Em 1986, John Hughes escreveu e produziu A Garota de Rosa-Shocking (Pretty In Pink), mais uma vez estrelado por sua musa, Molly Ringwald, e também, de certa forma, repetindo a fórmula romântica que já tinha usado, meio “Cyrano de Bergerac“, onde o feio (geek) ensina ao bonito a conquistar a garota. A Garota de Rosa-Shocking (Pretty In Pink) foi dirigido por Howard Deutch e encarou um problema sério. SPOILER ALERT, o público não gostou do final original e por isso Howard refilmou para colocar a versão esperada. A decisão causou, claro, uma briga com John Hughes, que decidiu bancar a refilmagem da história como queria contá-la.

Na proposta original, Philip ‘Duckie’ Dale, o geek carismático que fez de Jon Cryer a melhor coisa do filme, é o escolhido por Andie (Ringlwald) e não é preterido pelo rapaz bonito e rico. Para contar a história como queria, nasceu Alguém Muito Especial (Some Kind Of Wonderful), que com os anos virou um clássico cult, citado em vários filmes e de certa forma maior do que A Garota de Rosa-Shocking (Pretty In Pink) em popularidade.

Como os bastidores não são fáceis, Alguém Muito Especial (Some Kind Of Wonderful) tem várias e deliciosas trivias. A começar pela direção. Depois da briga, John não queria mais trabalhar com Howard e chamou Martha Coolidge para o projeto. Ela escalou o elenco, começou a filmar, mas acabou sendo afastada implacavelmente e substituída pelo mesmo Howard Deutch, agora de novo amigo de John depois do mega sucesso de bilheteria de A Garota de Rosa-Shocking (Pretty In Pink).

A trama de Alguém Muito Especial (Some Kind Of Wonderful) era a mesma de A Garota de Rosa-Shocking (Pretty In Pink), a menina de origem simples se apaixona pelo rapaz rico da escola e o amigo geek secretamente apaixonado por ela, a ajuda conquistar o amado. Final Feliz. Invertendo os gêneros, passou a ser sobre o rapaz pobre que gosta da menina rica e a amiga geek o ajuda a conquistá-la. Porém, no processo, ele descobre que o verdadeiro amor está na amiga, não no crush. Final Feliz. A versão de Martha Coolidge estava indo para uma vertente mais soturna que desagradou John.

Se Alguém Muito Especial (Some Kind Of Wonderful) foi a reconciliação de Howard e John foi também o filme que marcou o rompimento entre o produtor e sua musa. Molly Ringwald foi até capa da revista Time, era a atriz mais popular de Hollywood, mas se recusou a fazer Alguém Muito Especial (Some Kind Of Wonderful) porque queria papéis mais adultos. Sem ela, Howard convidou a atriz Lea Thompson, que também tinha recusado participar quando Martha a chamou antes, mas já tinha mudado de idéia. A atriz e o diretor se apaixonaram nesse filme e estão casados até hoje. Destino?

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Para o papel de Watts escolheram Mary Stuart Masterson, que estava em ascensão e tinha feito o elogiado Caminhos Violentos (At Close Range) no ano anterior. No papel masculino principal, Martha convidou Michael J. Fox, mas o astro recusou o papel. O papel acabou nas mãos de Eric Stoltz. Eric e Lea quase estrelaram juntos De Volta Para o Futuro (mas ele foi substituído justamente por Michael J. Fox depois de já ter começado a gravar), onde mais uma vez o círculo das trocas de cadeiras nos bastidores fazem de Alguém Muito Especial (Some Kind Of Wonderful) um mar de trivia.

Naturalmente por ser parecido com o sucesso anterior, Alguém Muito Especial (Some Kind Of Wonderful) não fez a mesma bilheteria, mas é citado e copiado em vários filmes e séries, virando um cult adorado por diferentes gerações. Sua trilha sonora é mais uma das mais inspiradas. John Hughes costumava a selecionar as canções antes de escrever o roteiro, por isso se encaixavam tão bem. O melhor presente no entanto foi que o processo de filmagem acabou gerando outro clássico: Curtindo a Vida Adoidado (Ferris Bueller’s Day Off). É que ao reescrever o roteiro, John teve a idéia que veio a ser uma de suas peças mais importantes do cinema. Claro, isso é outro post…