Desde que a Paramount anunciou, em 2023, que havia adquirido os direitos para refilmar Um Corpo que Cai (Vertigo), o clássico de Alfred Hitchcock de 1958, a notícia pareceu menos uma confirmação e mais uma provocação. Refazer Hitchcock é quase heresia; refazer Um Corpo que Cai é flertar com o impossível. O projeto, no entanto, segue vivo — e, segundo o próprio Steven Knight, agora está literalmente “ocupando suas horas de vigília”.
Em nova entrevista concedida em março de 2025, Knight confirmou que o roteiro está em andamento e descreveu o processo como uma mistura de fascínio e insanidade. “Está girando na minha cabeça enquanto falo. Tive flashbacks de cerca de uma hora atrás, quando estava escrevendo”, contou. “As pessoas consideram Vertigo o melhor filme já feito. Então, você teria que ser um idiota para adaptá-lo — e é isso que eu sou.” A autodepreciação é uma forma de humor, mas também um reconhecimento de que mexer nesse material é como “desarmar uma bomba da Segunda Guerra Mundial”: cada linha do roteiro original é um fio delicado, pronto para explodir ao menor movimento.

A boa notícia para os fãs é que Knight finalmente está com tempo para mergulhar no projeto. Depois de concluir o longa de Peaky Blinders — agora em fase de pós-produção — e encerrar sua colaboração com a Lucasfilm no projeto sobre o retorno de Rey ao universo Star Wars, ele voltou sua atenção integral ao remake de Vertigo. Paralelamente, Knight também está à frente do novo 007, o que torna sua agenda digna do próprio Hitchcock em crise de controle criativo.
Já Robert Downey Jr. continua confirmado como protagonista e produtor, interpretando o papel que foi de James Stewart, o ex-detetive John “Scottie” Ferguson, atormentado pela vertigem e por uma obsessão feminina impossível. Downey, no entanto, também está novamente imerso em outro universo — o da Marvel, onde deve aparecer como Doctor Doom, o que naturalmente pode atrasar o cronograma da nova versão de Vertigo.
Outro detalhe curioso: Knight pode estar se inspirando não apenas no filme de Hitchcock, mas também na obra literária original, D’entre les morts (1954), de Boileau-Narcejac — o mesmo duo francês que escreveu Les Diaboliques. Isso abre espaço para uma leitura mais psicológica e menos literal do enredo, talvez explorando o que o romance tinha de mais soturno: o delírio da paixão e o apagamento feminino como forma de poder.


Ainda sem diretor anunciado e sem previsão de filmagens, o remake continua em fase de desenvolvimento. O entusiasmo de Knight indica que o roteiro deve estar ganhando corpo, mas é improvável que vejamos o novo Vertigo antes de 2027.
E talvez isso seja adequado. Como o original, o projeto habita o espaço da vertigem — aquela fronteira entre o desejo de reviver e o perigo de substituir. Vertigo é, afinal, sobre o olhar que tenta recriar o que perdeu, sobre a ilusão que destrói e o amor que se dissolve no reflexo. E qualquer tentativa de refazê-lo carrega o mesmo risco do enredo que tenta emular: confundir a obsessão pela perfeição com o medo de encarar o vazio.
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