Com tanta conversa sobre Branca de Neve, é impossível evitar voltar ao tema da atriz que teria inspirado aos desenhistas para criar a temida e icônica Rainha Má. Temos Gal Gadot no papel que teve estrelas como Julia Roberts (Mirror, Mirror) e Charlize Theron (Branca de Neve e o Caçador), mas a original foi um conjunto de divas.
Embora seja possível entender porque por muitos anos os rumores tenham sido que Greta Garbo tenha sido o modelo, oficialmente, foi Joan Crawford, cuja voz grave e gestos teatrais foram igualmente absorvidos pela personagem. Até os olhos verdes foram captados! E no ano em que lembramos os 120 anos de seu nascimento (em março), vale revisitar essa lendária atriz cuja carreira se estendeu por várias décadas, desde a era do cinema mudo até a televisão.


Nascida como Lucille Fay LeSueur em 23 de março de 1904, Joan cresceu em uma família onde seu pai saiu de casa quando ela ainda tinha menos de um ano, portanto foram vários casamentos de sua mãe e uma infância dura. A pequena Lucille logo se encantou com apresentações de vaudeville e decidiu que seria dançarina.
Assim que foi possível, ela começou a dançar nos coros de show itinerantes até que chamou a atenção de produtores e levada para a Broadway. Determinada, ela era focada em conseguir sua grande chance ao estrelato: gravou um teste de vídeo e mandou para a MGM, que rapidamente a contratou. Ainda como “Lucille LeSueur”, estreou no cinema em 1925, como dublê de Norma Shearer, na época, a maior estrela feminina do estúdio.
Ela mudou o nome por recomendação do chefe de publicidade da MGM, que achou que soava falso ou até brega. O nome final veio de um concurso chamado “Nomeie a Estrela”, onde os leitores votaram no favorito. O primeiro foi “Joan Arden”, mas como já existia uma homônima, por isso mudou para “Crawford”.
Como o estrelato estava demorando, a sempre determinada atriz mais uma vez foi determinada atrás do sucesso, frequentando festas para ser vista ou os lugares mais populares. Funcionou. Aos poucos foi recebendo mais ofertas de trabalho e passou a ser, efetivamente, a protagonista. E o fato de ficar à sombra de Norma Shearer, na época casada com o chefe de produção da MGM, Irving Thalberg, só fez Joan considerá-la uma rival mais do que amiga. Aliás, a vida e a carreira de Joan Crawford seria repleta de rivalidades e competições com outras atrizes, notoriamente, Bette Davis entre elas.

Quando o cinema mudo foi aniquilado com o a chegada do som, Joan estava pronta porque não apenas tinha boa voz, como sabia cantar e dançar. Empenhada, trabalhou para melhorar a dicção e perder o sotaque. Rapidamente, de uma das famosas da MGM, passou a ser uma estrela mundial, em mais de uma vez, fazendo par com Clark Gable e considerada de igual com Norma Shearer, Greta Garbo e Jean Harlow.
A carreira de Joan Crawford mudou com o filme Grand Hotel, onde estava ao lado dos maiores e ganhou mais elogios. Porém, até aqui, estava em filmes leves e ela queria ser conhecida como atriz dramática, algo que só conseguiu no final dos anos 1930s, mas, justamente com um declínio de sua popularidade o que ela conseguiu reverter em 1939, fazendo o papel da sedutora e mau caráter que “rouba” o marido de Norma Shearer em The Women. Emendando trabalhos elogiados, a sua atuação como a chantagista desfigurada facialmente em A Woman’s Face rendeu uma de suas atuações mais elogiadas.


Nos anos 1940s, trocou a MGM pela Warner Bros. e passou a perseguir o Oscar. Seu famoso empenho e determinação de conseguir o que quer foi importante quando decidiu filmar Mildred Pierce, em 1945. O diretor queria Barbara Stanwyck e apesar de ser inesperado que uma estrela de seu porte aceitasse fazer um teste, Joan engoliu o ego e concordou, conseguindo o papel. E que tal? Sim ganhou o Oscar de Melhor Atriz.
Nos anos 1960s, já com a TV ganhando prestígio, Joan Crawford fez a transição para o meio, estrelando filmes ou novelas, e, mesmo que tenha sido porque já não tinha ofertas no cinema por estar “velha”, seguiu trabalhando. Um dos seus últimos grandes sucessos, O que Aconteceu com Baby Jane, foi co-estrelado por Bette Davis e a série Feud mostrou os disputados bastidores das gravações, com as duas famosas inimigas se unindo para fazer um sucesso. Que foi derradeiro.


Casada quatro vezes, com homens importantes como Douglas Fairbanks Jr. a Alfred Steele (dono da Pepsi Cola), Joan adotou seus quatro filhos, sendo que a primeira, Christina, foi alvo de uma complexa relação ao longo dos anos.
Quando chegaram os anos 1970s, Joan finalmente se aposentou. Ela já tinha publicado duas autobiografias (a última foi em 1971) e sua última aparição pública foi há 50 anos, em setembro de 1974, numa festa de lançamento do livro de Rosalind Russell. Três anos depois, sofreu um infarto fulminante em maio de 1977, morrendo em seu apartamento. Oficialmente aos 69 anos.
O drama que manchou o legado de Joan veio justamente após a sua morte quando deserdou seus dois filhos mais velhos, Christina e Christopher. O que muitos consideram uma vingança baseada em despeito, lançou o livro Mamãezinha Querida, que destruiu a reputação de Joan para as gerações mais novas e jamais foi possível reverter.

Como o obituário do New York Times precisamente define, Joan Crawford era “um epítome do glamour atemporal que personificou por décadas os sonhos e decepções de milhões de mulheres americanas”, facilmente se adaptando às mudanças de época e gostos. Literalmente, não fazem estrelas como ela.
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