Há um fio tênue que liga muitos dos escândalos mais rumorosos dos últimos anos — e ele costuma passar pela sensação de impunidade. No caso de Ghislaine Maxwell, esse fio chega ao fim da linha: o Supremo Tribunal dos Estados Unidos recusou seu último recurso, encerrando oficialmente uma das histórias mais sinistras e reveladoras da elite americana recente.
Maxwell, condenada a 20 anos de prisão por tráfico sexual e exploração de menores, alegava que o governo havia quebrado um acordo feito com Jeffrey Epstein em 2007, quando o bilionário foi julgado na Flórida por acusações semelhantes. Segundo a defesa, aquele acordo de “não prossecução” — que dizia proteger “co-conspiradores potenciais” — deveria se aplicar também a ela. Em outras palavras, se Epstein havia negociado imunidade para si e seus cúmplices, Ghislaine deveria ter sido incluída nesse pacote. O argumento, embora engenhoso, foi rejeitado em todas as instâncias. O Supremo, agora, se recusou até mesmo a analisar o caso, o que equivale a um ponto final.

A decisão reafirma o que já parecia claro: o sistema judicial americano não pretende reabrir as feridas do caso Epstein. Desde a morte dele em 2019 — oficialmente um suicídio, extraoficialmente uma ferida aberta de suspeitas —, as investigações continuam orbitando em torno do que foi escondido e de quem, afinal, sabia de tudo. Ghislaine, que durante anos se apresentou como confidente, parceira e facilitadora de Epstein, virou o rosto visível de um império de abuso que se disfarçava de glamour. Hoje, cumpre pena em uma prisão federal na Flórida e, com a recusa do Supremo, esgota praticamente todas as chances de rever sua sentença. Restam apenas medidas extraordinárias, como habeas corpus por violação de direitos ou um improvável pedido de clemência presidencial.
No apelo rejeitado agora, não houve revelações inéditas — apenas a tentativa de reinterpretar o acordo original de Epstein, como se nele estivesse a chave para reverter toda a história. Mas o que o caso expôs vai muito além de tecnicalidades jurídicas. A defesa de Ghislaine insistiu na tese de que o Estado americano havia prometido algo que depois descumpriu; o tribunal, por outro lado, sinalizou que nenhuma promessa feita a Epstein poderia servir de escudo para ela. O peso simbólico é evidente: o homem morre em circunstâncias suspeitas, e a mulher que o ajudou a sustentar sua teia de poder é quem paga sozinha a conta.
E, nesse caso, é difícil contestar o veredito. Pelo que se sabe hoje — pelos testemunhos, pelos documentos e pela extensão do que foi exposto no processo — não há dúvidas sobre o papel ativo e decisivo de Ghislaine Maxwell no sistema de abusos de Epstein. Ela não foi uma testemunha impotente, nem uma cúmplice passiva. Foi uma peça essencial, responsável por recrutar, manipular e acobertar crimes que devastaram dezenas de vítimas. A sentença, portanto, me parece não apenas justa, mas necessária — uma resposta mínima a uma história de horror que o poder tentou apagar.


O contraste com o caso de Sean “Diddy” Combs é inevitável. O rapper e magnata da música também foi acusado de crimes sexuais graves, inclusive tráfico e exploração, e chegou a ser preso em um momento em que o público esperava uma espécie de “novo julgamento da elite”. No entanto, o desfecho foi outro: Diddy foi absolvido das acusações mais pesadas e condenado apenas por delitos menores — o transporte de mulheres com fins de prostituição. Pegou pouco mais de quatro anos de prisão, um veredito que muitos consideraram brando diante da gravidade das denúncias.
A diferença entre os dois casos não está apenas nos fatos, mas no poder de manipular a narrativa. A defesa de Combs foi exemplar em transformar o chocante em “nada” — em diluir um caso de violência e coerção em um debate sobre consentimento, contratos e reputações. O resultado foi um julgamento que, na prática, garantiu que ele jamais seja verdadeiramente responsabilizado pelos crimes que cometeu. Diddy saiu da tempestade quase intacto, com o discurso de que a justiça foi feita, enquanto o sistema, mais uma vez, se mostrou complacente com o homem que controla a própria imagem.
Maxwell, isolada e desprezada, representava a engrenagem oculta de um sistema; Diddy, a face pública de um império que ainda movimenta fortunas. Ela virou símbolo da culpa coletiva; ele, do poder individual que reescreve o próprio destino. O caso Epstein está formalmente encerrado — ao menos no que diz respeito às acusações criminais. Mas seus fantasmas continuam pairando sobre cortes e documentos ainda selados. O de Maxwell, por outro lado, chega agora ao que parece ser o capítulo final: sem apelos pendentes, sem ilusões de reviravolta. Ela permanece presa, sem a rede de proteção que um dia acreditou ter.
No fundo, o contraste entre Maxwell e Diddy expõe o que talvez seja o maior paradoxo da justiça americana: a diferença entre ser um símbolo e ser um astro. Um paga pelo pecado coletivo, o outro se beneficia do espetáculo individual. No tribunal da opinião pública, ambos já foram julgados — mas só um ficará décadas atrás das grades. E não é Sean Combs…
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