Fred Astaire: O Rei da Dança e do Cinema

Hoje homenageio o aniversariante do dia, um dos poucos nomes na história do entretenimento que brilham com o mesmo fulgor através do tempo: Fred Astaire. Considerado por muitos o maior dançarino da era de ouro do cinema americano, Astaire reinventou a dança nas telas com leveza, elegância e um perfeccionismo quase obsessivo que mascarava a complexidade técnica de cada passo. Sua carreira, que atravessou o teatro, o cinema, a televisão e a música, é um testemunho de talento, disciplina e reinvenção constante.

Nascido Frederick Austerlitz em 10 de maio de 1899, em Omaha, Nebraska, Astaire começou a dançar ainda criança, ao lado da irmã Adele. A dupla rapidamente se destacou no circuito de vaudeville e, mais tarde, na Broadway e no West End londrino. Adele era inicialmente considerada a estrela da dupla, mas após seu casamento e aposentadoria precoce dos palcos, Fred teve que provar sozinho seu valor como artista. A transição não foi simples: ao fazer testes para o cinema, um avaliador anotou infamemente que ele “não sabia atuar, não sabia cantar e só sabia dançar um pouco”. Ironicamente, ele se tornaria o padrão-ouro de excelência justamente por sua capacidade de unir dança, música e atuação de forma harmônica e fluida.

O som ajudou Fred. Seu primeiro filme sonoro, em 1933, e até 1968 estrelou mais de 30 musicais. Onze deles ao lado de Ginger Rogers, sua parceira mais duradoura. As músicas que dançaram foram compostas pela nata do mundo da música popular, incluindo Cole Porter, Irving Berlin, Jerome Kern e George e Ira Gershwin. Foi uma das parcerias mais emblemáticas da história do cinema, com clássicos como Top Hat (1935), Swing Time (1936) e Shall We Dance (1937), entre outros. Rogers trouxe charme, força e naturalidade para a tela, igualando-se ao virtuosismo técnico de Astaire com graça e carisma. Como se tornou célebre a frase: “Ginger Rogers fazia tudo que Fred fazia — só que de salto alto e de costas.”

O estilo de Astaire era marcado por uma combinação única de leveza e precisão. Ele fazia parecer fácil o que era meticulosamente ensaiado. Preferia planos longos e poucos cortes durante os números de dança, insistindo que o público deveria ver os dançarinos dos pés à cabeça, sem interrupções que disfarçassem erros ou usassem truques de edição. Seu trabalho era uma coreografia também para a câmera, moldando a forma como a dança seria filmada dali em diante. Influenciado pelo sapateado, pelo balé clássico e pelas danças de salão, ele também era inovador: experimentava com objetos, cenários e sons (como na cena com tamancos em Royal Wedding ou na coreografia com cabideiro em Funny Face).

Fred também tinha uma relação intensa com a música. Cantor de voz suave e ritmada, ele introduziu muitas canções no repertório popular americano. Canções como Cheek to Cheek, The Way You Look Tonight, e They Can’t Take That Away from Me. Quando migrou para a MGM, brilhou em produções mais suntuosas como Easter Parade (1948), ao lado de Judy Garland, e The Band Wagon (1953), com Cyd Charisse — outra de suas grandes parceiras, com quem encenou talvez as coreografias mais sofisticadas de sua carreira. Em Royal Wedding (1951), realizou uma das cenas mais icônicas da história do cinema: dançou literalmente nas paredes e no teto, graças a um elaborado truque de câmera.

Mesmo após aposentar-se temporariamente da dança nos anos 1950, Astaire seguiu ativo como ator e apresentador. No fim da vida, experimentou papéis dramáticos, como em The Towering Inferno (1974), que lhe rendeu uma indicação ao Oscar. Também foi um dos primeiros astros do cinema a se destacar na televisão, com especiais coreografados por ele e premiados com vários Emmys.

Discreto na vida pessoal, Fred Astaire foi casado duas vezes e teve dois filhos. Era avesso a escândalos, conhecido por sua ética profissional, e mantinha um círculo restrito de amizades. Sempre relutou em ser transformado em mito em vida — talvez por saber o quanto trabalhou para parecer leve, quando tudo em sua carreira foi construído sobre precisão, autocobrança e resistência ao estrelato vazio.

Fred Astaire morreu em 22 de junho de 1987, aos 88 anos, deixando um legado inigualável. Sua influência atravessa gerações e estilos: Gene Kelly o reverenciava, Michael Jackson o estudava, e até dançarinos contemporâneos continuam citando sua inventividade. Ele transformou o cinema musical em arte coreográfica, tornando o gesto uma extensão natural da emoção. Há um projeto anunciado de uma biopic, mas ainda não aius do papel. Como resumiu com exatidão o crítico John Mueller, “Astaire não apenas elevou a dança no cinema — ele a criou”.


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