Petipa Apaixonado

Há mais de dois séculos que Marius Petipa é o sinônimo do existe de mais clássico dentro do balé clássico, tendo assinado algumas das obras mais importantes e dançadas até hoje. O que poucos lembram é que suas aventuras amorosas também influenciaram indiretamente a História da Dança.

Marius, a princípio, era o menos talentoso dentro de uma família de dançarinos, liderada pelo pai, Jean, e famosa pelo irmão, Lucien. Lucien, além de ter sido um dos maiores bailarinos em seu tempo, conquistou sua parceira, Carlotta Grisi, em uma história que merece um post à parte. No entanto, foi seu irmão caçula, Marius, anos antes de se transformar em um dos maiores coreógrafos de todos os tempos, que deu piruetas escandalosas dignas de livros de romance. Quem diria! Lembra do filme Shakespeare Apaixonado? Pois então…

Por conta de suas carreiras, os Petipas viajavam bastante. Em 1844, Marius, com apenas 26 anos e após uma desastrada temporada em Bordeaux, conseguiu um emprego na Espanha, como partner da bailarina Marie Guy-Stéphan, que tinha relativa fama na época.

Embora dançasse papéis de destaque, Marius chegou em Madrid mais reconhecido como um bailarino-ator e excelente parceiro do que um virtuoso clássico. Na Espanha, pôde conhecer de primeira mão o rico estilo cultural e ficou para sempre influenciado por ele.

A vida pessoal do jovem Marius era confusa, com jogos, dívidas e romances. Alguns meses depois que chegou em Madrid, Marius se apaixonou por Carmen Mendoza y Castro. Embora ela já tivesse 23 anos, era considerada menor de idade na Espanha. O namoro começou quando o dançarino foi contratado pela mãe dela, María de la Concepción, a Marquesa de Villagarcia, para dar aulas para a filha. Entre passos e abraços, começou a novela.

O envolvimento de Marius e Carmen foi descoberto pelo amante da Marquesa, o Conde francês de Gabriac, que imediatamente informou à mãe da jovem. Revoltada, María não apenas baniu Marius de sua casa como tentou suborná-lo para deixar o país. Para piorar as coisas, o Conde seguiu se metendo e ameaçou dar uma surra no bailarino. Apaixonado e ousado, Marius o desafiou para um duelo. Lembrando que duelar na Espanha já era um crime desde aquela época.

Os relatos do duelo são confusos, e não muito a favor de Marius. Ele “venceu”, tendo atirado no rosto do Conde (que sobreviveu), mas apenas porque além de muita sorte (o Conde atirou primeiro, mas a arma falhou), teria desrespeitado as regras. Ele sugeriu ao oponente para tentar atirar novamente, mas antes que ele o fizesse Marius atirou e o acertou. Segundo o coreógrafo, foi por causa do duelo que teve que deixar a Espanha, mas documentos provam que mesmo tendo infringido a lei, Marius não foi preso e dois dias depois estava nos palcos, normalmente.

Mas não pára aí.

O duelo e a proibição familiar não separaram os amantes. Marius e Carmen decidiram fugir juntos e deixaram a Espanha. Perseguidos, não puderam ficar na França e escolheram a Inglaterra como destino final. A felicidade durou pouco e dois meses depois foram localizados. Como ainda não tinham se casado no papel, Carmen foi “devolvida” à Espanha e Petipa voltou para França, pobre, desempregado e desolado. Foi nesse estado que recebeu o convite de ir para o Ballet Imperial, em São Petersburgo, Rússia. Aceitou e nunca mais voltou para o Oeste, fazendo História e se tornando um coreógrafo imortal.

Já Carmen, sua história não foi tão feliz. Ela se casou alguns anos depois com um Raúl Grandemont. Ela foi Marquesa, após sua mãe, mas não teve filhos e o título foi repassado para parentes.

Na Rússia, Marius escreveu a história da dança. Muitos de suas obras tinham referências espanholas. Conhecendo sua história, faz pensar na cena romântica de Basílio e Quitéria fugindo de Camargo. No balé, o amor vence. A realidade, porém, parece o filme, não?

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