Final Impactante de Round 6: O Jogo Nunca Acaba (Spoiler)

Em tese nos despedimos do fenômeno Round 6 com sua terceira temporada, disponibilizada completa no final de junho na Netflix. A essa altura, a grande virada e surpresa da última cena já está sendo discutida ad infinitum nas redes sociais, mas fica um aviso de spoiler.

Para quem acompanha a trágica saga de Seong Gi-hun (456) desde 2020 e ficou no ar desde 2024 quando a segunda temporada foi interrompida em meio a um massacre, pode parecer que a história está se repetindo, se arrastando e extremamente ou até mais violenta. São pelo menos três tramas simultâneas que envolvem participantes e outras subtramas a cada episódio. Parece overacting, parece pessimista e manipulativo, mas sem descartar nada disso ainda é preciso e profundo. E em meio a isso tudo, a terceira temporada de Round 6 termina com uma cena que, à primeira vista, parece simples. Mas basta um segundo olhar para perceber que ali está escondida toda a mensagem da série — e o anúncio sombrio de que o horror que conhecemos está longe de acabar.

A presença de Cate Blanchett, em um papel inesperado, não só redefine os rumos da história como transforma os segundos finais em um dos momentos mais inquietantes e politicamente carregados da TV recente. O que está por vir?

A personagem dela aparece nos Estados Unidos, vestida com a elegância minimalista de quem sabe exatamente o poder que tem. Em vez de algo grandioso ou barulhento, ela faz o que conhecemos bem: desafia um homem vulnerável a uma partida de ddakji, exatamente como Gong Yoo fez com Seong Gi-hun lá na primeira temporada. Só que agora o cenário é outro. Está no centro de uma das capitais culturais do mundo. O que era um experimento secreto em uma ilha sul-coreana se transformou num mecanismo global de entretenimento e exploração.

A escolha de Cate para esse papel não é apenas uma jogada de marketing (embora funcione como tal). É simbólica. Ela não está ali só para entregar um papel misterioso: está para personificar o rosto sofisticado e sedutor da violência institucionalizada. É o capitalismo de espetáculo em sua forma mais elegante, mais impessoal e, por isso mesmo, mais aterrorizante.

Mas o momento mais potente não é a jogada de ddakji em si. É quando o Front Man, Hwang In-ho, observa tudo de longe. Ele não diz uma palavra. Mas o olhar que ele troca com a personagem de Cate diz muito. É um reconhecimento silencioso, quase cúmplice. O jogo continua. O sistema está intacto. E pior: está se expandindo. O que antes era um ciclo vicioso dentro de uma cultura local virou agora uma epidemia global de entretenimento sádico.

Essa cena final faz o que Round 6 sabe fazer melhor: ela incomoda. Não entrega respostas fáceis. Não oferece finais felizes. Seong Gi-hun se sacrificou. O bebê foi salvo. O Front Man hesitou. Mas o mundo seguiu. E nesse mundo, sempre há alguém disposto a bater uma ficha vermelha contra uma azul para conquistar o desespero de mais um.

O que mais me inquieta nessa cena é a elegância com que o horror se apresenta. Cate apenas sorri. E esse sorriso contém todo o cinismo do sistema que a série tanto denuncia: aquele que nos convence de que estamos apenas assistindo, quando na verdade estamos participando.

O “As you wish” que ela diz ao novo jogador é especialmente cruel. É como se dissesse: “Você pensa que está no controle, mas já perdeu.” E a câmera, que antes focava nas reações humanas dos jogadores, agora captura a frieza de uma nova engrenagem — mais moderna, mais polida, mas igualmente mortal.

A aparição de Blanchett é também uma provocação narrativa: o jogo vai continuar. Talvez em outras cidades, com outros jogadores. Talvez em uma nova série, um spinoff americano, como já vem sendo especulado. Mas mais que isso, é um lembrete de que nenhum lugar está a salvo de virar arena quando o desespero vira entretenimento.

Round 6 não termina. Ele se move. Muda de forma. E no olhar congelado entre dois executores do sistema — In-ho e a recrutadora — percebemos que a luta de Gi-hun foi só o começo. O sacrifício dele planta uma dúvida. Mas ainda não é suficiente para derrubar o que está por vir.

O jogo está longe de acabar. E agora, ele fala inglês.


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