A relação entre Wandinha e Mortícia na segunda temporada de Wandinha é, sem dúvida, um dos pontos mais interessantes e ricos da série. A clássica dinâmica mãe e filha, com seus conflitos e tensões, ganha aqui um tratamento mais moderno, sensível e cheio de camadas, que foge do simples embate para se tornar um estudo emocional profundo.
Desde o início, fica claro que Wandinha e Mortícia são muito diferentes — e é justamente nessa diferença que reside o conflito central entre elas. Wandinha, interpretada com maestria por Jenna Ortega, é aquela jovem afiada, sarcástica, quase que em modo automático, com seu humor negro e a defesa quase impenetrável contra o mundo. Ela vê o universo em preto e branco, com certezas duras sobre quem é e o que quer, especialmente depois das experiências traumáticas e dos mistérios que a envolvem na academia Nevermore. Wandinha acredita que ser independente e distante é a melhor forma de se proteger — e isso a afasta de Mortícia, que representa um mundo diferente.

Mortícia, por sua vez, ganha vida com a elegante e poderosa Catherine Zeta-Jones, que retorna com um vigor renovado ao universo da Família Addams. Sua Mortícia é mais do que a mãe distante e misteriosa que vimos em versões anteriores; aqui, ela é uma mulher complexa, cheia de nuances, que luta para proteger a filha do que ela nem sempre compreende completamente. Mortícia tenta manter o equilíbrio entre ser uma guardiã firme e, ao mesmo tempo, dar espaço para Wandinha encontrar seu próprio caminho. Ela sabe que não pode controlar tudo, mas o medo do desconhecido e o desejo de proteger a filha criam uma tensão constante entre elas.
O conflito nasce justamente dessa tensão. Wandinha resiste às tentativas da mãe de se aproximar ou de “proteger demais”, enquanto Mortícia sente que sua filha a repele, rejeita o amor e o cuidado que ela oferece. É uma dança delicada entre independência e necessidade de afeto, autonomia e vulnerabilidade. Esse embate não é feito de grandes explosões dramáticas, mas de pequenos gestos, olhares carregados, silêncios pesados e provocações sutis. Essa escolha do roteiro torna a relação mais realista e palpável, evitando clichês e entregando um retrato mais próximo da complexidade das relações humanas.
Na primeira temporada de Wandinha, a relação entre Wandinha e Mortícia já tinha aquele toque clássico de mãe e filha com personalidades muito fortes, mas era mais contida e ainda focada em estabelecer os perfis de cada uma. Wandinha, como sempre, era a garota sarcástica, inteligente, meio sombria, muito centrada em seus próprios mistérios e na investigação dos crimes que rondavam Nevermore. Ela se mostrava bastante independente, quase isolada emocionalmente, e não dava muita abertura para a mãe.


Mortícia, com sua aura gótica típica, claramente amava a filha e tentava cuidar dela à sua maneira, mas havia um distanciamento natural, talvez pelo jeito mais reservado de ambas. A relação delas, na primeira temporada, era mais sobre essa convivência quase silenciosa, com pequenas demonstrações de afeto e cuidados, mas também muitas tensões não ditas.
O conflito era sutil e baseado principalmente nas diferenças de personalidade: Wandinha queria autonomia e foco em seus próprios objetivos, enquanto Mortícia desejava proteger e manter a família unida, mesmo que isso significasse pressionar um pouco a filha. Não tinha ainda aquela profundidade emocional maior que a segunda temporada começou a explorar, mas já dava pistas de que essa relação teria muito mais para se desenvolver.
É muito bom, aliás, rever Catherine Zeta-Jones nesse papel. Ela traz uma elegância natural e uma presença marcante, equilibrando a sobriedade com um toque de ironia que casa perfeitamente com a atmosfera da série. A química entre ela e Jenna Ortega é palpável, fazendo das cenas em que aparecem juntas momentos preciosos, onde o espectador sente toda a carga emocional e o subtexto que permeiam a relação das duas. É uma parceria que dá nova vida à mitologia da Família Addams, tornando Mortícia uma personagem mais humana, próxima e fundamental para o crescimento da Wandinha.

Ao longo da temporada, o conflito não é simplesmente resolvido com um abraço ou uma conversa franca — ele evolui de forma orgânica, com ambas as personagens aprendendo a aceitar as imperfeições da outra. Wandinha começa a enxergar os tons de cinza na mãe, entendendo que Mortícia não é só uma figura autoritária ou distante, mas alguém que também carrega suas dores e medos. Mortícia, por sua vez, reconhece a força da filha e seu direito de escolher seu caminho, mesmo que isso a afaste às vezes. Essa evolução sutil, mas poderosa, sinaliza um amadurecimento de ambas e estabelece as bases para os próximos episódios.
E essa transformação fica em aberto, com a temporada dividida em duas partes, criando uma tensão dramática que deixa o público ansioso para ver como essa relação vai se desenrolar na sequência. O final da primeira parte deixa pistas de que o conflito e a reconciliação entre mãe e filha serão centrais na continuação, trazendo ainda mais desafios e, certamente, momentos emocionantes.
Não tem problema nenhum em falar sobre spoilers aqui: o último episódio da Parte 1 fecha com um cliffhanger forte que mexe diretamente com as emoções da Wandinha, colocando-a em uma situação de vulnerabilidade extrema — algo que vai testar os limites do relacionamento dela com a mãe, Mortícia. A expectativa é que a Parte 2 traga não só a resolução dessa crise, mas também um aprofundamento maior na complexidade emocional que a série vem construindo.

O arco de Gomez: mais que um coadjuvante
Enquanto o foco emocional principal está mesmo na relação mãe e filha, não podemos deixar de falar sobre o arco do pai, Gomez Addams, interpretado por Luis Guzmán. Nesta temporada, Gomez ganha um espaço maior, e seu relacionamento com Wandinha e Mortícia passa a ser um ponto importante para entender a dinâmica familiar.
Gomez é retratado como o pilar da família, um personagem carismático, caloroso e bem-humorado que, apesar da excentricidade da família Addams, carrega um amor genuíno e uma conexão profunda com todos ao seu redor. Sua relação com Wandinha é marcada por uma mistura de afeto e orgulho, mas também de preocupação, especialmente diante dos perigos que rondam Nevermore.
O roteiro mostra Gomez tentando mediar os conflitos entre mãe e filha, muitas vezes funcionando como um elo conciliador, aquele que tenta suavizar as tensões e lembrar a todos do amor que os une. Essa figura paterna traz um contraponto mais leve e humano para a série, equilibrando o tom sombrio com momentos de descontração e ternura.
Além disso, há uma sensação clara de que o arco de Gomez será mais explorado na segunda parte da temporada, especialmente no que diz respeito aos mistérios que envolvem a família e os perigos que ameaçam seu lar. A série sinaliza que, apesar de seu jeito brincalhão, Gomez tem muito a contribuir para o desfecho emocional da trama, e sua relação com Wandinha promete ganhar ainda mais profundidade.

Conflitos, afeto e esperança para o futuro
A dinâmica entre Wandinha, Mortícia e Gomez mostra que, mesmo em uma família tão única e excêntrica quanto a Addams, os conflitos familiares são universais e humanos. A série usa essa relação para aprofundar seus personagens e tornar a narrativa mais rica e envolvente.
Ver Catherine Zeta-Jones e Luis Guzmán novamente é um presente, pois eles trazem uma força e um calor que complementam perfeitamente a intensidade de Jenna Ortega. Essa mistura de tensão, amor, humor e mistério mantém a série viva, fresca e cheia de promessas para o que vem por aí.
Com tantos elementos emocionais e narrativos em jogo, a segunda parte da temporada promete ser um momento crucial para o amadurecimento da Wandinha, para a reconciliação familiar e para o desfecho dos mistérios que mantêm o público vidrado.
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