Desde que anunciaram o fim do casamento em 2016, Brad Pitt e Angelina Jolie se transformaram de casal hollywoodiano dos sonhos a protagonistas de uma disputa pública amarga e crescente, que já dura quase uma década. Entre farpas judiciais, acusações veladas de abuso, manipulações de bastidores e brigas sobre uma vinícola francesa de conto de fadas, o que antes era lido como um divórcio complicado agora se parece muito mais com uma campanha silenciosa – e eficaz – de aniquilação da imagem de Jolie. Enquanto a narrativa sobre Pitt se constrói com camadas de redenção e charme californiano, a dela é pintada com tons de ressentimento, isolamento e perda de relevância.

Do lado de fora, parece que Hollywood escolheu um lado. Brad manteve o prestígio, acumulou projetos como produtor, venceu Oscar por Era uma vez em… Hollywood e ainda emplacou um filme sobre Fórmula 1 com cheiro de blockbuster. Enquanto isso, Angelina viu sua presença minguar: aclamada por décadas por sua atuação em dramas intensos e por seu ativismo global, hoje ela aparece mais nas páginas policiais dos sites de entretenimento do que nos tapetes vermelhos. Seu filme Maria, em que interpreta Maria Callas, passou praticamente em branco na temporada de premiações (sem vitórias) — e eu não acredito que isso tenha sido coincidência. A ausência da indicação ao Oscar, para mim, carrega o dedo invisível mas poderoso de Brad e seus aliados.

É difícil ignorar como as matérias mais recentes tentam redesenhar Brad como o homem ferido, que se recuperou do alcoolismo graças ao AA e que virou o “cara legal” do momento. Mas isso é RP puro, marketing de imagem com moldura emocional e linguagem palatável. O rosto bonito e arrependido, que supostamente aprendeu com os erros, aparece só quando convém. Na prática, os documentos judiciais e os desdobramentos da guerra sobre a vinícola Château Miraval revelam outro retrato: o de um homem estratégico, vingativo e obcecado em vencer — não apenas a disputa financeira, mas o jogo simbólico da narrativa pública.
O caso do vinhedo é emblemático. Brad e Angelina compraram juntos a propriedade em 2011, um castelo na Provence avaliado hoje em meio bilhão de dólares. O sonho inicial era transformá-lo num legado para os filhos. Mas, com o divórcio, o negócio virou campo de batalha. Angelina, por meio de sua empresa Nouvel LLC, vendeu sua parte do Château Miraval ao grupo russo Stoli em 2021. Brad, alegando que a venda violava os acordos entre eles, entrou com um processo. Mais do que o valor da transação — estimado em 65 milhões de dólares — o que está em jogo é o controle simbólico da narrativa. Ele diz que ela agiu pelas costas. Ela diz que ele tentou forçá-la a assinar um NDA para silenciá-la sobre anos de abuso.

A última movimentação judicial de Brad, exigindo que Angelina seja deposta sob juramento, é só mais um capítulo nessa novela tóxica. Ele quer que o tribunal obrigue Jolie a responder por que vendeu sua parte sem sua autorização e sustenta que ela usou a empresa como fachada para driblar restrições contratuais. Em outras palavras: Brad quer provar que Angelina burlou regras e fez o negócio pelas sombras. Mas ele mesmo é acusado, por ela, de usar o dinheiro da vinícola para fins pessoais — e, em certo ponto, de propor acordos com cláusulas de silêncio para esconder seu comportamento abusivo.
É inegável que Angelina também errou. A venda às escondidas, se confirmada, é uma jogada controversa. Mas há uma diferença entre erros e destruição deliberada. E Brad só parece satisfeito com a ruína completa da ex-mulher. Se fosse apenas pelo valor da vinícola, esse processo já teria sido encerrado há muito tempo. O que ele busca — por trás da linguagem jurídica, das cláusulas contratuais e das citações a investidores russos — é descreditar Angelina em todas as frentes possíveis: como empresária, como ex-esposa, como mãe, como figura pública.
Do lado dela, os filhos maiores já manifestaram apoio e distanciamento do pai. Mulheres em geral também tendem a apoiá-la, em parte por identificação e em parte porque sabem o que é ser julgada e desacreditada ao expor um relacionamento abusivo. Do lado dele, há uma indústria inteira — e um público masculino — que prefere a narrativa do homem reformado, que “caiu” por amor e álcool, e que agora só quer “seguir em frente”.


Mas essa guerra é menos sobre vinho e mais sobre controle. Brad pode parecer gentil no papel, mas o roteiro que ele escreve fora das telas tem tons de frieza calculada. E a Hollywood que o abraça, mesmo diante de denúncias antigas e sinais claros de manipulação, segue funcionando como sempre: perdoando seus homens talentosos e punindo mulheres que ousam confrontá-los.
No fim das contas, não estamos diante de uma batalha comum de ex-cônjuges. Estamos assistindo à lenta corrosão pública de uma mulher que ousou sair de um relacionamento tóxico e que paga o preço até hoje — inclusive com a própria carreira. E diante disso, é difícil ser neutra. Eu não sou Team Pitt. E não é porque acredito que Angelina seja perfeita, mas porque, nesta guerra dos Rosés, só um lado parece ter sido autorizado a vencer.
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Incrível como é difícil ser mulher, mesmo você sendo a Angelina (linda, talentosa, rica).
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