Há quase 50 anos, um grupo de atores londrinos, que se conheceu trabalhando em Hair, estreou um musical pequeno, sem investimento e que satirizava clássicos de ficção científica e terror. Acertaram em cheio.
Rocky Horror Show, escrito pelo ator e compositor Richard O’Brien, tornou-se um fenômeno quase imediatamente ao entrar em cartaz no Royal Court Theatre. Com a plateia reduzida e sessões esgotadas, todos queriam assistir ao espetáculo abertamente cafona, transgressor, violento e divertido.

O elenco original de Rocky Horror Show em Londres, em 1973
A trama acompanha Brad Majors e Janet Weiss, jovens recém-noivos que pretendem convidar seu professor, Dr. Everett Scott, para ser padrinho do casamento. No caminho, são obrigados a pedir ajuda em um castelo após um pneu furar. Mas a noite não é qualquer uma: eles acabam recebidos pelo cientista louco e sedutor Dr. Frank ’n Furter; seus servos e amantes Riff Raff e Magenta; sua assistente Columbia; além de um grupo de excêntricos convidados. Ao amanhecer, Brad e Janet terão perdido não apenas a inocência, mas muitas outras coisas.
As melodias fáceis e contagiantes — RHS, como os fãs chamam — somadas às referências geek e às transgressões sexuais explícitas, foram o combustível da obra. Mas sua alma sempre esteve em sua maior estrela: Tim Curry.

A voz grave, a fluidez sexual, a agilidade para oscilar entre o cômico, o assustador e o emocionante — são apenas alguns dos elementos que fizeram da sua interpretação de Dr. Frank ’n Furter um marco. Curry merecidamente se tornou estrela no teatro, mas por pouco não abandonou a carreira de ator para se dedicar apenas à música.

Depois da temporada em Londres, ele levou o espetáculo para Los Angeles, onde foi idolatrado. Mas o sucesso não se repetiu na Broadway: o musical foi retirado de cartaz após apenas 45 apresentações, apesar da indicação de Curry ao Tony. A decepção foi tão grande que ele pensou em desistir de tudo. Foi nesse breve intervalo que Mick Jagger chegou a ser cogitado para o papel no cinema. Felizmente, Curry voltou atrás e definiu para sempre a imagem do personagem.
Na adaptação cinematográfica, apenas os papéis de Brad e Janet mudaram. Steve Martin chegou a fazer teste para Brad, mas o papel ficou com Barry Bostwick. Janet acabou nas mãos de uma jovem Susan Sarandon, ainda iniciante.

Nos bastidores, houve pouco drama. Patricia Quinn (Magenta) ficou frustrada ao ver sua canção principal, Science Fiction, entregue ao próprio Richard O’Brien, restando a ela apenas a famosa dublagem de seus lábios. Curiosamente, sua boca se tornaria um dos ícones mais duradouros da cultura pop.
Até o príncipe Charles entrou na história: Patricia, que mais tarde se tornaria Lady Quinn-Stephens, revelou que o então herdeiro do trono era fã de Rocky Horror Show.

Do palco para o cinema
Assim como a peça, o filme de 1975 é propositalmente “tosco”, com exageros típicos dos filmes B de terror que ele mesmo homenageia. Suas mensagens eram ousadas para a época — Don’t Dream It, Be It tornou-se um lema libertário —, mas foi com a coreografia Time Warp que Rocky Horror entrou definitivamente para a história do cinema.
Os figurinos e maquiagens também marcaram época, influenciando a estética punk. Mas foi a tradição das sessões de meia-noite que transformou o longa em culto.
Apesar de massacrado pela crítica — em parte porque musicais estavam em baixa e seus temas eram considerados “indigestos” —, The Rocky Horror Picture Show foi resgatado pelos fãs. Em Nova York, plateias não apenas lotavam sessões da madrugada, mas interagiam com a tela: repetindo falas, jogando arroz, acendendo velas, levantando guarda-chuvas para simular chuva, e claro, fantasiando-se como seus personagens favoritos.

Essas sessões criaram um fenômeno artístico participativo que se espalhou pelo mundo muito antes das redes sociais. Graças ao público, Rocky Horror permanece em cartaz até hoje em cinemas selecionados, com o recorde absoluto de maior longevidade da história do cinema.
No Halloween, é inspiração obrigatória para fantasias e segue como um dos títulos mais exibidos. Em 2016, ganhou um especial televisivo com Laverne Cox como Frank ’n Furter. Embora maravilhosa, é quase impossível superar o brilhantismo de Tim Curry.
Curry, aliás, participou da gravação, já em cadeira de rodas e com dificuldades de fala após um AVC em 2012. Em 2020, ele foi anunciado como presença em um evento online para celebrar os 45 anos do filme — um reencontro marcado pela emoção.

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