Deixei a importante e necessária visão de Ginny & Georgia para uma coluna em CLAUDIA. Aqui quero falar da narrativa dramática da terceira temporada.
É a mais intensa e transformadora até agora — e seu final chocante coloca todos os personagens principais em xeque. E olha que nenhuma delas foi leve ou sem surpresas. Acuada, exposta e emocionalmente devastada, Georgia (Brianne Howey) se vê no banco dos réus, sendo julgada por um assassinato que tentou esconder. A série não apenas leva a protagonista ao limite, mas transforma radicalmente a dinâmica familiar com Ginny (Antonia Gentry) e Austin (Diesel La Torraca), forçando todos a encarar as consequências das decisões do passado.
Segundo a própria Brianne Howey, essa é a primeira vez que vemos Georgia “verdadeiramente quebrada” e finalmente tentando se reconstruir com base na honestidade — algo completamente novo para alguém que sempre lidou com os traumas fugindo ou mentindo. “Ela nunca tinha feito isso antes”, diz a atriz para o TUDUM.

Vamos direto para os SPOILERS. Há um lado bem delicado da série que faz a relação nada saudável de Georgia com os filhos parecer ser apenas de amor. Ela é uma pessoa traumatizada que, infelizmente, traumatizou os filhos também. No meio do drama, os pais ausentes de Ginny e Austin decidem que são melhores e responsáveis, tirando as guardas dos dois no pior momento de Georgia, que foi abandonada por Paul.
Por isso, no tribunal, o momento mais impactante da temporada acontece quando Austin sobe ao banco de testemunhas do julgamento de sua mãe. A expectativa era de que ele mentisse para proteger a Georgia, dizendo que não havia visto nada. Mas, para espanto de todos — e principalmente dela —, ele revela que testemunhou o assassinato de Tom Fuller (Vincent Legault).
Mas o choque maior vem a seguir: Austin não entrega a mãe, e sim o pai, Gil (Aaron Ashmore), como responsável pela morte. Um movimento inesperado, articulado nos bastidores por Ginny, que arma um verdadeiro jogo de xadrez para proteger a família. Ao final do julgamento, Georgia é absolvida graças à manipulação de sua filha — que sorri no tribunal, espelhando perfeitamente os traços calculistas de sua mãe.

“Ginny está se transformando completamente em Georgia ao fim da temporada”, explica Gentry ao TUDUM. Quando a mãe desiste de lutar, resignada a aceitar a culpa e a prisão, Ginny reage com indignação. “Eu nunca vi você desistir, e isso me apavora. Então, se você não vai ser você, eu vou ter que ser você”, diz a atriz sobre a motivação da personagem. Ginny toma as rédeas da situação: contrata Simone (Vinessa Antoine), namorada de seu pai, como advogada de defesa da mãe, chantageia Cynthia (Sabrina Grdevich) para que ela envolva Gil no crime, e convence o irmão a mentir. Xeque-mate.
A criadora da série, Sarah Lampert, afirma que essa era a intenção desde o início da terceira temporada: quebrar Georgia completamente para colocar todos os personagens à prova, levá-los ao limite emocional e moral, para então permitir a possibilidade de reconstrução. Georgia não poderia continuar fugindo de tudo para sempre.
A diferença do assassinato da segunda temporada é que Tom Fuller não era um homem mau, ao contrário dos ex-maridos abusivos que Georgia matou no passado para proteger a si mesma e aos filhos. Ao matar Tom, ela se coloca como juíza e executora, extrapolando todas as justificativas anteriores. A decisão de mostrá-la sendo julgada em praça pública foi também uma forma de expor o abismo entre sua imagem pública e sua realidade interior.

Para garantir a autenticidade emocional da temporada, a equipe de roteiristas trabalhou com a organização Mental Health America e com uma psicóloga licenciada (tema da coluna que avisei no início). Lampert revela que perguntou à especialista: “O que teria que acontecer para que Ginny e Georgia tivessem um bom relacionamento?” A resposta foi clara: Ginny precisaria impor limites, e Georgia teria que perceber que suas ações têm consequências reais sobre seus filhos — algo que ela ainda não compreendia plenamente. A terceira temporada, portanto, é um caminho de destruição necessário para, talvez, abrir espaço para a cura.
Mas como estamos no campo da ficção, essa cura é esquisita. No fim da temporada, Ginny assume totalmente o peso do destino da mãe — e o aceita. Ela não carrega mais o fardo de proteger Georgia passivamente, como nas temporadas anteriores. Agora ela manipula ativamente, como a própria mãe faria. “Se eu tiver que chantagear alguém para salvar minha família, vou fazer”, diz Gentry sobre a transformação da personagem. A filha se torna a espelhada da mãe — para o bem e para o mal.
Brianne Howey observa com apreensão o que vem pela frente: “Georgia está grata por não ter ido para a cadeia, mas quando percebe que seus filhos manipularam tudo, é um choque. Isso a leva a querer, finalmente, fazer terapia e quebrar esse ciclo.” Ao ver os filhos repetindo seus próprios padrões, Georgia compreende, com clareza dolorosa, o impacto de seus atos.
A relação entre Ginny, Georgia e Austin também sofre abalos profundos. A mãe continua amando incondicionalmente os filhos, mas agora é obrigada a encarar o preço emocional que eles estão pagando por seus erros. Segundo a showrunner Sarah Glinski, “as maiores consequências são como as crianças saem transformadas desse processo”. Em outras palavras, traumatizadas.
Ginny, por sua vez, sabe que forçar o irmão a mentir foi uma escolha questionável, mas necessária. “[Ela] sabe que o que fez com Austin é o mesmo que Georgia fazia com ela: manipulava, empurrava, exigia. É doloroso, mas ela acredita que é a única maneira de impedir que Austin se torne como Gil.” Ao longo da temporada, o garoto começa a se aproximar do pai abusivo, e Ginny vê ali um risco grave. Austin, em determinado momento, diz preferir ser como a mãe. Então Ginny decide: “Se eu sou a mãe agora, tenho que impedir que ele vire o pai.”

No último episódio, Ginny diz à mãe: “Nós também carregamos esse peso. Sempre carregamos.” Para Lampert, é uma das falas mais emblemáticas da série — um lembrete de que a lógica de “é você e eu contra o mundo”, criada por Georgia no início da história, sempre foi injusta e emocionalmente sufocante. E só agora, ao fim da terceira temporada, Georgia começa a entender isso de verdade.
E quanto a Gil? Ele sempre foi o bode expiatório planejado. Desde o episódio “Kill Gil”, da segunda temporada, estava claro que seu papel seria o de vilão conveniente. Um pai agressivo, violento, manipulador — e o alvo perfeito para a reviravolta judicial. Com isso, Ginny & Georgia arma uma narrativa onde vítimas e algozes se confundem, e onde os filhos, no desejo de proteção, herdam as sombras dos pais.
Com a quarta temporada já confirmada, a série agora parte de um novo ponto de partida: todos os personagens foram desmantelados, e resta saber quem conseguirá — e quem desejará — se reconstruir.
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