Oitenta e Cinco Anos de Pinóquio: Uma Estrela-Guia Que Ainda Brilha

O lema principal do universo Disney é “sonhos e desejos podem virar realidade“, uma idéia que está nas canções de Branca de Neve, Cinderella, A Bela Adormecida assim como em Pinóquio. No entanto, é a canção desse filme, que em 2025 completou 85 anos de lançamento. Isso mesmo, quem não se emociona ou canta When You Wish Upon A Star?

Depois de fazer história com Branca de Neve e os Sete Anões, Pinóquio ampliou, para sempre, o que a animação podia ser. Lançado em 23 de fevereiro de 1940, o segundo longa-metragem animado dos estúdios Disney transformou a história de um boneco de madeira que deseja ser um menino de verdade em uma obra de arte completa: emocional, sofisticada e inesquecível. Celebrado por seus visuais deslumbrantes e por suas canções icônicas, o filme sobrevive não apenas por sua técnica, mas pela delicadeza com que fala sobre sonhos, escolhas e humanidade.

Inspirado no romance infantil As Aventuras de Pinóquio, de Carlo Collodi (1883), o filme conquistou o mundo e consolidou a Disney como uma potência criativa capaz de reinventar a linguagem da animação — e de traduzi-la em emoção pura.

Uma história de sonhos, moralidade e magia

No centro da narrativa está uma jornada atemporal de autoconhecimento, tentação e redenção. Geppetto, um artesão solitário, olha para uma estrela e deseja que seu boneco criado com tanto carinho possa ganhar vida. A Fada Azul atende ao pedido, mas impõe um desafio: Pinóquio só se tornará um menino de verdade se provar ser honesto, corajoso e generoso.

Com o Grilo Falante assumindo espontaneamente o papel de consciência, Pinóquio parte para um mundo que mistura maravilha e perigo. Cada desvio ensina algo: o brilho enganoso do palco de Stromboli, a liberdade sedutora (e sinistra) da Ilha dos Prazeres, e as profundezas literais e simbólicas que ele precisa enfrentar para salvar Geppetto de Monstro. Poucas animações equilibram tão bem inocência e escuridão.

Um triunfo técnico com coração musical

Após o impacto revolucionário de Branca de Neve, a Disney avançou ainda mais. Pinóquio trouxe algumas das animações de personagem mais sofisticadas da época, além de efeitos impressionantes com a câmera multiplano e cenas de água que pareciam impossíveis para 1940.

A ambição visual encontrou eco na trilha sonora. A parceria entre Leigh Harline, Paul J. Smith e Ned Washington resultou em um conjunto musical rico e emocional. No centro dele está “When You Wish Upon a Star”, cantada por Cliff Edwards na voz calma e calorosa do Grilo Falante. A canção venceu o Oscar e se tornou, para sempre, o hino da Disney — uma ode à esperança, ao desejo e à transformação. O filme ainda levou o prêmio de Melhor Trilha Sonora, confirmando seu brilho artístico.

Vozes que deram vida ao imaginário

Os personagens se tornaram imortais graças a um elenco de vozes brilhante. Dickie Jones emprestou energia e inocência a Pinóquio; Christian Rub trouxe doçura ao solitário Geppetto; Cliff Edwards fez do Grilo Falante uma das criações mais queridas da Disney; e Evelyn Venable deu leveza e luminosidade à Fada Azul. Aliás, é comum (como eu mesma fiz a confusão), atribuírem à Marge Champion ter sido a modelo para a Fada (com Evelyn a dublando), mas não… ela foi mesmo Evelyn.

Outro erro comum é atribuir a Fred Astaire a inspiração do Grilo Falante: ele foi desenhado em cima de seu dublador, conhecido como “Ukulele Ike”, foi um cantor pop, músico e ator americano famoso por seu talento no ukulele e por seu trabalho de voz para personagens animados. Sua carreira também incluiu o vaudeville, diversos filmes e trabalhos de dublagem para outros personagens da Disney, como Dandy Crow em Dumbo.

Do outro lado da balança moral, Charles Judels (como Stromboli e o Cocheiro) e Walter Catlett (como João Honesto) garantiram humor, ameaça e tensão dramática.

Cenas que entraram para a história do cinema

Algumas sequências de Pinóquio se tornaram parte do imaginário coletivo. A transformação dos meninos em burros na Ilha dos Prazeres continua sendo uma das mais perturbadoras cenas da Disney, um verdadeiro pesadelo moral. Já o clímax dentro e fora de Monstro combina emoção e espetáculo com uma animação surpreendentemente moderna.

Embora o filme tenha enfrentado dificuldades de bilheteria no lançamento, por conta da Segunda Guerra Mundial limitar sua distribuição, as reestreias ao longo das décadas permitiram que encontrasse seu público e seu valor. Com o tempo, Pinóquio não apenas ganhou reconhecimento; tornou-se um clássico definitivo.

Um legado que não desaparece

Apesar do início instável, Pinóquio se renovou mais recentemente, em uma restauração primorosa em 4K disponível no Disney+. Inspirou adaptações, reimaginações e até leituras filosóficas sobre o que significa tornar-se humano.

Hoje, Pinóquio permanece como prova do poder da animação e da força de uma boa história. Seu convite a acreditar em algo maior — honestidade, coragem, sonhos — continua tão vivo quanto em 1940. Oito décadas e meia depois, o pequeno boneco de madeira ainda brilha intensamente, como uma estrela que insiste em iluminar quem olha para cima.


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