40 anos de Mamãezinha Querida

Biopics, biografias em filmes, é uma fórmula tão antiga quanto o cinema. Rende Oscars e homenagens, mas nem sempre agrada aos biografados ou seus familiares.

Há uma nova onda de biopics, estimuladas pelo sucesso de Bohemian Rhapsody, e mais do que nunca se fala de controle de narrativa para falar sua verdade. Quando a verdade passa a ser algo de posse, fica a questão: quem tem razão?

Por exemplo, a princesa Diana mudou para sempre a narrativa da Família Real, estabelecida com cuidado pelo príncipe Philip para fortalecer a Rainha Elizabeth II. Na versão dos Windsors, Diana era uma pessoa instável e imatura. Ela os colocou como insensíveis e inseguros em sua biografia, que é, em parte, a linha usada para The Crown e Spencer.

Porém, o filme que manchou para sempre a imagem de uma lenda completa 40 anos em 2021: Mamãezinha Querida. Adaptado do best-seller de mesmo nome, escrito por Christina Crawford sobre sua mãe adotiva, a lenda Joan Crawford, a imagem da atriz nunca mais se recuperou. Publicado após a morte dela, assumidamente como uma vingança por parte de Christina, que foi excluída de seu testamento, o livro mostra uma Joan doentia, abusiva e sociopata. E, diante do testemunho da própria filha, nenhum amigo conseguiu mudar a percepção que se estabeleceu.

O filme e Faye Dunaway “incorporada” e Jessica Lange em Feud

O filme foi estrelado por uma exagerada Faye Dunaway, em uma atuação inesquecível que divide fãs e críticos. Segundo a atriz, cujo temperamento explosivo também é marcado pelo filme, ela queria amenizar as críticas do livro em respeito à Joan, mas foi “proibida”.

Os bastidores da produção foram tumultuados. Faye brigava com todos, maltratava a equipe e levava à sério as cenas de agressão. De certa forma, depois dela, nenhum cabide de arame será visto da mesma maneira novamente…

Em geral, o que todos concordam é que o roteiro é fraco por não explicar as motivações da atriz para maltratar os filhos. Talvez porque tenha tido fonte sem o distanciamento necessário para contar a história. Em 2016, Faye Dunaway, que se recusa a falar do filme desde o lançamento, alegou em entrevista que Mamãezinha Querida feriu sua carreira e vida. “À noite, em casa eu sentia Joan Crawford comigo no quarto, essa trágica e atormentada alma que me cercava, era como se ela não tivesse descanso”, declarou.

Mesmo os defensores não conseguiram mudar a visão negativa sobre a lenda. Em Feud, ela foi interpretada por Jessica Lange enquanto Susan Sarandon interpretou sua inimiga, Bette Davis.


A série remonta os bastidores do filme O que Aconteceu com Baby Jane? e como as duas atrizes competiram para sobrepor à outra. Joan, mais uma vez, não é retratada como uma pessoa agradável ou fácil.

A “verdadeira” Joan

Joan Crawford, que antes de Mamãezinha Querida inspirou a Rainha Má de Branca de Neve e os Sete Anões, é uma das maiores lendas de Hollywood. Nascida Lucille Fay LeSueur, sua idade certa nunca foi esclarecida. Joan dizia que era de 1908, mas Christina insiste em seu livro que na verdade era de 1904. De qualquer forma, começou como dançarina e se apresentava na Broadway antes de estrear no cinema, em 1925, como dublê de Norma Shearer, a maior estrela da época.

Lucille trocou o nome artístico para Joan Crawford. Ultra e abertamente ambiciosa por fama e fortuna, ela investiu em marketing para criar seu nome e em poucos anos já era reconhecida no mesmo patamar que a própria Norma Shearer e Greta Garbo.

Sua persona nas telas sempre transpareciam sua força, mas o papel que rendeu seu esperado Oscar de Melhor Atriz foi Mildred Pierce (refilmado por Kate Winslet há alguns anos) onde interpretou a mãe que faz de tudo para salvar a filha ingrata e má.

Os casamentos de Joan a ajudaram a avançar na carreira e a ter fortuna. Um deles era o filho de Douglas Fairbanks e enteado de Mary Pickford, os atores mais influentes da época. Também se casou com Alfred Steele, dono da Pepsi-Cola (a atriz o substituiu no board da empresa após a morte do marido).

Quando a carreira no cinema “acabou”, nos anos 1970s, ela migrou para TV. Steven Spielberg estava começando como diretor e só tem elogios à generosidade de Joan com ele, mas a estrela estava já em seus dias finais. Faleceu em 1977.

Joan casou quatro vezes e adotou cinco filhos. Os dois primeiros, Christina e Christopher, nunca tiveram boa relação com ela, como ficou claro com o livro, Mamãezinha Querida, publicado após a morte da atriz.

No final das contas, não há como ter certeza sobre a verdadeira lenda. Joan Crawford, como muitas estrelas de sua época, deve ter sido difícil. Mas quem ficou com a última palavra foi mesmo sua filha.

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