amante para longe de Westeros. E isso na noite do funeral de sua irmã!!! Portanto aí sim concordei com Rhaenys, era impossível – sem saber da verdade – gostar ou aceitar Rhaenyra. Sem esquecer que ainda houve a baixaria dos “netos” terem se atracado com os tios e cegado Aemond (Ewan Mitchell), sem que Laenor jamais apareça nem para ver o que estava acontecendo. Laenor era um péssimo filho e péssimo pai, mas é normal que as mães protejam a cria. Rhaenys queria dar a herança dos Velaryons para as netas que ela sabia serem legítimas e deixar Rhaenyra isolada se virando com os problemas dela.

Por essa razão, quando a legitimidade de Lucerys é colocada como impecilho para herdar Driftmark, que Rhaenys tenta finalmente fazer algo pelas netas e tentar se insentar do dramalhão entre os filhos de Viserys. Não conseguiu. Topou a aliança de casamento das crianças e quando se viu prisioneira dos Verdes ficamos sem saber: quem ela apoiaria afinal?

A escolha de Rhaenys é grandiosa, mas não o suficiente. Ela se recusa a apoiar os verdes, mantendo o juramento feito por Corlys de honrar Rhaenyra como Rainha, mas ainda provoca Alicent, perguntando por que ela está lutando pelo filho em vez de querer o trono para ela. A pergunta poderia ter sido feita para ela mesma: por que então não acabou com verdes e pretos e fez da Coroa a bandeira azul dos Velaryons?

Ainda “presa”, e certamente destinada à uma execução, Rhaenys consegue escapar e por sorte é arrastada pela multidão até conseguir libertar sua dragão, Meleys. E aí ela tem a oportunidade única de impedir a coroação de Aegon (Tom Glynn-Carvey) e acabar com a Guerra antes dela começar. Mas decide que “não era uma guerra para que ela começasse”. O pior dos erros da personagem.

Queria respondê-la citando Cersei Lannister: “Mas era, quando se joga o jogo dos tronos se ganha ou morre”. E Rhaenys vai morrer epicamente.

E aqui está um dos maiores dramas que tenho com Rhaenys de House of the Dragon. A Rhaenys que está sempre em cima do muro só fala o obvio, só dá cutucada em Rhaenyra e não toma a liderança que naturalmente tem. “”Os deuses não gostam de guerra entre parentes”, bla bla bla…

Em vez de aconselhar Rhaenyra e dizer o que quer dizer, Rhaenys está sempre se isentando e subindo no muro, sempre insinuando que a Rainha legítima está errada. Gente, ela inclusive pareceu defender os Verdes dizendo que o problema começou quando Aemond foi cego quando o ataque físico começou com ele agredindo sua neta e ROUBANDO a dragão de sua filha na calada da noite. Lucerys estava defendendo a prima e pedido dela! E mais: Rhaenys SABE que foi Daemon que mandou matar Jaehaerys, por que colocar o peso da culpa nos ombros já pesados de Rhaenyra? Que rainha falsiane!

Pois agora as consequências de todas as vezes que Rhaenys deixou de agir virão ao seu encalço. Ela estará sozinha na Batalha de Rooks Nest lutando contra dois dragões e o exército dos Verdes. Será uma armadilha, plantada exatamente pelos mesmos que ela poupou por achar que não era sua vez de fazer alguma coisa.

A morte de Rhaenys sempre foi um dos momentos mais aguardados de House of the Dragon e a expectativa para a cena é gigantesca. Seu dragão, Meleys, conhecida como a “Rainha Vermelha”, é um dos dragões mais poderosos e temidos da época e a habilidade de Rhaenys como montadora é reverenciada. Será ainda mais depois de sua morte.

Queria dizer que sentirei falta de Rhaenys, mas não é verdade. Sua influência não foi como a esperada, ela foi maliciosamente neutra nos momentos errados e, para piorar, sua morte vai criar um problema sério entre Rhaenyra e Ser Corlys porque ele vai seguir o exemplo de culpar Rhaenyra mesmo quando ela está certa. Isso se seguirem o livro, né?

No livro, Rhaenyra proíbe Jaecaerys de voar com Rhaenys para a batalha pois desconfia da armadilha, mas, Rhaenys, corajosa e preocupada com os aliados, decide ir sozinha. Não vai por ordem de Rhaenyra, pessoal. Infelizmente, amo Eve Best, mas Rhaenys já vai tarde.


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3 comentários Adicione o seu

  1. Avatar de Andreza Andreza disse:

    Amei a análise. 100% de acordo. Ela é diva, porém humana e deixou a inveja falar mais alto.

    Curtido por 1 pessoa

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