Há quase 50 anos, um grupo de atores londrinos, que se conheceu trabalhando na peça Hair, estreou um musical pequeno, sem investimento e que satirizava clássicos de sci-fi e de terror. Acertaram em cheio.
Rocky Horror Show, a peça, foi escrita pelo compositor e ator Richard O’Brien e virou um fenômeno quase assim entrou em cartaz no Royal Court Theatre. Com poucos lugares, a lotação esgotava rapidamente e todos queriam assistir ao musical abertamente cafona, transgressor, violento e divertido.

A história acompanha Brad Majors e Janet Weiss, dois jovens que acabaram de ficar noivos e que querem convidar seu professor, Dr. Everett Scott, para ser padrinho do casamento. No caminho da visita, eles são obrigados a pedir ajuda em um castelo quando o pneu do carro fura. Só que chegam em uma noite especial e são recebidos pelo cientista louco, travesti e transexual, Dr. Frank ‘n Furter; seus servos, os irmãos e amantes Riff Raff e Magenta; sua assistente, Columbia, e um grupo de pessoas muito esquisitas. Ao fim da noite, Brad e Janet terão perdido a inocência (entre muitas coisas).
As melodias fáceis e contagiantes de RHS, como os fãs chamam, são um dos elementos positivos da obra. Repleto de referências geeks e transgressões sexuais explícitas, a alma do musical está em sua maior estrela, o ator Tim Curry.

A voz grave, a fluidez sexual, a agilidade que consegue mudar de divertido para apavorante e depois emocionante são apenas alguns dos elogios que se pode fazer para o brilhantismo artístico de Tim Curry como Dr. Frank ‘n-Furter. Merecidamente virou uma estrela no meio teatral, mas quase abandonou a carreira para seguir apenas como cantor. É que, depois de Londres, Tim foi para Los Angeles com Rocky Horror Show, onde igualmente foi idolatrado. Quando o musical chegou à Broadway, estavam tranquilos, mas veio o susto.

O fracasso foi tão retumbante que o musical saiu de cartaz após 45 apresentações. Tim Curry foi indicado ao Tony, mas ficou tão desgostoso que pensou em abandonar tudo. Por isso, por um breve momento, Mick Jagger quase conseguiu fazer o papel de Dr Frank ‘n-Furter no cinema. Com a volta de Tim para o papel, fica apenas na imaginação como seria.
Do elenco original, apenas os papéis de Brad e Janet mudaram. Steve Martin fez um teste para o papel, mas perdeu para Barry Bostwick. Janet foi para uma iniciante Susan Sarandon.

Nos bastidores houve pouco drama. Patricia Quinn, que interpreta Magenta, ficou frustrada porque sua principal canção, Science Fiction, foi tirada dela para que o próprio autor, Richard O’Brien, cantasse. Sobrou para ela dublá-lo apenas com seus lábios. Hoje, a boca de Patricia é uma das principais referências da cultural pop.

Sabia que o príncipe Charles é fã de Rocky Horror Show? Pois é, mas ele confessou para Patricia, que virou Lady depois de se casar com Lord Robert Stephens.
Bom, voltando ao filme.
Assim como a peça, o filme é propositalmente “tosco”, com exageros típicos dos filmes de terror do tipo B, que homenageam na canção Science Fiction.
São várias as mensagens – na época- transgressoras, como Don’t Dream It, Be it (Não sonhe, seja) mas a cena do baile. onde dançam time-warp é uma das mais famosas do cinema.

Os figurinos e maquiagens de Rocky Horror Show influenciaram fortemente a moda punk também. Mas a tradição da sessão maldita, ou melhor, à meia-noite foi uma das coisas que popularizaram o filme.
Mesmo tão reverenciado, o filme, Rocky Horror Picture Show, naturalmente foi massacrado pela crítica pois seus temas não eram comuns na época e musicais estavam em baixa. Porém os fãs em Nova York passaram não apenas a lotar as sessões de meia-noite, eles passaram a interagir com a tela, repetindo diálogos, levando elementos para participar da narrativa como jogar arroz no casamento, acender velas na escuridão, se proteger da chuva. Mais ainda, se fantasiavam como as personagens e dançavam também.
As sessões da meia-noite viraram uma atração artística e criaram um fenômeno teatral e participativo que foi ganhando adeptos. Logo a mania se alastrou pelo mundo e isso muitos anos antes da invenção das redes sociais. Por conta dos fãs, Rocky Horror Picture Show permaneceu em cartaz até hoje em alguns cinemas, garantindo o recorde inquestionável para o filme.
Na época de Halloween é uma das mais inspirações para fantasias e um dos filmes preferidos também. Virou um especial de TV em 2016, com Laverne Cox como Dr Frank ‘n Furter. Apesar de maravilhosa, é quase impossível superar o brilhantismo de Tim Curry no papel.
Tim, aliás, participou da gravação, mas ele está em uma cadeira de rodas e com dificuldade de fala depois de ter sofrido um derrame, em 2012. Em 2020 ele prometeu participar do evento online pelos 45 anos do filme. Será emocionante.

Se você gosta de música ou cinema, também vai gostar de:
E se gosta de Halloween, veja também